LIE OR DIE • ARMANDO ARETAS

bônus

ARMANDO

Pai, eu sou um pai agora.

Minhas mãos estavam tremendo, os guardas a tiraram dali e eu simplesmente não consegui dizer nada, não consegui olhar e nem responder sua ultima frase. O envelope estava aberto e eu estava segurando aquele papel como se minha vida dependesse disso. Talvez dependa.

Era um exame, um ultrassom. Havia o resultado de um exame de sangue junto com um teste de farmácia e uma foto de sua barriga no dia da descoberta, haviam mais algumas fotos acompanhando o crescimento gradativo de sua barriga, uma foto de cada semana. Ela estava com mais de três meses, eu seria pai, provavelmente um péssimo pai mas, porra. Esse se tornou meu sonho, se tornou meu objetivo de vida e agora principalmente, eu faria de tudo para sair daqui e ser melhor.

— Porra.

Os momentos que tivemos estavam gravados em minha mente e sempre estariam. Meu peito se encheu de alegria ao olhar aquelas fotos, eu já errei em muita coisa mais isso, é a melhor coisa que poderia acontecer. Eu amo Morgana com todo o meu ser e sei que provavelmente não está confortável com tudo isso mas meu deus, isso é lindo, vamos ter um filho.

Eu vou ser pai. Eu vou ser pai. Eu vou ser pai.

É só isso que minha mente grita a todo momento, seguro o sorriso ao perceber que não havia com quem comemorar, ninguém aqui estaria feliz comigo, por mim, mas Mike entrou para me ver minutos depois e sorri, é estranho e reconfortante.

— Ela acabou de me contar... Você engravidou uma policial, mané. — Riu.

— Tem certeza que ela não é sua filha de sangue, né?

— Ela não é, o pai biológico dela é um cara de família brasileira.

Assenti em silencio.

— Estou orgulhoso, Armando. Você está indo bem, isso é muito bom.

— Vou ser melhor por ela.

— Estou orgulhoso de você. Isso é um novo começo, você ganhou a chance de ter a família que sempre quis.

MORGANA

APÓS O NASCIMENTO DO BEBÊ

Marcus estava chorando ainda, acho que ele estava chorando desde que a minha bolsa estourou e tia Theresa precisou acalma-lo. Mike fingiu que não havia chorado mas eu o vi derramando lágrimas após ver a pequena sorrir.

— Isso são lágrimas? Mike Lowrey está chorando? É isso mesmo? — Marcus segurou os ombros de Mike. — Quem é o frouxo agora?

— É a bebê, não são lágrimas.

— Você é um vozão, agora! — Deixou um tapa na cabeça do amigo. — Espere até eu postar no meu Twitter que Mike Lowrey, o terror de Miami, chorou vendo a neta pela primeira vez.

Revirei os olhos rindo, ele alopraria Mike por muitos dias.

— Já podemos ir registrar, querida? — Theresa sorriu com minha bebê nos braços.

— Sim. — Me sentei, estava bem. Dolorida por conta dos ferimentos que mal haviam cicatrizado e pelas 17 horas em trabalho de parto.

— Já sabe o nome? — Marcus questionou ansioso,

— Sei, tenho o nome há algum tempo.

Me lembro de uma das conversas que tive com Armando durante o caminho até o cartório. Ele tinha um nome em mente por anos e compartilhou isso comigo, eu não havia o perdoado mas com toda certeza não o deixaria de fora disso.

O lugar estava vazio, Mike estava em ligação com alguém enquanto eu estava aguardando a atendente para registrar minha filha. Deixei os papéis sobre o nascimento na mesa e peguei meus documentos dando a moça.

— Muito bem. Preciso do que confirme seu nome e nome do pai, se não for colocar o pai tudo bem.

— Morgana Martinez Lowrey e Armando Aretas.

— Perfeito, pode confirmar a data de nascimento da bebê?

— 20/03/2021.

— Qual o nome?

— Aurora Aretas Lowrey.

TRÊS ANOS DEPOIS

Os dias aqui não passam. Duas horas parecem dois dias. Hoje é o dia 1.095 e considerando as poucas informações que Mike me dá quando consegue vir me ver, meu filho já tem quase quatro anos e eu nunca o vi, não sei o nome, qual foi a primeira palavra, quando começou a andar. Eu perdi tudo isso e sei que se algum dia sair daqui, irei ser questionado sobre e minhas respostas verdadeiras poderão acabar com a vida de uma criança.

Morgana não apareceu mais, simplesmente sumiu e aparentemente proibiu Mike de me informar qualquer coisa sobre sua vida, não sei se seguiu em frente, se esta bem mesmo.

Estávamos academia mal montada quando um dos caras jogou um jornal em mim.

— Você vai gostar de ver isso. — Avisou. — Os caras estão falando que o filho é seu, engravidou uma policial cara?

Não respondi mas peguei o jornal. Não costumo falar com ninguém aqui, não são importantes e não vão me servir de nada.

A capa principal era uma foto de Morgana, usando um conjunto de moletom verde e estava com nosso filho nos braços, de costas e com uma roupa igual a da mãe, estava usando o capuz do moletom e tinha o rosto escondido no pescoço de Morgana. O titulo dizia que Morgana estava sobre investigação por ter agredido um desembargador, a foto foi tirada no momento em que ela saia de um restaurante e posso ver Megan e seu filho logo atrás.

Rasguei o jornal, levando somente aquela foto comigo antes de seguir o guarda até minha cela. Deixaria junto com as fotos que Morgana me entregou na ultima vez que a vi.