35 | home?

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Minhas mãos estão suadas. Ainda não consigo acreditar que pude ouvir a voz de alguém que realmente me conhece, alguém da minha antiga vida, que agora, estava vindo me buscar. Não parece real, pisco algumas vezes e continuo de frente ao telefone, ao telefone que fez a ligação da minha liberdade.

— Onde ele mora? — Owen me traz de volta. — Você sabe?

— Ele tinha se mudado para o interior, mas agora, não sei, eu não... — Nem se quer pensei em perguntar.

— Não sabemos quanto tempo vai levar para ele chegar até aqui. — Suas mãos bagunçam seu cabelo. É nítido o seu nervosismo. — Vou conversar com o dono mais uma vez, talvez o convença de manter o lugar fechado mais uma noite, não podemos arriscar.

— Tudo bem.

— Volte ao quarto, te encontro lá.

Seguimos direções diferentes. A cama parece mais desconfortável do que na noite passada, mas dessa vez sei que a culpa não é da má qualidade do colchão, sei que meu corpo que está rígido e tenso demais com o que acabou de acontecer. Alex pode levar duas horas, ou quatro, ou seis para chegar, ou talvez se convença de que foi um trote e desista de vir até mim, ou talvez ele venha e com a polícia junto. Nada me tranquiliza, não consigo evitar de pensar que algo está errado.

Minhas manhãs tem sido as mesmas, meu tempo tem sido regrado e divido com uma única pessoa, mas hoje ele não está aqui. Não recebi nenhuma de suas visitas, não vesti as roupas que deixou para mim, não dormi ao seu lado. Não o vi, não o senti. Pareço estar vivendo em uma outra dimensão onde Zach White não existe, então nada aqui parece se encaixar.

De repente, afundo na cama, minhas costas relaxam e minha mente gira. Encarando o teto embolorado acima de mim imaginando o teto pálido que me cercava há horas atrás. O cheiro não é o mesmo, o ar é denso e carregado.

Não estou onde deveria estar.

Meu coração dói. Todas as noites sonhava com a liberdade, o mínimo resquício que de ar puro, até mesmo o sentir do gramado mal cuidado do lado de fora. Percorri por ele, senti o vento em meu rosto, cheguei a algum lugar. Fui embora. Estou tendo o que tanto quis, tanto desejei.

Por que não estou feliz? Por que ele ainda não me achou? Como ele deve estar? Por que não estou pensando no que deveria pensar?

— É difícil. — Me sento na cama num susto.

— O quê?

— Ele é um homem difícil, tive que duplicar a oferta, mas ele aceitou, resistiu, mas aceitou. — Owen fecha a porta atrás de si e fica em pé enquanto eu assinto aliviada por não ter pensado alto demais. — Algo errado?

— Não. Só é muita coisa para pensar. — Respiro cansada.

— Em como vai seguir a vida longe de todo o crime? — Ele quase ri. Não respondo. — Longe dele? — Agora sua voz fica mais baixa, mais séria.

— Não parece real. — Dou de ombros. — Vou embora e não vou voltar. — A frase não é dita com precisão, faço um teste enquanto as palavras saem, tento senti-las como verdade, mas falho.

— Você tem sorte. — Encaro Owen e só agora me dou conta da situação.

— Mas, e você?

— O que tem eu?

— Você teve a ordem de me proteger, o que acontece quando não cumpri-la?

— Não tem que se preocupar comigo. — Me levanto.

— Pessoas morrem por minha causa, e você vai ser mais um na lista, é claro que tenho que me preocupar. — Meu nervosismo faz minha voz sair mais alta e acelerada do que pretendia.

Sweet SyndromeOnde histórias criam vida. Descubra agora