Capítulo 24- Mentiras

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No dia seguinte, Julian decidiu passar na casa dos Almeida Oliveira para conversar com Eduardo. Sabia que ele provavelmente estaria dormindo, mas sua mãe acordava cedo então ele esperaria até que o amigo levantasse.

Foi surpreendido quando o próprio Eduardo abriu a porta.

"Nossa, que horas são?", perguntou, olheiras enormes sob seus olhos.

"Você passou a noite em claro?"

"Digamos que sim. O que você quer?"

Deu de ombros.

"Nada, eu só... vim perguntar se você tá bem"

"Tô ótimo"

Era mentira.

"Tem certeza?"

"Claro"

Outra mentira.

Ele não poderia fazer nada a respeito disso.

"Não vai me convidar pra entrar?"

"Ah, é verdade. Entra", disse, liberando espaço.

Eduardo o guiou até a cozinha.

"Senta aí. Eu vou passar um café"

"Edu, posso te perguntar uma coisa?"

"Claro", respondeu, pegando a garrafa de café.

"O que aconteceu ontem?"

"O que exatamente?"

"Não sei, você teve uma reação estranha quando eu falei que saí com uma garota algumas vezes"

"Ah, isso", riu, de costas para Julian, concentrado na pia, "acho que eu só fiquei com inveja"

"Inveja do quê?"

"Sabe, é porque você conseguiu alguém, mesmo que por pouco tempo e eu não consegui ninguém ainda"

"Mas você teve uma namorada por dois anos, Edu"

"Ah, isso era diferente. Aquilo era coisa de criança"

Julian não aceitou bem a resposta, mas preferiu não contra argumentar. O que quer que tivesse acontecido com o amigo, era apenas um assunto pessoal dele. Seria invasivo perguntar demais.

Eduardo estendeu uma xícara a Julian e se sentou à mesa. Os dois tomaram café em silêncio. 

“Ju?” Eduardo iniciou. 

“Oi?” 

“Você… você sente que precisa agradar todo mundo?” 

“Como assim?” 

Suspirou. 

“Não sei, tipo… é como se a gente precisasse ser perfeito o tempo todo. Como se todo mundo precisasse gostar da gente e nos aceitar.”

Julian deu de ombros. 

“Ah, cara, já… eu não te contei ontem, mas eu descobri que tenho TOC. Às vezes, sinto que preciso mascarar isso, entende? Como se eu tivesse que ser uma pessoa “normal” e não atrapalhar os outros com o meu transtorno”

“Eu sinto muito por você”, respondeu, pegando a mão do outro. “Me sinto muito assim às vezes. Parece que… sei lá, se eu não entrar num molde do que as outras pessoas querem que eu seja eu vou magoar alguém”

Julian fez carinho na mão de Eduardo com o polegar.

“Se te serve de consolo, acredito que todo mundo se sente assim às vezes. Todo mundo quer ser aceito, cara. Todo mundo quer se encaixar em algum lugar. Só que eu acho que às vezes a gente não se encaixa mesmo. Quer saber? Não tem problema nenhum. A minha vida inteira eu fui o esquisito. E daí? Sou o que sou. Pelo menos eu achei outro esquisito”, riu. 

Depositou um beijo na mão de Eduardo, que sorriu. 

“Obrigado, Julian. Você sempre sabe a coisa certa a se dizer.”

”

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O amor tem sabor de amorasOnde histórias criam vida. Descubra agora