Capítulo 25- Solidão

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"É por isso que estou solitário
Eu sou o Sr. Solitário
Eu gostaria de poder voltar para casa"
- Mr. Lonely (Bobby Vinton)

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No começo de 2003, cada um de nós voltou para a cidade em que estudávamos.

Eu não conseguia me concentrar bem depois dos acontecimentos no final de 2002. Sentia que tinha assuntos pendentes, mas me esforçava para entrar de cabeça nos livros. Estudar virou meu refúgio. Me recusava a pensar no assunto. Quando não estava estudando, escrevia histórias de amor com finais felizes e fofinhos. Eram bobas, mas até que eram boas. Gostei especialmente de uma sobre um marinheiro que se apaixona por uma garçonete.

Quando eu não escrevia histórias de ficção, escrevia cartas. Escrevi algumas para minha mãe e tentei escrever algumas para Julian, mas não conseguia. Não sabia ao certo o que escrever.

Às vezes me pegava pensando em meu amigo e me sentia culpado. Com o passar dos meses, desenvolvi uma certa obsessão em ir a capela próxima a faculdade. Eu rezava todas as rezas conhecidas e me confessava com frequência. Às vezes sentia o olhar de julgamento do padre, mas achava ser coisa da minha cabeça.

Eu secretamente desejava ter a coragem de Julian. Queria poder acreditar ou desacreditar no que eu quisesse e mandar todo mundo a merda. Mas eu ainda me sentia preso nos princípios cristãos. Morria de medo das descrições do inferno e às vezes tinha pesadelo com isso. Eu acordava e implorava a Deus para me dar um coração diferente. Um coração novo. Mais puro.

Havia alguns garotos e meninas assumidos na faculdade. Desejei poder ser amigo deles. Achava que talvez assim me entenderia melhor. Nunca tive coragem de me aproximar. Me acovardava sempre que decidia tentar e desistia.

Às vezes alguns estudantes mexiam comigo, mas eu sempre revidava. Como na vez em que estava no banheiro e um cara começou a cantar Robocop gay numa voz fina, como se fosse a piada mais engraçada do mundo. Na ocasião eu apenas o mandei tomar no cu, mas minha vontade era de socá-lo.

Eu me recusava a aceitar meus sentimentos. Achava que se não pensasse neles, poderiam sumir. Só aconteceu ao contrário.

Os estudos não eram muito mais fáceis. Com alguma frequência, me fechava no banheiro e chorava. Nunca me senti tão burro. Uma vida inteira sonhando com a faculdade e agora eu só não me sentia capaz de continuar. Pensei em desistir várias vezes.

Ansiava por aprovação alheia e temia cometer erros. Queria que as pessoas me amassem e era capaz de morrer se decepcionasse alguém. Às vezes, coisas simples, como tentar fazer uma piada e ninguém achar graça de verdade, acabavam comigo. Minhas habilidades sociais eram terríveis.

As palavras de Julian, sobre ser "o esquisito" e tudo o mais, às vezes me traziam um conforto momentâneo, mas eu sentia que não conseguia ter a mesma leveza que ele. Ficava um pouco aporrinhado porque, no fundo, eu sentia que deveria ser o modelo ideal, que meu pai sempre desenhou para mim. Precisava ser perfeito.

Quando tinha coragem de ligar para minha casa, a fim de conversar com a mamãe, precisava segurar as lágrimas para não deixá-la preocupada.

"Você tá bem, Edu?"

Não.

Queria responder.

Sinto saudades de casa.

Sinto saudades de ser só uma criança junto a barra da sua saia.

Não consigo suportar tudo isso sozinho.

Por favor, deixe que eu volte para dentro do seu útero.

"Tô bem, mamãe. Espero que esteja tudo bem aí", falava, sentindo alguns olhares das pessoas que passavam ali perto do orelhão, tentando desesperadamente disfarçar com um sorriso, mesmo sabendo que ela não podia me ver.

Ser adulto era muito mais difícil do que eu imaginava.

O amor tem sabor de amorasOnde histórias criam vida. Descubra agora