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Eu poderia ter ela por bem ou por mal"
"Ele era tudo que eu abominava"
"Eu preferi mentir"
"Preferi acreditar em tudo, mesmo sabendo que era mentira"
"Eu sabia que a perderia quando ela soubesse o que eu era"
"Eu não quero perder ele"
"Eu...
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Eu não conseguia pregar os olhos enquanto ouvia o barulho da chuva caindo do telhado de casa. Não conseguia fechar os olhos por um segundo em cada trovoada que dava, eu preferia mil vezes o calor, apesar de me incomodar muito, não precisava me preocupar com água caindo dentro de casa. A chuva não parava um segundo, e eu já tinha colocado baldes em três lugares aqui em casa, isso porque o telhado está horrível, e o dinheiro que ganho, não dá nem para as contas do mês, quem dirá para uma reforma.
Eu sei que as coisas irão se resolver em algum momento, mas me sinto cansada da rotina pesada. Trabalho de segunda a sábado, tenho folga aos domingos, que geralmente tiro para organizar a casa.
Isso que eu nem moro sozinha, mas é como se fosse. Na maior parte do tempo, eu fico aqui sozinha com a Maria, minha irmã de apenas três anos, mas as vezes minha mãe e o marido dela dão as caras.
— Rubi?—Bocejei olhando minha irmã abraçada comigo na cama— A chuva tá foti né?— Concordei alisando seus cabelos.
— Vai dormir meu amor, amanhã você tem aula— Deixei um beijinho na sua testa e voltei minha atenção para a parede com infiltração.
Minha mãe Karen, me teve bem nova, com quinze anos, hoje tenho vinte e quatro, ela me criou sozinha a maior parte do tempo, sempre foi um pouco estranha, me deixava sozinha sempre que podia, pra sair com as amigas dela. E depois começou a namorar outro homem, esse que era um encosto aqui em casa, ela praticamente sustentava ele, a única coisa que fez de bom, foi a Maria, quando ela nasceu eu fiquei doida, porque minha mãe mais uma vez estava deixando a bebê de apenas meses de lado, ela literalmente saia e deixava leite em mamadeiras na geladeira. Era pra eu cuidar, e eu acabei fazendo, minha irmã me chamou de mãe quando tinha um ano e dois meses, eu corrigi, óbvio. E de lá pra cá, nada mudou, eu continuo cuidando dela, cuido, levo ao médico quando precisa, faço tudo. Enquanto isso minha mãe vive atrás do encosto, em bares e festas. Fechei meus olhos tentando pegar no sono, precisava dormir, amanhã é mais um dia.
Acordei com meu celular despertando, as seis e meia, bocejei e levantei da cama, geralmente eu arrumava tudo na noite anterior. Preparei o café da Maria, e o meu, e depois me arrumei. Trabalho num restaurante em Copacabana, sou garçonete. O salário é bom, da pra eu pagar as contas, mas nunca sobra nada, ainda mais que não temos casa própria e minha mãe não ajuda.
Meu uniforme era uma calça escura preta, e uma camisa azul, e ainda tinha um avental, esse eu deixava no armário do trabalho. Prendi meus cabelos num rabo de cavalo e me aproximei da cama de solteiro que eu e ela dormíamos.
— Maria?—Deixei um beijo em seu rosto—Vamos acordar, pra você ir pra escola.
—Ah…—Ela murmurrou abafado cobrindo o rosto, eu ri.
Entendia, era cedo e estava fazendo frio. Mas eu não tinha como quem deixá-la. Toquei seu bracinho fino e a fiz me olhar.
— Vamos levantar pra você ir pra escola— Pedi e ela sentou na cama me olhando.
A garotinha tinha acabado de completar três anos, era um amorzinho na maior parte do tempo, mas as vezes, ela se tornava a pior das bagunceiras. Minha irmã foi praticamente criada por mim, aos vinte e um anos eu estava no auge da minha vida. Só queria sair, curtir um pouco, arrumar um carinho legal, mas acabei trocando fraldas num domingo a noite, enquanto a minha mãe vivia o auge da vida dela. Inclusive ela sumiu com o namorado e não apareceu até agora. Maria é a coisa mais fofa, tem tanto cabelo quanto eu, isso puxamos da nossa mãe, as sobrancelhas grossas e lindas, olhos castanhos expressivos e a pele levemente bronzeada, éramos muito parecidas.
Minha irmã levantou da cama e eu a levei para fazer xixi, sempre dava banho nela a noite de manhã não ser corrido, coloquei o uniforme que era uma camisa branca, um casaquinho que havia acabado de comprar, era fofinho, rosa com branco, coloquei uma calça rosa jeans e botinha, prendi seus cabelos num rabo de cavalo, pois não queria uma nova infestação de piolho.
— Vai ter passeio na minha escola— Ela disse segurando as alças da mochila, peguei minha bolsa e coloquei no ombro caminhando até a porta.
— E tem que pagar?— Deixei ela passar e minha irmã parou pensativa.
— Hum…cinquenta centavos—Ri fechando a porta.
— Deve ser cinquenta reais meu amor— Falei pegando sua mão.
Cessei meus passos e puxei minha irmã para mais perto de mim quando minha mãe nos olhou, ela estava longe, a mulher cambaleava se segurando nas escadas e seus olhos caíram em mim, minha mãe piscou e desceu os olhos até a Maria, ela sorriu.
— Oi amorzinho— Disse abaixando e dando um beijo na minha irmã— Tá bonita, indo pra escola— Ela ficou de pé e me encarou, seus olhos correrem pelo meu rosto e depois pelo corpo.
Eu conhecia bem aquele olhar, era terrível. Em pensar que a mais ou menos oito anos nos duas éramos amigas e parceiras, e aí ela conheceu o namorado, pai da Maria, Sérgio o nome dele. E as coisas mudaram, depois de um tempo, o olhar de admiração dela, se tornou um olhar de puro desdém e inveja, ela tinha inveja de mim, e eu só entendi o motivo quando ouvi uma briga deles onde ele disse que eu era mais bonita do que ela. Aí as coisas desandaram entre nós. Ela era a minha mãe, e mesmo assim não me defendia, ela me olhava como uma inimiga.
— Já vai trabalhar?—Indagou e assenti— Você tem cem reais pra me emprestar?
— Não tenho.
— Qual é— Ela reclamou— Claro que tem, deixa de ser mão de vaca.
— Os cem reais que eu tenho é pra pagar a conta de luz— Passei por ela a deixando sozinha.
Ela nunca me devolveria o dinheiro, esse que é contadinho todo mês, somente no mês passado que eu me sobrou e eu consegui comprar um casaco pra minha irmã que não tinha nenhum de sair. A creche da Maria ficava no nosso bairro, era uma escola pública, mas era muito boa, deixei minha irmão ali e depois fui até o ponto de ônibus, sempre vinha no mesmo horário então não fiquei tanto tempo. Me sentei logo atrás do motorista, colocando a bolsa no colo.
Fechei meus olhos que ainda estavam pesados de exaustão, eu precisava descansar. Morava a cerca de quarenta minutos do meu trabalho e não pegava trânsito na maioria das vezes, por conta do horário. Cheguei no trabalho sete e quarenta. Vesti o avental e coloquei a tiara que usava no cabelo, não trabalho na cozinha, então não preciso de touca.