29 | oblivion

301 45 35
                                    


Z

O quarto está frio como sempre. Abraço meus joelhos como se isso fosse me deixar mais quente. O dia todo a grande casa ficou em silêncio, mas como quase sempre, chegando a noite, tudo muda. Daqui, consigo escutar os resmungos e broncas dele. Tampo os ouvidos quando os gritos dela começam a ultrapassar as reclamações.
Queria poder pegar no sono para não ter que ouvir nada disso, mas mesmo que deitasse nesse chão, eu não conseguiria, e não seria o certo, não poderia l fechar os olhos enquanto ela sofre, mais uma vez.

— Pare!!! Não foi minha culpa. — Sua voz treme enquanto grita. Aperto os olhos agora me transportar para o quarto ao lado, eu a abraçaria, mesmo que estivesse errada.

Não sei o que fez. Mas, parte de mim custa a acreditar que seria impossível todo dia cometer o mesmo erro. Ele diz que sim, tenho dúvidas se posso confiar.

Se alguém erra, você deve ensinar o certo, não puni-lo. É isso o que minha mãe sempre diz para mim. Mas, não é isso que esse homem, meu pai, faz.

Os gritos dela param alguma hora. Meu coração acelera de medo sabendo que o próximo vai ser eu.

A porta enferrujada faz um barulho alto quando é destrancada. Eu fecho os olhos torcendo para estar errado somente hoje. Ainda sinto dor da última vez que ele veio.

— Você está imundo, igual a ela. — Ele diz. — Abra os olhos moleque, seja homem e me encare.

Levanto o rosto, mas não olho para ele. Sua risada do mal é alta.

— Como você vai se tornar um de nós desse jeito? Ele não entende. Eu não tenho paciência para nada disso. — Vejo seus sapatos chiques se aproximando. Não sei do que está falando, quase nunca sei.

— Eu quero a minha mãe. — Seguro o choro.

— Claro que quer. Você sempre quer. — Levanto a cabeça e vejo sangue em suas mãos.

— Cadê ela? — Começo a chorar. — Eu quero a minha mãe.

— Para de chorar! — Ele grita e bate no meu rosto. É tão forte que caio para trás batendo a cabeça na parede. Eu choro mais. O homem bufa. — Porra de moleque irritante, não tenho tempo para isso hoje.

Não consigo enxergar por causa das lágrimas, mas sei que ele se afastou.

— Traga ela pra cá. — Ele fala com alguém.

— Mas, senhor, ela está quase...

— E eu perguntei como ela está? Está surdo porra?

A porta se fecha e por alguns segundos fico sozinho mais uma vez. Quando ela se abre novamente vejo minha mãe sendo carregada por dois homens. Cada um segura em um dos braços, sem deixar que ela pise no chão.

— Mamãe. — Seu vestido era branco ontem, mas agora está todo marcado por manchas de sujeira e sangue. Está cansada, com a cabeça abaixada, não conseguiria ficar em pé. Mas, quando me ouve ergue a cabeça e tenta sair dos braços dos homens. — Mãe. — Me levanto e corro até ela. Eles a soltam, nós caímos no chão, juntos. Ela me prende nos seus braços, não consegue fazer força para me segurar, ainda assim é um abraço.

— Me desculpe, me desculpe meu menino Z. — Pega no meu rosto com uma mão me fazendo olhar para ela. Sei que estava chorando antes, assim como agora. Seu rosto está vermelho e roxo, foi machucada por ele

Sweet SyndromeOnde histórias criam vida. Descubra agora