"Eu era sua escrava, seu cão fiel e agradecido. Eu a amava com aquele ardor que eu colocava em todas as coisas"
- Herculine Barbin: o Diário de um hermafrodita
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Naquela noite, Julian voltou para casa sem saber o que pensar. Ele planejava dormir junto com Eduardo na casa que dividia com sua mãe, mas o amigo praticamente o expulsou. Não conseguia entender o que havia acontecido. Não fez nada de errado. Ou fez e não percebeu?
Eduardo agiu na defensiva na breve menção a uma garota aleatória com quem Julian saiu por duas ou três vezes. Eles nem sequer chegaram a se beijar.
Quando chegou em casa, seu pai já estava dormindo no sofá, com embalagens de comida espalhadas pelo chão e uma pequena poça de cerveja barata a seus pés.
Enquanto tirava os sapatos, sentado na cama, tentou analisar a situação. Estava prestes a contar o alívio que sentiu quando finalmente recebeu o diagnóstico para sua condição. Um amigo da faculdade o disse para procurar um psiquiatra. Ele passou um tempo juntando algum dinheiro de seu trabalho e foi à uma consulta. Depois de algumas sessões, o médico chegou a conclusão que seu paciente apresentava um quadro agravado de Transtorno obsessivo compulsivo. Saber que o que acontecia com ele tinha um nome o tranquilizou. Então, ele não era louco, como passou anos pensando.
Estava prestes a se abrir com o amigo, quando veio aquela reação estranha. Amava Edu como um cachorrinho e não suportava a ideia de decepcioná-lo.
Ele não podia entender o que causara aquilo, nem porque o outro se importava tanto e porque quis saber se ele transou com a mulher.
Julian tinha dificuldade para entender o sexo. Sabia que era algo natural, mas não se sentia à vontade com aquilo. Achava estranho como seus colegas da faculdade dormiam uns com os outros com tanta facilidade, mesmo sem nenhum sentimento de apego ou amor. Não que os julgasse, apenas não conseguia entender. No fundo, tudo lhe parecia estranho, quase extraterrestre.
Já tinha se tocado algumas vezes na adolescência, mas nunca fantasiava com alguém. Simplesmente gostava da sensação. Fazia por tédio ou apenas para relaxar. Por outro lado, fazer aquilo com outra pessoa era diferente.
Se deitou na sua antiga cama, ainda vestido, pensando no que fazer. Adormeceu, sem sonhos.
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O amor tem sabor de amoras
General FictionJulian perdeu a mãe e sente que já não é mais o mesmo. Sua sanidade se esvai enquanto conta números incessantemente. Para manter um pouco de si, se segura em seu melhor amigo, o garoto de grandes olhos castanhos. Eduardo sente algo diferente quando...
