(CAPÍTULO EXTRA)

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Cheguei cedo no CT, como de costume, pronta para mais um dia de trabalho. A sede do Palmeiras estava tranquila, e eu gostava da calma das primeiras horas da manhã. Caminhei pelos corredores amplos e bem iluminados até minha sala, um espaço digno de uma presidente de um dos maiores times do Brasil. As paredes eram adornadas com troféus e lembranças de conquistas passadas, um constante lembrete do legado que eu tinha a responsabilidade de proteger.

Sentei-me na minha cadeira de couro e liguei o notebook, pronta para revisar os e-mails da noite anterior. A primeira mensagem na minha caixa de entrada chamou minha atenção imediatamente. Não havia remetente identificado, apenas um conjunto de números aleatórios. Hesitei por um momento, mas a curiosidade venceu e cliquei para abrir.

O que vi me deixou em choque. Uma foto de Maitê, minha querida sobrinha, na casa de Richard. Ela vestia uma camisa do Palmeiras com o nome dele estampado nas costas. Estavam sentados no sofá, ele com as muletas ao lado, e o braço de Richard estava passado pelo ombro de Maitê, num gesto de intimidade inegável. As expressões deles eram de conforto e proximidade, algo que eu tinha explicitamente avisado para minha sobrinha evitar.

Revirei a foto na tela, incapaz de acreditar no que estava vendo. Maitê havia me garantido que estava se distanciando de Richard, que não havia mais nada entre eles. E agora, esta imagem dizia o contrário. Quem teria enviado essa foto? E por quê? Era um e-mail anônimo, sem nenhuma pista sobre a identidade do remetente.

Respirei fundo, tentando controlar a raiva e a decepção que surgiam dentro de mim. Não podia permitir que algo assim afetasse minha capacidade de julgamento. Precisava lidar com isso de maneira profissional e objetiva.

Peguei o telefone e liguei para um dos funcionários do clube.

— Bom dia, eu gostaria que você transmitisse uma mensagem para a Maitê assim que ela chegar. Peça para ela vir diretamente para a minha sala. Temos algo urgente para discutir — instrui, tentando manter minha voz firme.

Depois de desligar, fiquei olhando para a foto mais uma vez. Richard. Eu sempre soube que ele era um risco. Jogadores como ele, com tanto charme e carisma, eram especialistas em envolver as pessoas ao seu redor. Eu tinha avisado Maitê sobre isso, inúmeras vezes. Ela era jovem, dedicada, e tinha um futuro brilhante pela frente. Não podia permitir que um envolvimento com Richard comprometesse tudo pelo que ela havia trabalhado tão arduamente.

Enquanto aguardava a chegada de Maitê, minha mente corria com perguntas e preocupações. Quem teria enviado essa foto? E com que propósito? Seria alguém tentando criar problemas entre nós? Ou talvez alguém genuinamente preocupado com a situação?

O tempo parecia se arrastar até que finalmente ouvi uma batida na porta. Endireitei-me na cadeira, preparando-me para a conversa difícil que estava por vir.

— Entre — disse, tentando manter minha voz neutra.

A porta se abriu e Maitê entrou, seu rosto mostrando uma mistura de curiosidade e nervosismo. Assim que nossos olhos se encontraram, soube que ela percebia a gravidade da situação.

— Sente-se, Maitê — falei, indicando a cadeira em frente à minha mesa.

Ela obedeceu, sentando-se com as costas retas e as mãos no colo.

— Recebi algo esta manhã que precisamos discutir — comecei, virando o laptop para que ela pudesse ver a foto. — Pode me explicar isso?

Maitê olhou para a imagem, e vi a cor drenar de seu rosto. Ela abriu a boca para falar, mas nada saiu. Finalmente, depois de alguns segundos, ela encontrou sua voz.

— Tia Leila, eu... Eu posso explicar — disse, a voz trêmula.

— Espero que sim, Maitê. Porque essa foto sugere que você não apenas desobedeceu às minhas instruções, mas também mentiu para mim. E isso é algo que não posso aceitar — falei, cada palavra carregada com a decepção que sentia.

— Nós não temos nada oficial, tia. Estávamos apenas nos divertindo. Eu fui até a casa dele para ajudar com a lesão na coxa. Ele precisava de apoio, e eu estava lá apenas para isso — Maitê tentou justificar, mas suas palavras soavam vazias para mim.

— Você acha que ele não tem dinheiro para contratar uma médica, uma enfermeira para ficar com ele e ajudá-lo? Isso é algo muito íntimo, Maitê. Eu não sabia que vocês estavam tão próximos assim — rebati, minha paciência se esgotando.

— Mas não é o que parece. Eu estava apenas tentando ajudar. Não era nada sério — insistiu ela, a voz cheia de angústia.

— Você me prometeu que não iria mais se envolver com ele, que vocês não tinham nada. Você não mentiu apenas para a presidente do Palmeiras, você mentiu para sua tia. Entende isso? — Minha voz elevou-se, e eu vi as lágrimas se formando nos olhos dela, mas mantive minha posição firme.

Maitê abaixou a cabeça, incapaz de manter o olhar.

— Eu sei que você é minha sobrinha, mas como posso trabalhar com alguém em quem não confio? Você está me forçando a fazer uma escolha que eu não quero fazer. Eu vou te dar uma última chance: ou você escolhe seu emprego, ou escolhe ele. É você quem decide. Vai arriscar seu emprego, sua dignidade, por causa de um jogador qualquer? Você sabe como todos eles são. Eles só pensam com a cabeça de baixo. Ele vai te usar e depois te descartar como se você não fosse nada — as palavras saíram duras, mas eram necessárias.

Ela tentou protestar, mas eu continuei.

— E isso também afeta a carreira dele. Ele pode perder o emprego, a vaga no time. Vocês dois precisam entender as consequências das suas ações.

Ela olhou para mim, os olhos cheios de lágrimas, mas determinada a se manter firme.

— Tia, eu não sei o que fazer. Eu não quero perder meu emprego, mas eu também...

— Escolha, Maitê. Escolha agora — exigi, cruzando os braços e esperando sua decisão.

Ela suspirou, as lágrimas escorrendo por seu rosto.

— Eu... Eu escolho meu emprego. Eu não posso perder isso. Não posso decepcioná-la.

A decisão estava tomada, mas a dor em seu rosto mostrava que o preço seria alto. Eu sabia que era o certo a fazer, mas não tornava a situação menos dolorosa para nenhuma de nós.

— Muito bem. Espero que mantenha sua palavra desta vez. Você pode ir — disse, voltando minha atenção para o laptop, tentando esconder a dor que também sentia.

Maitê levantou-se, pronta para sair, mas antes que ela alcançasse a porta, eu a chamei de volta.

— Maitê, espere. Antes de você ir, preciso que você encerre qualquer vínculo pessoal com Richard. Qualquer envolvimento íntimo deve terminar imediatamente. Isso é pelo bem de sua carreira e pela confiança que precisamos restabelecer. Estou sendo clara?

Ela assentiu, as lágrimas brilhando em seus olhos, e saiu da sala sem dizer mais nada. Fiquei observando enquanto ela se afastava, sentindo o peso da situação esmagando meu coração. Algo entre nós havia mudado, e eu só podia esperar que o tempo pudesse consertar o que foi quebrado.

Caso do Acaso - RICHARD RÍOS.Onde histórias criam vida. Descubra agora