Capítulo 13- Primeiras vezes

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"Foi quando meu pai me disse: Filha
Você é a ovelha negra da família
Agora é a hora de você assumir
E sumir"
- Ovelha Negra (Rita Lee)
🍇🍇🍇

Meu primeiro beijo com Mariana foi, para dizer o mínimo, desastroso. Eu não sabia onde deveria colocar as mãos e nem o que fazer com a língua. Ela parecia ser bem mais experiente que eu, apesar de termos a mesma idade. A gente estava na sala de cinema, quase sozinhos na sessão. Não me lembro que filme estava passando, mas devia ser muito chato.

Quando nos separamos, eu estava sem ar. Ela sorriu.

"Eu vou no banheiro, tá? Já volto", falou.

Assenti e logo fiquei sozinho ali. Na tela, o casal também se beijava. O beijo deles era diferente. Parecia etéreo. Me perguntei o que havia de errado comigo. É claro que ela não devia ter gostado e provavelmente foi no banheiro lavar a boca. Suspirei, me sentindo um bocado humilhado. Talvez ela só não fosse a garota certa. Talvez eu devesse procurar melhor.

Pensei em Julian. Fazia uma semana que a gente não se falava. Eu o evitava na escola. Não nos encontrávamos mais desde que eu pedi que ele não me procurasse.

No escuro, me perguntei se não havia exagerado. Ele não parecia ter falado com malícia. Vai ver ele só tivesse se confundido.

Me perguntei como ele estava. Se o pai dele continuava sendo um boçal.

Quando Mariana voltou, disse que não me sentia bem e pedi pra irmos embora.

Assim que voltei para casa, encontrei mamãe lavando louça. Ela estava com os olhos inchados, como se tivesse chorado muito.

"Tá tudo bem?"

"Sim. Por quê?", perguntou, como se seus olhos não estivessem obviamente vermelhos.

"A senhora tava chorando"

"Eu cortei cebola", respondeu e voltou a lavar a louça.

Aceitei a resposta, mesmo sabendo ser mentira. Subi para o quarto. Naquela noite, percebi que ela passou a dormir no quarto de hóspedes.

🍇🍇🍇

Estávamos reunidos na mesa de jantar, um casal de amigos do meu pai comia conosco, meus pais juntos como se fossem um casal perfeito. Quem os visse ali, sentados, jamais diria que eles nem ao menos compartilhavam mais o mesmo quarto.

Eles gostavam de falar sobre política, futebol, religião e costumes.

Pouco tempo antes, um casal de mulheres havia se mudado para nosso bairro. Logo elas viraram assunto do boca a boca.

Meu pai e seus amigos criticavam as duas. Questionavam onde o mundo iria parar e o que havia acontecido com a moral. Falavam que elas deveriam ter vergonha de cometer tal indecência. Minha mãe não dizia nada, apenas comia em silêncio. Tentei seguir seus passos.

"O que você acha disso, Eduardo?", meu pai questionou.

"O quê?"

"Dessas duas..."

Não completou a frase. Era como se elas nem ao menos merecessem um adjetivo.

O amor tem sabor de amorasOnde histórias criam vida. Descubra agora