⚡️AVISO DE GATILHO: o seguinte capítulo contém menção à luta contra transtornos psicológicos, mais especificamente o TOC⚡️
"Você faz isso com você mesmo, você faz
E isso é o que realmente machuca"
-Just (Radiohead)
🍇🍇🍇
Omenino andava distraído, tentando contar as árvores pelo caminho até a escola.
Foi um som baixo, apenas um ruído, que chamou sua atenção.
Um pequeno pardal estava debaixo de uma das árvores.
Julian o analisou. Estava com a asa quebrada.
Ele o pegou gentilmente, tomando cuidado para não machucar ainda mais o pobre pássaro.
Beijou a pequena cabeça do animal.
Sentia uma simpatia profunda pelo ser que acabava de conhecer. Os dois eram parecidos: ambos sozinhos, quebrados, perdidos.
🍇🍇🍇1, 2, 3, 4, 5, 6, 7...
"Você viu minha toalha?"- perguntou José, colocando a cabeça pra dentro do quarto.
"Tá dentro do guarda roupa"
Após responder o irmão mais velho, tentou se lembrar de onde havia parado. Não se contentou em continuar, reiniciando a contagem do começo.
Se perguntassem, ele não saberia dizer quando começou, nem explicar o porquê. Mas quando a angústia apertava firme em seu peito e os pensamentos estranhos não paravam de invadir sua mente, pequenas manias silenciosas nasceram. Contar até 10 antes de dormir, lavar as mãos três vezes consecutivas, repetir frases em sua cabeça para afastar pensamentos de morte.
Em um momento, era o rosto inerte de seu pai que aparecia no caixão em seus pensamentos. Em outro, era o de José. Todos pálidos e imóveis como o de sua mãe.
Sua mente o acusava de ser uma pessoa ruim. Ele não poderia deixar de acreditar. "E se..." . Todos aqueles pensamentos o assustavam. Não entendia o porquê. Sua família não percebeu. Tudo parecia normal. Apenas ele sabia de seus rituais repetitivos.
Sempre que acordava durante as madrugadas, coberto em suor, lágrimas escorrendo dos olhos, a culpa o invadia como um oceano tumultuoso. Nesses momentos ele precisava checar sua memória pra ter certeza de que não havia feito nada de errado. 10 vezes, se necessário.
A pequena ave, escondida embaixo de sua cama em uma caixinha de papelão, era o que trazia algum conforto.
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O amor tem sabor de amoras
General FictionJulian perdeu a mãe e sente que já não é mais o mesmo. Sua sanidade se esvai enquanto conta números incessantemente. Para manter um pouco de si, se segura em seu melhor amigo, o garoto de grandes olhos castanhos. Eduardo sente algo diferente quando...