32.🍷

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Kitra

- Então podemos fazer assim, escolham suas duplas e vão para a sala espelho de observação. Lembrem-se de não falar e nem ter contato com os pacientes.- a professora nos passou as instruções.

Me levantei indo para o lado de Felipe e ele me jogou o meu jaleco que eu tinha esquecido na mochila dele ontem. 

- Acabou sujando um pouco mas eu lavei.- me estendeu a nossa ficha de avaliação e anotação - Você só não esquece a cabeça porque é grudada no corpo. 

- E é justamente por isso que eu tenho você.- sorri e peguei a ficha das mãos dele - A gente precisa anotar isso tudo?

- Já tentou virar as duas páginas?- fiz o que ele falou e me dei conta de que era pior do que eu imaginava - Nem adianta emburrar, dessa vez não tem pra onde correr. 

Peguei minha bolsa na cadeira e fui andando junto com ele até a pracinha da faculdade, paramos um pouco pra comer alguma coisa já que depois de entrar na sala de observação, só podemos sair depois de quatro horas. 

- Vai querer comer o que?- perguntou olhando o cardápio. 

- Acho que um bolo de prestígio.- apontei. 

- Você vai ficar quatro horas dentro de um sala, não acha melhor comer algo que vá te manter de pé?- sugeriu. 

- Mas um bolo de prestigio vai me manter de pé.- falei como se fosse óbvio - Além do mais, eu preciso comer algum doce senão fico nervosa. 

- Então tá bom.- foi até a cabaninha perto da onde nós estávamos. 

O Felipe é da mesma sala que eu e nos tornamos amigos no primeiro trabalho que tivemos que fazer juntos, assim como eu ele também não conhecia ninguém da sala então decidirmos fazer dupla e desde então tudo que é pra ser feito eu faço com ele. 

Além de ser uma boa companhia ele também é inteligente e ótimo para trabalho em conjunto. E por mais que tenhamos nos conhecido a tão pouco tempo, diversas vezes já nos perguntaram se erámos irmãos ou namorados de tão "próximos" que somos. 

Tempo depois ele voltou com uma bandeja enorme e com outras opções de doces além do que eu tinha pedido, levantei meu olhar assustada enquanto acompanhava o andar dele.

- Você disse que fica nervosa se não comer um doce e eu não quero que minha dupla morra de ansiedade do meu lado.- colocou todos os doces na minha frente. 

- Acho que agora é capaz de eu morrer de diabetes.- brinquei e ele riu - Muito obrigada, Fê!

- Não precisa agradecer.- se sentou na minha frente e pegou seu prato com lasanha - Antes de comer seu doce, experimenta isso daqui.- cortou um pedaço, colocou a mão em baixo do garfo e levou até minha boca. 

O gosto era impecável, sem sombra de dúvidas uma das lasanhas mais gostosas que já comi aqui nessa faculdade.

- Nossa, muito boa!- concordei. 

- Na massa dela vai vinho, é um vinho branco meio ruim de beber puro mas na massa fica delicioso!- comeu um pouco também. 

- Vinho branco?- perguntei surpresa.

- Meio louco, não é?- assenti e sorri nervosa. 

Vinho branco me lembra o Gabriel e em como ele me deixou mal acostumada com as coisas que me ensinou, isso me incomoda bastante porque em todos esses dias em que ficamos juntos eu aprendi e peguei tanto os costumes dele, o que é difícil de desaprender de um dia pro outro. 

Respirei fundo e continuei comendo meus doces enquanto tentava distrair a minha mente com as baboseiras que o Felipe me falava, se bem que não é difícil já que ele tem uma lábia muito boa e facilmente me faz rir. 

- Deixa eu te falar.- chamou minha atenção - Olha disfarçadamente, sabe aquele jogador de futebol do flamengo...como é o nome dele..?- estralou os dedos como se estivesse tentando lembrar e eu só pedia para que não fosse o Gabriel - Ah, lembrei! Gabigol! 

- O que tem ele?- engoli em seco.

- Ele tá logo atrás de você, perto da sala dos veteranos de psicologia.

Com cuidado e o mais disfarçado que consegui, me virei e ao olhar pra trás, um pouco longe de mim lá estava ele. Mexendo no celular e pela afeição parecia estar impaciente, se bem que não é como se fosse uma surpresa o ver assim. O observei por um bom tempo até ver uma loira sair de dentro da sala, o cumprimentar e antes de se afastar do abraço o deu um selinho um tanto quanto demorado. 

Me virei pro meu lugar imediatamente e respirei fundo tentando digerir o que eu tinha acabado de ver. 

- Não sabia que ele namorava com a Ester, isso sim é uma surpresa.- me olhou - Que cara é essa?

- O que?- perguntei "voltando" pra realidade. 

- Essa cara de depressiva.- apontou - Já tá nervosa por causa da sala de observação?- eu assenti tentando forçar uma expressão menos desesperada - Vai dar tudo certo, fica tranquila.

- Eu sei que vai.- sorri falso. 

Senti o cheiro do perfume dele passar por mim e ao virar meu rosto, nossos olhos se cruzaram em um momento breve mas nesse pouco instante ele conseguiu me encarar e encarar o Felipe, já eu, consegui o encarar e encarar seus dedos entrelaçados com os da Ester. Os dois andavam como um casal, se tratavam como um casal e em um movimento inusitado percebi a aliança prateada no dedo dela. 

Acho que agora eu entendi seu motivo tão breve e urgente, você não estava com medo de como os outros iriam reagir a nós dois, você só se cansou de brincar comigo e voltou pra quem realmente importa.

Felipe levantou, pegou minha bolsa e estendeu a mão pra mim. Quando me dei conta, o relógio já se passavam das dez e estávamos atrasados. 

- Vamos antes que a professora nos mate.- assenti e peguei na mão dele o seguindo até a sala de observação. 

Sagrado Profano🍷• Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora