Souza, 27 anos.
Eu: Que porra tu tá falando, Nepo? - pergunto dando um gole no uísque com gelo de maracujá e observo o movimento do baile daqui de cima do camarote, inclinado na grade.
Nepo: Da Rebeca, pô, tá toda pomposa com aquela roupa lá, ainda tá rebolando na minha direção. É o cão mermo- nega com a cabeça e eu estreito os olhos olhando pra ela. Rebeca é bonita, gostosa e boa pra trocar uma ideia, mas é irmã do de frente da penha e eu não gosto de pegar parente de parceiro.
Eu: Ela não tem nada demais, tá com falta de buceta, porra? - gasto e ele ri ajeitando o boné na cabeça.
Nepo: Tô nada, mas a Rebeca é minha meta, irmão, e pra tu não ficar me gastando aí falando que eu tô todo iludido e pá, já dou logo o papo que ela me deu um sorrisinho ontem - nego com a cabeça não querendo botar fé nisso não. Quando Nicolas quer, ele é esperto pra caralho, mas tem hora que ele não dá uma dentro.
Eu: Pensei que tu fosse mais esperto, Nicolas, tu vai mermo achar que a Rebeca tá te dando moral? aquela porra ali é toda malandra - aponto com a cabeça pra onde ela tava, mas agora não tá mais e continuo olhando ele.
Nepo: Tu tá acabando com as minhas esperanças, vou nem mais falar as coisas pra tu - fala todo bolado e eu faço pouco caso bebendo mais um pouco do meu uísque.
Fico de pé em frente a grade e ajeito meu relógio no pulso, vejo a hora e são quase três da manhã. Olho novamente pro pessoal lá embaixo e vejo mais gente chegando e fazendo o baile ficar ainda mais lotado, Nepo que antes tava do meu lado agora tá dando idéia numa loirinha da zona sul que tem um corpinho bonito, mas a cara não é de agradar muito.
Kaleu chama minha atenção quando escuto ele cantar 'Toda Hora' do Cabelinho que o dj botou pra tocar e vem até mim com uma lata que provavelmente tá com lança.
Kaleu: Qual foi, patrão - fazemos toque e ele deixa a lata em cima da mesinha alta que tinha o balde de gelo com as bebidas dentro.
Eu: Já mandei o papo que não quero tu usando essa porra, próxima vez vou mandar te descer a porrada - ele cruza os braços de uma forma afrontosa e sustenta o olhar no meu.
Kaleu: Vou parar, tava só experimentando pela quarta vez só - nego com a cabeça e pego a garrafa de uísque no balde, abro e derramo sobre o meu copo que tava em cima da mesinha. Coloco duas pedras de gelo e dou dois goles voltando a olhar pra ele.
Eu: Já tá avisado - aponto pra ele com o copo nas mãos e me inclino novamente sob a grade.
Kaleu: Saynara tá querendo subir, desci pra poder dar um mijão ali na rua e quando voltei ela pediu pra te avisar - continuo olhando pro movimento lá embaixo e pego um cigarro e o bic do bolso, acendo e jogo de novo o bic dentro do bolso.
Eu: Pode mandar subir, mas não quero problema igual da última vez - esclareço lembrando da última vez que teve baile aqui. Saynara é daquelas mina ciumenta pra caralho, vê eu trocando ideia com alguma e já vai pra cima querendo bater na mulher.
Kaleu: Depois eu vou, vou deixar ela plantada ali um pouco que ela viu meu pau e ficou gastando - olho pra ele e seguro a risada, disfarço mexendo no nariz e olho pro lado fumando o cigarro, prendo a fumaça na boca e solto.
Kaleu: Tá querendo rir, safado? olha que eu explano o teu também - não consigo segurar a risada com essa e ele ri também, mas logo me olha sério de novo.
Eu: Vai explanar o que se tu nunca viu, porra. O mermo problema que tu tem, eu não tenho, me garanto pra caralho - verdades sejam ditas, o pai aqui é abençoado.
Kaleu: Vou fazer cirugi... caralho! - acompanho o olhar dele que tava no movimento aqui embaixo e fico sem entender o que ele viu pra ter essa reação. Até que vejo a Rebeca e uma moreninha com ela, que se destaca entre o baile todo.
Eu: Amiga dela?
Kaleu: Deve ser, mas nunca vi ela por aqui não. Caralho, irmão, que mulher é essa!
Fico em silêncio e analiso bem a branquinha do cabelo preto e reparo na roupa dela, um vestido todo apertadinho com uma abertura nas coxas e desço o olhar até os saltos pretos que ela tá usando. Apesar de se vestir igual uma mulher, não dou mais que 20 anos.
Eu: Manda a Rebeca subir aqui - mando e ele se afasta ajeitando o fuzil, dou o último gole no uísque e dou um trago no cigarro soltando a fumaça pra cima. Mandei chamar a Rebeca aqui porquê automaticamente a amiga iria vir também e ela me deixou curioso.