11 | the yacht

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Horas em silêncio, com dor no quadril, sede e dor de cabeça. Zach e eu não trocamos nenhuma palavra durante a viagem, na verdade, ele mal piscou os olhos, centrado na estrada, virando avenidas, sem usar gps, com o caminho decorado, com certeza já fez esse percurso outras vezes. Seria esse o caminho direto para a minha cova?

Agora ele dá umas breves olhadas em seu telefone quando ele insiste em tremer em notificações, deixando claro que estão esperando por ele, ou por nós. Com uma mão no volante ele dirige, enquanto com a outra responde quem quer que o esteja apressando.

— Estamos chegando? — Arrisco em perguntar.

— Te vendo de longe não imaginava que seria tão falante assim, sabia?

— Eu não sou.

— Mesmo assim, não consegue ficar um dia sem me fazer uma única pergunta.

E o que ele deveria esperar de mim? Como as outras agiram? Ficaram caladas e aceitaram tudo sem poder nem mesmo imaginar o que estava acontecendo ao seu redor, ou o que poderia vir a acontecer? É algo impossível para mim. Estou aqui com ele, fui raptada, machucada, ele pode me dever algumas respostas, pelo menos enquanto eu estiver obediente. Mas, para ele, talvez seja cedo para acreditar que finalmente aceitei o que disse antes. "Aceite, não resista, obedeça." Talvez, deva mostrar mais submissão e menos curiosidade.

— Desculpe, Z. — Me esforço para manter a voz aveludada, evitando qualquer desafinação. Ele tira os olhos da estrada por um segundo para me olhar, pela primeira vez.

Segundo a tela brilhante mostrando um relógio no painel do carro, mais uma hora se passa até Zach começar a diminuir a velocidade e entrar em um cais. Não vejo pessoas trabalhando, são dez horas da noite, mas as luzes estão acessas por todos os pátios.

Quando finalmente Z parou o carro vi logo a nossa frente a beirada do mar com apenas uma imitação pequena e luminosa de um navio atracado.

— Um iate?

— Nunca viu um? — Ele tira o cinto e eu faço o mesmo, ele aperta um botão e abre a porta do seu lado, me preparo para abrir a minha.

— Não mandei sair. — Ele diz agressivo e eu recuo ficando imóvel no banco. Ele sai, da a volta no carro, abre a porta do mesmo. O encaro incrédula. — Sou seu dono, não é pra fazer nada que eu não tenha mandado. — O sinal com a mão indica para que eu saia, eu obedeço sem responder.

Olhando em volta sinto o vento gelado passar por nós, graças a esse blazer de couro e a gola alta não sinto frio, mas meu nariz gela, pode estar vermelho agora, isso sempre me irritou, sempre me fez parecer mais nova que já sou. Inocente e frágil, talvez isso tenha me trazido até aqui.

— Vamos. — Ele começa a andar do meu lado, observo o cais e vejo mais alguns carros grandes estacionados um pouco longe dali, há mais homens aqui, meus pelos se arrepiam na mesma hora.

O iate está com a escada abaixada, ele tem três andares, é branco, com luzes brancas acessas e outras coloridas piscando simultaneamente. Chegando mais perto consigo perceber uma música tocando lá dentro, o estilo é de balada. Talvez estejam dando uma festa.

Não consigo imaginar o que me espera lá dentro.

Zach me deixa ir na frente. Enquanto subo as escadas sinto meu vestido subir a cada degrau, o seco na minha garganta logo se molha com um engolir desconfortável. Ele poderia estar olhando para o meu quadril agora, e mesmo que eu esteja coberta, fico sem graça como se estivesse nua.

O iate é chique, claro, nem consigo imaginar o quanto deve ser caro manter esse tipo de embarcação.  A área externa esta vazia, ninguém nos recebe, provavelmente porque estamos atrasados. Observo o mar a nossa volta. O cheiro me agrada, teria de aproveitar esse vislumbre da natureza, antes que voltasse a ficar presa dentro daquele quarto.

Sweet SyndromeOnde histórias criam vida. Descubra agora