6

818 30 0
                                    

Gabriela

O assunto entre mim e a Rebeca rendeu tanto, que eu não sei se os áudios que ela tava me mandando é porque tava bêbada ou é porque nós criamos uma certa intimidade. Ao decorrer das nossas várias mensagens trocadas, pude ver que ela não era uma pessoa muito boa das ideias, a cada 10 palavras, 9 era falando de homem e comentando do tanto que tinha na resenha que ela estava.

Deixo meu celular em cima da cama e, antes de ir até o quarto da minha mãe, desço até a sala e vou pra cozinha, pegando um cartaozinho da farmácia que tem aqui pelo Jacarezinho, na porta da geladeira e subo de novo pro quarto. Pego meu celular e adiciono o contato no aplicativo de mensagem e mando uma pedindo que tragam uma cartela de Penicilina G.

Por conta de eu ter sido dispensada, eu passei na caixa lotérica e peguei meu último pagamento, que ficou por volta dos dois mil e trezentos. Achei pouco? e muito, mas eu tô tão abalada com isso, que nem ânimo pra pensar afundo eu tenho. Lembro de ainda ter que conversar com a minha mãe, mas antes eu retiro toda minha roupa e a deixo jogada pelo chão do quarto, em seguida eu entro no banheiro e tomo um banho demorado lavando a raiz do meu longo cabelo, que havia crescido bastante nesses últimos anos e já estava até a cintura.

Abro a porta do box escutando o barulho de buzina do lado de fora da casa e caio em si quando lembro que eu comprei o remédio na farmácia e provavelmente seria o moto-boy. Pego a toalha que eu deixei em cima do vaso e me enxugo saindo do banheiro, jogo a toalha em cima da cama e me arrumo rapidamente, coloco a cabeça pra fora do quarto vestindo uma blusa fina e grito que já estava indo pro moto-boy, até ele parar de buzinar na rua.

Apresso os passos e vou até o guarda-roupas e abro a gaveta pegando uma calcinha de renda, depois abro outra gaveta pegando um short confortável e desço correndo pra atender o moço que se eu demorasse mais um pouco, iria embora. Pego o dinheiro que eu já tinha deixado em cima da mesinha de centro da sala, pra garantir e não ficar procurando igual uma doida e abro a porta indo lá pra fora. Abro o portão e vejo um moreno, com reflexo no cabelo que estava sentado na moto, com os braços apoiados nela e o capacete entre eles, ele vira a cabeça pra mim, guardando o celular nos bolsos assim que me aproximo com os braços cruzados.

Eu: Desculpa pela demora- ele me olha nos olhos e dá um sorriso. Digamos que seja o sorriso mais bonito que eu vi por aqui.

- Tem nada não, minha vontade de ir embora até passou- ele diz como quem não quer nada e se desencosta da moto e pega a sacola preta com o remédio que estava no guidao e me entrega.

Eu: Não parecia à uns dez minutos atrás- pago de maluca e ele arqueia uma das sobrancelhas fazendo um olhar cínico.

- Nunca te vi por aqui não, chegou faz quanto tempo?- muda o assunto e se apoia na moto de novo, me fitando com um olhar curioso.

Eu: Nada menos que quatro meses, e pelo que eu acho, você já mora à um tempo, né- pergunto interessada.

- Nasci e cresci aqui, passei dos piores aos melhores momentos da minha vida nesse lugar. Podem falar o que quiser por aí, mas aqui no jacaré é moradia pra um pá de gente- fala bem orgulhoso desse lugar.

Eu: Admiro isso, mostra que você não é ingrato pelo lugar que cresceu- falo cobrindo os braços pelo frio.

- Papo reto mesmo. Tô vazando, vou tirar teu lazer aí não, qualquer dia nós se bica de novo- ele pisca pra mim antes de colocar o capacete e acelerar com a moto, sumindo por uma das vielas dessa grande favela.

Ele é interessante, soube puxar assunto e eu acho que é o primeiro homem bonito e jovem que eu vejo tendo um trabalho de verdade, sem tá carregando um fuzil e um radinho pra cima e pra baixo montado numa moto. Entro e fecho o portão com a chave, depois entro dentro de casa e vou até a cozinha, pegando um copo d'água e subo pro quarto da minha mãe, pra falar o que aconteceu hoje e saber qual será a opinião dela sobre isso.

-

Quando eu volto pro meu quarto depois de conversar por um determinado tempo com a minha mãe, eu penso seriamente nas coisas que ela me falou. Mesmo que seja longe, é melhor eu aceitar o trabalho que o Carlos indicou pra mim, porque pode acontecer de eu não ter a oportunidade de conseguir um trabalho rápido, e não é isso que eu quero mesmo.

Pego meu celular que eu deixei em cima da cama e desbloqueio, abrindo o aplicativo de mensagens e vejo um áudio novo que a Rebeca havia me mandado. Dou play e quase não consigo escutar a voz dela em meio a uma remixagem de músicas que estava tocando no fundo.

Áudio: (mulher, eu esqueci de te perguntar mais cedo. Talvez você esteja dormindo agora por conta do horário, mas se não tiver, me responde aí e me diz se vai querer ir no baile da penha comigo agora. Se for te convencer de algo, lá vai ter muita pica pra você experimentar, viu)
01:10 AM.

Ela termina o áudio rindo e também dou risada pelo jeito doido dela. Penso seriamente se ia ou não, nunca fui nesses tipos de baile e eu conheci a Rebeca hoje, não deveria confiar tanto assim e ainda tem a minha mãe, que tá doente e eu tenho um medo do caralho de deixar ela em casa sozinha.

Minha Luxúria Onde histórias criam vida. Descubra agora