Caso 37 : Isca

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Singha se virou para olhar para o garoto ao lado dele que estava lendo algo em seu telefone com uma expressão séria. Faltava apenas mais uma hora para chegar a Bangkok e ele ainda não conseguia pensar com clareza. O que devia fazer com aquele menino?

"O que você está lendo?"

"Estou procurando uma maneira de interromper a cerimônia."

"Só temos que colocar esses dois bastardos, pai e filho, na cadeia e chutá-los algumas vezes para acabar com o problema."

"Como podemos abordar essas duas pessoas se elas ainda estão sendo protegidas por outras duas que não estão nem vivas?" Thup ergueu os olhos do telefone e olhou para a pessoa que segurava o volante com uma das mãos.

"Então o que devo fazer? Virar um xamã?"

"Nunca estudei essa área antes, nunca respeitei nada exceto Luang Pu e o que ele me ensinava. Agora eu não sei o que fazer". Disse Thup antes de deixar escapar um suspiro de frustração.

"Então o que você está lendo?" Joss ergueu a tela do telefone para o homem mais velho ver. "Como derrotar fantasmas.... Do Google?"

"Bem, não sei o que fazer aqui". Reclamou Thup, antes de desligar o telefone. "Pi Sing."

"Hum?"

"Posso perguntar uma coisa?"

"Você vai perguntar sobre Abril?" A boca de Thup se abriu para a pessoa mais velha que sabia o que ele queria saber antes de se virar e balançar a cabeça suavemente "Eu tinha uma irmã com quatro anos de diferença. Um dia, enquanto ia ao templo, Abril de repente disse que queria brincar com uns amigos dela, mas quando cheguei mais perto para olhar, não vi ninguém. Depois disso, Abril começou a falar de forma estranha, ela começou a conversar com alguém que não existia, que não conseguíamos ver. Quando minha mãe a levou ao médico, não encontraram nada de anormal, o médico pensou que poderia ter vindo da imaginação dela porque ela era pequena e conforme ela crescesse, provavelmente isso desapareceria por conta própria, mas depois de um ano Abril ainda estava conversando com alguém que não víamos. Naquela época minha família tinha problemas, meu pai, que era policial, foi demitido do serviço público porque foi trabalhar bêbado. Depois disso, a casa desmoronou, virou um inferno, minha mãe e eu levamos xingamentos o tempo todo, ele batia na gente todos os dias.

"Quando você disse naquela época que só queria ajudar a mãe... foi por causa disso?"

"Hum". Singha respondeu em sua garganta antes de continuar a falar. "Um dia, meu pai bêbado chegou em casa. Ele batia na minha mãe por motivos estúpidos. Por exemplo, que a comida não estava gostosa, aquele dia foi o primeiro dia que escolhi levantar e jogar um vaso nele. Aí foi  uma loucura naquela casa, foi no mesmo momento que a Abril entrou, me chamou de lado e me disse que tinha uma menina que me convidou para brincar com ela. Você sabe o que eu fiz?"

"O que você fez?" Thup perguntou com uma voz mais suave.

"Gritei com minha irmã mais nova, repreendi ela por dizer aquelas bobagens, falei para ela esquecer tudo que achava que via, porque na verdade não existia. Aí falei para ela ir para onde quisesse." Singha olhou para Joss enquanto continuava dirigindo. "Depois disso, eu liguei para a polícia para prender meu pai, eu pensei: Acho que a vida vai ficar melhor agora. Foi quando eu saí para procurar Abril, procurei muito para levar ela pra casa, mas então a encontrei....

"Pi Sing..."

"Encontrei minha irmã mais nova afogada no canal atrás da casa. O engraçado é que os moradores estavam fofocando sobre isso, que há vários meses uma outra criança também havia se afogado lá." Thup franziu os lábios com força. Se fosse como Singha descreve, provavelmente era um espírito em busca de um sucessor. "Então, você acha que não é minha culpa?"

Goddess Bless you for Death (Edição em português)Onde histórias criam vida. Descubra agora