Capítulo 19- Perdas (Parte 2)

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✨️AVISO: o capítulo a seguir pode conter algumas doses de vergonha alheia (huashuash). Brincadeiras a parte, essa segunda parte está mais leve que a primeira ✨️

"Me vira de ponta cabeça
Me faz de gato e sapato
E me deixa de quatro no ato
Me enche de amor"
-Lança perfume (Rita Lee)

🍇🍇🍇

Próximo à chegada do vestibular, comecei a me sentir muito nervoso.

Meu coração disparava sozinho às vezes e tinha crises de choro. Quase temi ficar igual a Julian.

Ir para a faculdade era muito importante para mim. Não sabia o que faria se não conseguisse.

Em uma tarde de sábado, enquanto minha mãe estava ocupada com algum serviço doméstico, eu me encontrava sozinho no meu quarto. Entediado. Um dia quente e enfadonho.

Deitado na cama, decidi recorrer a única coisa que me desestressava.

Deitei em cima da minha mão direita até senti-la dormente.

Não sou nenhum pervertido, só para deixar claro.

Eu só fazia o que todos os outros rapazes da minha idade também praticavam e tinham vergonha de admitir. Naquela altura, com 17 anos, eu já nem me importava com aquelas ameaças de emburrecimento, cegueira ou criar pêlos nas mãos. Eu só queria curtir o momento.

É verdade que depois eu ficava numa deprê enorme e rezava, pedindo perdão a Deus por ter feito aquilo. Me sentia mal em saber que Ele assistia tudo, até o que eu fazia escondido e sabia que ele tinha conhecimento das minhas fantasias. Meu problema é que eu não conseguia parar. Depois da primeira vez, já era. A sensação viciava. A tristeza e o medo de ter cometido um pecado sempre acompanhavam, mas isso eu resolvia depois.

Eu já sabia que minha homossexualidade era um fato. Não significa que eu a aceitava. Tinha meus próprios conflitos em relação a isso, mas o fato de me tocar pensando em Julian não queria dizer que estava apaixonado por ele, certo? Era só tesão. Só os hormônios.

De vez em quando eu ia visitá-lo no trabalho.

Sem camisa, os braços fortes, suados e sujos de graxa, a calça jeans apertada, o volume bem marcado.

Ele ficava tão...

Gostoso.

Delicioso.

A mera visão dele era orgásmica.

Era horrível admitir.

Ele já era o alvo principal dos meus sonhos molhados desde os 15, mas estava ficando irresistível aguentar. Estava ficando louco.

Sentia vontade de beijá-lo, acariciá-lo, mordê-lo, arranhá-lo, tocá-lo.

Só de sentir o toque de suas mãos contra minha pele me causavam pensamentos maliciosos.

Como estava adormecida, sonhei que aquela mão pertencia a Julian, não mais a mim. Era meu amigo que me tocava lá embaixo.

Mordi o lábio inferior, soltando um gemido baixo.

Ele me fazia ver estrelas. Quero dizer, sei que na verdade eu fazia aquilo comigo mesmo, mas era ele o culpado, não é? Era Julian o responsável por me fazer sentir todas aquelas vibrações, ver todas aquelas cores, sentir meu corpo soltando uma melodia. Perdi a conta de quantas "transas imaginárias" tivemos.

Quando estava quase chegando lá, ouvi o som da porta se abrindo.

"Eduardo...", mamãe entrou, segurando um cesto de roupas, dando um passo para trás assim que percebeu o que eu estava fazendo.

"Ai, Jesus, perdão. Misericórdia!"

"Puta que pariu, mãe, por que não bateu na porta?"

"Eu não sei, ela estava destrancada, pensei... não sabia, perdão"

"Pode entrar já... tá tudo bem"

"Acabou?"

"Sim"

Ela entrou no quarto, mas evitava contato visual comigo. Meu rosto ardia de vergonha. Minha própria mãe pensaria que eu era um maldito punheteiro.

"Eu só vim deixar as suas roupas"

"Tudo bem"

"Olha, Eduardo, eu queria dizer...", começou, ainda sem olhar para mim, "que... isso que você estava fazendo... é natural, tá? E saudável..."

Meu Deus, tive vontade de morrer. Por que os pais achavam que sempre tinham que ter "aquela conversa" com os filhos? Quero dizer, pela fé, eu já tinha quase 18 anos, sabia o que estava fazendo. Não era mais uma criança assustada.

"Mãe!"

"Eu só queria que você soubesse..."

"Mamãe, eu sei", respondi, rindo de nervoso. Aquela situação seria cômica se não fosse trágica, "a senhora não precisa falar. Relaxa!"

Ela assentiu e se virou, em direção a porta do quarto.

"Mamãe?"

Voltou a cabeça em minha direção, um olhar interrogativo.

"Tá tudo bem?"

Fez que sim.

"Por que não estaria?"

As coisas em casa estavam péssimas. Os jantares eram tomados de silêncio, onde só ouvíamos os sons dos talheres batendo nos pratos. Eu não sabia o que estava acontecendo entre meus pais, mas sabia que havia algo que eles não queriam contar. Me senti excluído.

A verdade é que eu sentia muito medo do que poderia acontecer. Pode parecer exagero, mas eu temia as ações do meu pai. Minha relação com ele piorou muito depois que, uma certa vez, ele estava partindo para cima dela e eu entrei na frente, desferindo um tapa no rosto dele. Não me perdoava por isso, mas eu nem mesmo pedi desculpas. Nunca me arrependi de defendê-la. Porém eu sabia que o preço a se pagar era alto. Minha família, que já estava mal das pernas, iria para o brejo de vez.

Dei de ombros.

"Eu não sei, mãe, eu só... queria saber"

Ela sorriu.

"Tá tudo bem. Não se preocupe com isso", falou, me jogando um beijo no ar.

Devolvi o beijo, usando a mesma mão que estava em atividade momentos atrás.

Quase gorfei.

Estava fedida demais.

O amor tem sabor de amorasOnde histórias criam vida. Descubra agora