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Gabriel

Desci do quarto com a cara de sono, morto, cansado e cheio de ódio por Bianca ter me feito passar vontade ontem. A programação de hoje é a mais longa desses dias, temos revisão, entrevista, treino, fisioterapia e a programação da noite que ainda esta indefinida.

Eu estava morrendo de saudades das minhas meninas, acredito que a pior parte de ser jogador é deixar elas em casa e muita das vezes não ter previsão do dia do retorno. Confesso que por mais que aqui esteja agradável e seja bom estar com a galera, mais nada me dá a sensação de estar em casa, só sinto isso com elas.

- Eai Barbosa, chegou tarde.- Pedro, o cara que sempre acorda primeiro que qualquer outra pessoa.

- Não dormi muito bem.- expliquei me sentando na mesa junto com os outros- Qual é o papo da vez?

- Notícia boa pra vocês.- Spindel falou se aproximando com o celular no ouvido, provavelmente em ligação com alguém- Depois das 19:00 vocês estão livres e o horário de recolher é as 00:00.  Não façam besteira, por favor!

Após isso ele deu de ombros e saiu do refeitório. Parecia que era somente isso que a galera precisava escutar, a mesa que antes já não estava quieta, agora então estava sem limites.

- Tem uma casa de aposta logo perto daqui, o Gabriel vai gostar.- Bruno falou e todos da mesa riram, inclusive eu.

- Vocês não perdem oportunidade mesmo, né?- me ajeitei na cadeira.

- Que tal uma balada?- Varela sugeriu.

- Balada a gente vai qualquer dia, precisamos aproveitar a ilustre oportunidade de ter uma noite livre.- Jean interrompeu antes mesmo que alguém concordasse - Tem uma casa vermelha bem falada por aqui, se for pra curtir, vamos curtir de verdade.

- O que é casa vermelha?- Pedro questionou.

- O que será, ein?- ironizei- Tô fora galera, isso aí não é pra mim.

- Querendo pagar de bom moço agora, Gabriel?- Jean riu- Você já foi melhor.

- Se ao menos você tivesse respeito pela sua mulher, me entenderia.- fui direto -  Eu topo a ideia do Varela, balada é mais tranquilo.

- Também concordo, lá a gente pode ficar mais confortável em relação ao horário também.- Bruno me apoiou.

- Eu gostei da proposta do Jean, uma noite de pura diversão não seria nada mal.- Weslley falou, o cara que até então tá com um casamento marcado para o próximo mês.

O que mais me deixa intrigado e revoltado é com a falta de consideração que eles tem pela própria família. Entendo e assumo que antes eu compartilhava os mesmos pensamentos e atitudes deles, mas desde que conheci a Bianca, desde que ela aceitou voltar pra mim e construímos nossa família, eu não podia pensar apenas em mim e nos meus prazeres.

- Simples, quem quer ir pra balada vai, quem quer ir pro cabaré vai.- Arrascaeta sugeriu com aquele sotaque de Brasileiro falsificado.

-Cabaré não, casa vermelha!- Jean corrigiu.

- Dá no mesmo.- Arrasca retrucou e a galera riu.

Continuamos conversando até o horário da fisioterapia, depois de lá fomos pra a entrevista e assim seguimos com toda a nossa programação. O resto do dia foi a maior correria, mal tive tempo pra responder a Bianca, só depois consegui avisar a ela que eu iria sair. Óbvio que eu falei pra onde ia, esperei ela falar o que achava e como ela não impediu, eu me arrumei pra ir.

Eram quase oito horas quando eu e os meninos descemos pra esperar os outros. O Arrascaeta, o Bruno, o Pedro e o Pulgar vão comigo, alguns vão ir depois e o outros vão pra a tal casa vermelha. 

Pegamos o carro e fomos direto pra balada. Tínhamos conseguido pegar um camarote em cima da hora, assim que chegamos nós entendemos o porquê de ter sido tão difícil conseguir comprar. Tá tudo cheio e nem parecia que a balada era enorme.

Nos aconchegamos em um lugar, deixei os meninos lá e fui no bar pedir um drink.

- Uma caipirinha de limão sem álcool, por favor.- pedi pro barman que assentiu e pegou um copo que estava no canto.

Não poderíamos beber tanto já que amanhã tem a segunda avaliação antes do jogo, não queria correr o risco de ficar fora.

Peguei o copo da mão do moço e voltei pra onde os meninos estavam. Minutos se passaram e parecia que entrava mais gente a cada segundo que passava, tava mais cheio do que quando chegamos. Senti olhares em mim, virei a cabeça e percebi uma loira aparentemente alta perto da onde eu estava, quando a luz do bar refletiu nela consegui a reconhecer.

Agatha. Namorei com ela antes da Bianca, nosso relacionamento foi tranquilo e sem muitos transtornos mas éramos muito imaturos. Nunca mais tínhamos nos visto, fazia muito tempo mesmo, achei até estranho eu consegui reconhecer ela.

- Gabriel Barbosa, quanto tempo!- falou se aproximando de mim.

- Eai Agatha, como você tá?- fomos mais pro canto pra conseguirmos nós escutar melhor.

- Eu estou ótima e você?- encostou em um dos ferros que iniciava a escada- Pelo visto está muito bem.

- E estou mesmo.- respondi fazendo o mesmo que ela.

- Que milagre te ver por aqui, não sabia que tinha voltado pra São Paulo.

- Não voltei, tô aqui pro jogo de domingo.- expliquei.

- Ah sim, já imaginei que você tinha voltado pra a sua vida louca de antes.- ela riu colocando o canudo na boca.

- Acho que nem se eu quisesse, não combina mais comigo.

Pode ter se passado anos desde que nos vimos mas eu ainda conheço a Agatha ou pelo menos ela ainda consegue ter os mesmos traços que antes, eu posso jurar que ela está se jogando pra mim a cada frase que sai da boca dela. Pode até parecer que nossa conversa está normal, mas o jeito que ela me olha, como mexe no copo e sorri...tá nítido.

- Mas eai, veio solteiro com os amigos?- sorriu.

Como eu falei, está nítido.

- Com os amigos sim, já solteiro...- levantei minha mão esquerda mostrando minha aliança bem brilhosa e reluzente - Tô casado.

- Casado? E sua mulher sabe que você tá aqui?- perguntou irônica.


Sunshine🧸• Gabriel Barbosa •Onde histórias criam vida. Descubra agora