Capítulo 12- Inimizade

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Julian observava o casal de mãos dadas na sua frente no corredor. O sinal anunciando o fim do intervalo soou.

Os dois, porém, continuaram andando no mesmo ritmo, como se não tivessem pressa alguma, as mãos dadas, sorrisos estampados no rosto.

Ele não sabia como se sentir em relação a isso. Sabia que um dia deveria fazer as mesmas coisas, mas sempre que pensava no assunto se sentia estranho. Não conseguia se visualizar arrumando uma namorada. Parecia que todos conseguiam e até ansiavam por aquilo. Ele não. Nem sequer se lembrava de já ter desejado por algo assim.

Havia algo errado com ele?

Seria normal não almejar por um amor
como aquele?

Era como um peixe fora d'água.

Olhou para Eduardo ao seu lado. Percebeu que o outro também encarava as mãos dadas do casal.

Sabia, pelo seu olhar, que ele travava as mesmas batalhas internas, mas por seus próprios motivos.

Foi quando ele ousou fazer algo.

Suas mãos encontraram uma à outra.

A de Eduardo era pequena, gordinha e quente, um contraste com a mão fina, calosa e fria de Julian.

Sabia que aquilo poderia render comentários, mas não se importou. A única coisa significativa naquele momento era o bem estar dos dois. Ter a certeza de que não estavam sozinhos enquanto o outro existisse.

                             🍇🍇🍇

"Como vai as coisas com a Mariana?", perguntou

"Ah, vai bem"

"Vocês já se beijaram?"

Silêncio.

"Já. Claro"

Julian o conhecia o suficiente para saber que estava mentindo.

"Faz tempo?"

"Sim"

"Quantas vezes?"

"Várias"

Ele estreitou os olhos.

"O que foi?"

"Por que você tá mentindo?"

"Não é mentira"

Abriu a boca para falar algo, mas se calou.

"Tá bom, se você diz"

"O que foi, Julian? Por que duvida?"

Não respondeu de imediato. Olhou ao redor. Estavam outra vez debaixo do pé de amoras. Ninguém passava na rua.

"É que eu sempre achei que você gostasse de menino"

Viu a cor do rosto de Eduardo sumir, a boca virar apenas uma linha fina.

"Eu vou embora", falou, a voz trêmula, levantando de onde estava sentado.

"Por quê?"

"Eu não vou ficar aqui com você me insultando"

"Mas eu não te insultei", disse, se levantando.

"Cala a boca", gritou.

Empurrou Julian, o que o fez cair.

"Não me procura mais. Eu não sei como pude andar tanto tempo com... com uma pessoa igual a você"

Virou as costas e foi embora. Julian desejou poder engolir todas aquelas palavras que levaram àquela situação desastrosa. Só tinha um amigo e havia acabado de perdê-lo.

O amor tem sabor de amorasOnde histórias criam vida. Descubra agora