Gabriela
Rebeca: Mas eu fiquei preocupada, Gabi. Pensei que cê tinha se perdido pelo baile, fiquei maluca atrás de você- observo ela falar pelo reflexo no espelho, sentada na ponta da minha cama. Chamei a Rebeca pra vir aqui em casa depois de ter passado alguns dias do baile, e agora estamos no meu quarto conversando, enquanto eu termino de pranchar o meu cabelo.
Eu: Mas eu te mandei mensagem depois - pego uma mecha e coloco na boca pra poder pranchar outra e passo a prancha.
Rebeca: Depois de um bom tempo, né. Mas tá tranquilo, pelo menos se divertiu com o boy que você saiu? - olho pra ela pelo espelho me lembrando daquele dia.
Eu: Só tenho uma coisa a dizer sobre isso.. sem palavras - ela me joga um travesseiro que estava em cima da cama e eu rio baixo.
Rebeca: Então foi bom? - ela coloca uma almofada no colo e apoia os cotovelos me olhando com a mão no rosto.
Eu: Foi ótimo, só esqueci de perguntar o vulgo dele, porque o nome ele não quis dizer- passo a prancha na última mecha do meu cabelo e finalizo passando um óleo de cocô nos fios e outro óleo de rícino nas pontas. Me levanto virando de lado no espelho e analiso meu cabelão que vai até abaixo da cintura.
Rebeca: Pelo menos passou o número pra ele, né? não dá bobeira de perder um boy que fez isso na tua bundona aí- aponta com a cabeça pra minha bunda e por eu estar com um short fininho e curto, observo as marcas de dedos super vermelhas que ele deixou.
Eu: Isso aqui foi pouco do que ele fez, amor. Quem sabe, sabe - olho pra ela com uma carinha travessa e passo por ela indo até a minha cômoda do lado da cama pra pegar meu celular.
Rebeca: Então agora é só esperar ele te mandar mensagem- ela se debruça na minha cama olhando o teto.
Eu: Ele não vai mandar- falo olhando algumas mensagens no Insta, pelo story que eu postei.
Rebeca: Por que não, doida?- deita de barriga pra baixo me olhando, ignoro a maioria das reações e deixo o celular de lado.
Eu: Porque eu não dei o meu número certo- nego com a cabeça dando um sorriso de lado ao me lembrar dessa pilantragem que eu fiz. Me abaixo pra pegar a prancha e os outros itens que estavam no chão, perto do espelho.
Rebeca: Tá zoando? - senta na cama rindo- mulher, eu te venero, tá pior que eu nas malandragens pra cima de homem - me olha rindo negando com a cabeça - caraca, eu tô boba, você com essa carinha aí engana qualquer um.
Eu não posso fazer nada em relação ao que eu fiz, sou desse jeito, apesar da pouca idade, não sou boba em não saber que aquele homem é de patente alta no crime. Trocamos números, eu dei algum número aleatório, ele me passou o dele, mas eu não vou chamar. Foi apenas uma vez, não quero dar o gostinho de um replay pra ele.
Eu: Eu só fiz isso, porque sei que a gente não vai mais se ver, porque se a gente se trombar, é capaz dele me esganar por ter feito ele de otário. Pela carinha dele de marrento naquele dia, o homem tem o pavio curtíssimo- meu pelos até se arrepiam ao lembrar daquela voz grossa no meu ouvido dizendo o que faria comigo.
É, eu não posso mentir. O cara sabe fuder muito bem.
Rebeca: Então ajoelha e reza, o mundo é pequeno demais - ela levanta se espreguiçando e dá um tapa na minha bunda, acabo suspirando com a dor que fica- tô indo pra casa, gostosa, qualquer coisa me manda mensagem. E não precisa me levar até a porta, eu já me sinto em casa- pisca pra mim e abre a porta do meu quarto.
Eu: Rebeca? - chamo ela que me olha- eu tava com uma dúvida desde ontem, mas se não quiser responder não precisa, e.. - ela me interrompe.
Rebeca: Pode perguntar, não precisa ficar com vergonha não - suspiro e confirmo com a cabeça.
Eu: Por que você mora aqui ao invés de morar na comunidade que o seu irmão lidera? - ela franze a sobrancelha por alguns segundos.
Rebeca: Eu e ele morávamos aqui antes do Souza mandar ele ir pra lá pra poder administrar, sem contar que eu inaugurei meu salão à pouco tempo também. São vários motivos e o principal é porque eu gosto de morar aqui mesmo- confirmo com a cabeça pelas respostas - é só isso? se tiver alguma dúvida
Eu: Era só isso, desculpa se fui intrometida.
Rebeca: Que nada, doida. Tô indo agora, beijo- ela fala e sai do quarto encostando a porta. Escuto o barulho da porta da sala se fechando e depois o portão, e tenho a certeza que ela já foi.
Vou até o quarto da minha mãe pra ver como ela está e abro a porta vendo ela em pé mexendo no controle da tv. Dos últimos dias pra cá, minha mãe começou a fazer tratamento pela doença dela, e já teve uma melhora muito significativa, se vissem ela antes e verem como está agora, não acreditariam ser a mesma pessoa, minha mãe escolheu viver e é por isso que ela está lutando a cada dia. E até parar de fumar ela parou, porque viu que não fazia bem pra ela.
Ela nota a minha presença no cômodo e se vira pra me olhar, dá um sorriso e deixa o controle em cima da cômoda onde está a tv.
Luana: Dá trabalho demais esses controles, antigamente os botões ficavam na televisão, não sei porque mudaram- sai do quarto passando por mim e desce as escadas indo até a cozinha e eu a sigo.
Minha mãe foi mãe super nova, ela me entende em tudo, não me critica se eu tiver alguma atitude infantil ou me julga, ela já passou por coisas piores com os pais e ela sempre diz que nunca iria querer me ver passando pela mesma situação. Apesar de ainda ter 32 anos, ela entende muito bem sobre redes sociais e etc, mas pra mexer num controle já vimos que é difícil pra ela.
Eu: Comprei essa televisão porque achei mais prática, e a senhora pode ver séries também, tava até vendo ontem que eu vi- ela confirma jogando o comprimido na boca e depois bebe a água.
Luana: Eu gostei daquela série, qual é o nome mesmo? é em inglês- me encosto na patente da cozinha e ela lava alguns pratos que tinham na pia.
Eu: The Vampire Diaries, eu não curti muito, tem uma que eu tô assistindo que é muito boa, depois eu coloco pra senhora- ela assente e termina de lavar os pratos secando a mão no pano e vai até a sala sentando no sofá jogando as pernas em cima, cruzando um pé no outro.
Ela aponta pra televisão com as unhas feitas, pintadas de vermelho e eu ligo a tv e coloco no canal de novela que ela assiste.
Luana: Pega meu celular aí- noto o celular em cima da estante, do lado da televisão e levo até ela que pega e desbloqueia. Me sento no sofá e ela joga as pernas no meu colo, dobro minhas pernas em cima do sofá e acabo ficando ali e assistindo as novelas da tarde com ela.
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Quando a última novela que passaria antes do jornal começar acaba, eu que estava deitada sob a barriga da minha mãe, me sento escutando algumas notificações chegarem no meu celular. Desbloqueio e vejo uma mensagem do Carlos na aba, dizendo que ele entrou em contato com o comércio que eu talvez trabalharia, mas que eles não precisariam de mim porque contrataram outra pessoa, agradeço a ele por ter me falado e desligo o celular ignorando o resto das mensagens que chegaram junto com as dele.
Olho pro rosto da minha mãe e a vejo dormindo por conta do remédio que tomou mais cedo, me levanto tirando suas pernas do meu colo e subo até o quarto dela pra pegar um cobertor e travesseiro. A cubro e coloco o travesseiro debaixo de sua cabeça e subo pro meu quarto pra tomar um banho, mas não consigo parar de pensar no que eu vou fazer agora que tô oficialmente desempregada.
Minutos depois, eu saio do banheiro com apenas uma calcinha de renda branca fina e vou até minha cômoda que está cheia de produtos pra pele, cabelo e etc. Passo um creme hidratante no corpo, perfume e tiro a touca de cetim do meu cabelo, sentindo ele cair sobre minhas costas. Coloco uma blusa fina que estava na cama e pego meu celular olhando as mensagens pela aba, mas apenas entro na da Rebeca.
Rebeca: Vamo sair pra beber um pouco? se arruma aí que eu já apareço. Se não quiser ir, me fala sua gostosa.
Rebeca: 😍