Ciúme:
"Estado emocional complexo que envolve um sentimento penoso provocado em relação a uma pessoa de que se pretende o amor exclusivo"🍇🍇🍇
Julian estava certo, afinal. O tempo longe dele de certa forma me fez bem. Pude desenvolver um pouco da minha personalidade. Descobri minha paixão pela escrita e conheci outras pessoas que compartilhavam do mesmo sentimento que eu. A arte tem um poder curativo maravilhoso. Era como se todas as dores do mundo pudessem ser sanadas com papel e caneta. Fiz alguns novos amigos assim.
Entretanto, tinha os pontos baixos também. Embora eu adorasse meus amigos, sempre havia algo de superficial em nossas relações, como se não fosse real o suficiente. Era bom sair para beber, conversar e nos divertir, mas um ombro para chorar, ouvidos para escutar desabafos e uma boca para consolar eram escassos. Não havia abertura para isso, poderiam rir de mim. Ninguém conta como é difícil estabelecer conexões firmes e duradouras na vida adulta. Por conta disso, passei muitas noites chorando de solidão. Quando a noite caía, eu me refugiava no meu travesseiro para afogar as lágrimas. Eu sentia falta de Julian, sim, mas de alguma maneira também sentia falta de mim. Falta de pessoas verdadeiras. Temia morrer só. Temia o que poderia haver na vida após a morte. Temia nunca mais encontrar alguém para me apoiar quando Julian não pudesse fazer isso.
A gente estava de férias da faculdade quando voltamos para nossa pequena cidade para o Natal de 2002. Foi um alívio para mim sair das minhas pequenas crises existenciais e voltar ao mundo real de novo.
Meu reencontro com Julian depois de todos aqueles meses longe foi exatamente do jeito que eu imaginava. Senti tanta falta dele. A distância nos fez bem, serviu para firmar nossos laços.
Assim que nos vimos na rodoviária, Julian me abraçou e beijou cada pequeno centímetro do meu rosto, com exceção dos lábios. Ele sempre pulava a boca. Dizia que ela era reservada apenas para a pessoa com quem eu fosse dividir a vida.
Eu quase me esqueci de como ele me fazia sentir especial. Julian me colocava nas nuvens.
Decidimos passar uma noite no cinema, assistindo um filme qualquer. Julian escolheu O senhor dos anéis: as duas torres. Eu não tinha assistido o primeiro filme então não consegui entender nada, mas ele amou.
Sei que parece bobo, mas ver meu amigo obtendo um pouco de felicidade por conta de um filme me deixou muito alegre. Fazia tempo que eu não o via assim.
Ele segurou minha mão durante todo o filme. Acredito que era para ser apenas um gesto inocente, mas aquilo mexeu comigo de uma forma que eu não esperava. Tinha 18 anos, mas ainda era virgem e a única pessoa que eu havia beijado era Mariana. Qualquer pequeno sinal deixava meus hormônios em polvorosa. Talvez fosse só carência. Sei lá.
Gostava da forma que nossas mãos se encaixavam, como se tivessem sido feitas sob medida uma para a outra. Ele segurava bem firme, como se eu fosse sumir a qualquer momento.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O amor tem sabor de amoras
Aktuelle LiteraturJulian perdeu a mãe e sente que já não é mais o mesmo. Sua sanidade se esvai enquanto conta números incessantemente. Para manter um pouco de si, se segura em seu melhor amigo, o garoto de grandes olhos castanhos. Eduardo sente algo diferente quando...