Foi em maio de 1994 quando ele se aproximou de mim no recreio, era uma das crianças mais esquisitas que eu já tinha visto. Por causa das orelhas de abano, os outros costumavam chamá-lo de dumbo, inclusive eu já me referi assim a ele mentalmente, mas nunca o chamei assim na cara. Minha mãe dizia que não era educado chamar as pessoas por nomes ofensivos.
"Oi" disse. Sorriu. Seus dois dentes da frente tinham um espacinho no meio.
"Oi" respondi, meio a contragosto.
"Me dá uma?" pediu, apontando para o meu pacote de bolachas recheadas Trakinas.
Peguei e estendi um biscoito até ele, com má vontade. Mamãe falava para nunca negar meu lanche pras crianças mais pobres. Eu sabia que ele morava na parte mais ferrada da cidade. Um lugar com cheiro de esgoto.
Não sei o porquê, mas isso parece ter soado como uma aprovação para que ele se sentasse ao meu lado no banco.
Depois disso, todos os dias ele vinha se juntar a mim no recreio. Cheirava a naftalina. Seus olhos eram pequenos e desproporcionais ao rosto, o que me fazia lembrar um ratinho.
Apesar do desprezo inicial, eu nunca o proibi de se juntar a mim. Não tinha amigos. As outras crianças me achavam esnobe. Não que fosse mentira, mas eu não me importava.
Com o tempo, percebi que ele gostava de me fazer rir. Odiava admitir, mas sempre dava certo.Não sei quando aconteceu, mas com o passar dos meses eu passei a ansiar sua companhia ao meu lado. Quando ele faltava, me sentia muito só.
Foi só o começo da minha história com Julian.
🍇🍇🍇Oi, pessoas, espero que vocês gostem da minha história. Estarei sinalizando novamente os capítulos que possuírem gatilhos.
Se gostarem da história, não esqueçam de votar e deixar um comentário.
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O amor tem sabor de amoras
General FictionJulian perdeu a mãe e sente que já não é mais o mesmo. Sua sanidade se esvai enquanto conta números incessantemente. Para manter um pouco de si, se segura em seu melhor amigo, o garoto de grandes olhos castanhos. Eduardo sente algo diferente quando...