11.🍷

171 19 3
                                    

Kitra

Peguei a boleira onde ainda tinha alguns pedaços de bolo cortados, peguei as nossas taças de vinho e levei tudo para a cozinha. Como sempre, meu irmão e minha cunhada dormiram nos primeiros minutos do filme, fico desacreditada em como é só começar que eles já dormem. 

Dessa vez até que conseguimos curtir a noite mais do que esperávamos. Fizemos karaokê, conversamos e fofocamos muito sobre a vida alheia, até choramos, ou melhor, a Dhio e eu choramos relembrando alguns momentos bons que já vivemos. No final de tudo decidimos assistir o filme, de início iriamos esperar o Gabriel, mas já se passavam das onze e como ele ainda não tinha chegado, decidimos iniciar.

Peguei as taças e as lavei, guardei a garrafa que por um milagre foi a única que não conseguimos beber toda e ao abrir a geladeira, vi que o vinho que minha mãe tinha guardado para o Gabriel ainda estava lá. Ela sabe que ele ama vinho gelado, essa foi uma das manias que tinha pegado do meu irmão. 

Não pude deixar de sorri, pequenas coisas assim me lembram muito dele.

- Sorrindo pra geladeira? Tá ficando maluca mesmo.- ouvi uma voz bem perto de mim.

Senti meu corpo inteiro estremeceu e dei um pulo. Estava arrepiada e era possível escutar as batidas fortes e aceleradas do meu coração.

- Caramba Gabriel, qual é o seu problema?- falei ao colocar minha mão sobre o peito.

- Eu que pergunto, qual o seu.- resmungou olhando no fundo dos meus olhos - Calma, não infarta.

- Como que não infarta? Você nem avisa que tá aqui.- tentei controlar minha respiração.

- Não tenho culpa, eu só soube que você estava aqui por causa da luz da geladeira.- tirou uma garrafa de dentro dela, abriu, colocou a mão embaixo e a virou na minha boca - Bebe com cuidado.

Fui bebendo a medida que ele colocava na minha boca e aos poucos fui ficando menos ofegante. Não me levem a mal, mas justo quando eu estava pensando no meu irmão, o Gabriel resolve aparecer como um fantasma...ai fica complicado.

- Tá mais tranquila?- perguntou guardando a garrafa e eu assenti - Acho que cheguei meio tarde, não é?

- Ainda pergunta?- dei dois passos  pra trás me afastando, estamos tão perto um do outro que consigo sentir a respiração dele em mim.

- Foi mal, lá acabou mais tarde do que eu imaginava.- tentou se justificar - Mas não é como se eu estivesse te dando satisfação. 

- Eu sei que não.- entrei no joguinho dele só pra não iniciarmos uma discussão - Bom, vou acordar eles pra irem pra cama.- fui passar por ele mas senti sua mão me puxar de volta e consequentemente me fazendo bater as costas na geladeira.

- Não é justo vocês comemorarem e eu não.- apontou - Nem comi o bolo que eu mesmo fiz.

- Primeiro que você não comemorou porque não quis, e outra, quem fez o bolo foi eu, você só fez abrir os potes e me dar.- cruzei os braços.

- Primeiro que se eu não estivesse aqui pra fazer isso não teria bolo.- ironizou falando igual a mim - E outra, eu não tive escolha. Só vamos comer, por favor!

- Ué, achei que tinha jantado lá na casa da sua namorada.- joguei verde pra tentar colher alguma informação.

Passei por debaixo do braço dele que fazia uma barreira para que eu não saísse. Fui até a boleira e ele até o armário pegando duas taças e um prato. Esperei ele me contradizer em relação a eu chamar a Ester de "namorada", mas ao contrário disso ele me respondeu:

- Eles fizeram carne de porco.- nem precisei olhar pra cara dele pra saber que estava com a afeição de enjoo.

- Achei que você não gostasse de carne de porco.- fui até a geladeira tirando alguns petiscos que eu tinha guardado mais cedo e aproveitei pra tirar o vinho dele que estava lá.

- E eu detesto, mas eles juram que é meu prato preferido.- falou vindo até mim.

- Tenho certeza que só acham isso porque vocês não os informou.

- E vou falar pra quê? Eu achei que já tinha me livrado disso.- pegou o vinho das minhas mãos, abriu a gaveta e pegou o saca rolha elétrico- Guarda o bolo pra daqui a pouco, vamos pro jardim, você vai tomar comigo.

- Eu não gosto desse vinho.- falei.

- Não gosta porque ainda não tomou comigo.

- O gosto não vai continuar o mesmo?- arqueei as sobrancelhas.

- Só pega as taças e trás.- disse indo na frente ignorando completamente a minha fala.

O que me restou foi fazer o que ele me pediu, ou melhor, que ele mandou. Peguei as taças o acompanhando. O jardim ficava na parte de trás da casa, é o local preferido da minha mãe, aqui ela faz todas as plantações possíveis, se necessário passa o dia inteiro aqui.

Fomos até as poltronas que tinham aqui, juntamente com uma mesa. Colocamos tudo em cima dela, cortei os queijos que ainda faltavam enquanto o Gabriel servia o vinho. Chega a ser estranho estarmos nesse momento só nós dois, até porque, é a primeira vez que isso acontece. 

Não somos de trocar momentos íntimos como esse, com certeza se a Dhiovanna estivesse aqui, ela iria pirar.

- Vou te ensinar um novo jeito de apreciar esse vinho.- espetou o garfinho em um dos queijos e me estendeu a taça - Bebe.

- O que?- o olhei confusa.

- Só bebe garota, não pergunta muito.- revirei os olhos e fiz o que ele mandou - Agora come.

Ele estendeu o queijo até a minha boca e ao mastigar, senti uma verdadeira explosão de sabores. Realmente, o vinho e o queijo conseguia casar muito bem, não sabia que seria tão gostoso. Balancei a cabeça em confirmação e ele sorriu satisfeito.

- Te falei, não é ruim, você que não sabe tomar do jeito certo.- falou ao pegar um queijo e comer.

Sagrado Profano🍷• Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora