30.🍷

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Kitra

- Bom dia lindo.- falei assim que vi o Gabriel entrar no quarto.

- Bom dia.- sorriu sem mostrar os dentes e foi direto para a porta do closet. Ele estava com uma feição mais fechada, imaginei que talvez teria brigado com alguém ou que algo não deu certo, então preferi ficar na minha e não discutir. 

- Não vai pro ct hoje?- comecei a dobrar as coisas da cama ainda sentada - Meu irmão foi logo cedo, achei que você também teria que ir. 

- Não, hoje é só ele mesmo.- disse por fim. 

Ele estava muito estranho, não me olhava nos olhos, evitava frases muito longas e me respondia como se estivesse falando com qualquer pessoa. Gabriel passou por mim, foi até uma pequena mesinha onde tinham algumas gavetas e foi tirando colar por colar para escolher um que quisesse. 

- Tá tudo bem?- perguntei ao me levantar da cama.

- Tá sim.- continuou fazendo o que estava fazendo. 

- Não parece.- franzi o cenho. Ele se levantou e finalmente olhou pra mim. 

- Não parece mas está.- balançou a cabeça e saiu do quarto com as coisas que tinham pegado nas mãos.

Tentei ignorar a forma como ele estava falando comigo e até imaginei que talvez ele tivesse se estressado com alguém, ou talvez tenha se aborrecido com algo. Mas no fundo, bem no fundo eu sabia que só estava tentando encontrar justificativas para a forma tão rude como ele tem me tratado. 

Terminei de fazer minhas coisas e desci para a cozinha, a Dhio já estava lá sentada tomando café, mexendo no celular e toda sorridente como se tivesse ganhado na mega sena. 

- Desliga o celular, Dhiovanna.- Gabriel falou ao cruzar a porta já vestido com a roupa e as coisas que tinha pegado mais cedo lá no quarto. 

- Nossa como você tá chato hoje, viu.- fez o que ele tinha mandado.

- Bom dia Dhio.- falei ao me aproximar e sentar ao lado dela. 

- Bom dia flor do dia, achei que não iria mais acordar.

- Você que acordou cedo demais.- respondi e ela sorriu assentindo com a cabeça como se quisesse me contar alguma coisa.

O Gabriel pegou uma xicara e um prato, colocou na minha frente e apontou pra a garrafa térmica e a jarra de suco, sorri em agradecimento mas diferente do costume ele não retribuiu, só virou a cara e se sentou. 

- Hoje tem o aniversário da Rebeca, não é?- minha amiga perguntou. 

- Tem, parece que é pela tarde.- a respondi - Você vai?

- E eu...ou melhor, nós temos escolha?- arqueou a sobrancelha - Ela é nossa amiga a anos, se não aparecermos lá é capaz dela vir aqui e nos arrastar a força.

- Ela não é minha amiga.- a corrigi.

- Ah para, aquilo foi discussão besta de adolescente.- gesticulou com as mãos. 

- Ela insinuou que eu estava tendo um caso com o Gabriel.- olhei pra ele que me encarou surpreso - Na época eu era menor de idade e ela só tinha uma paixonite chata e achava que ninguém poderia chegar perto dele, aquilo era obsessivo.

- Isso eu tenho que concordar, mas venhamos e convenhamos, você não tinha cara de menor de idade e foi uma época que vocês estavam muito próximos.- ela apontou pra nós dois - Se eu não fosse irmã dele e sua melhor amiga, acharia a mesma coisa. 

- Larga de loucura Dhiovanna, ela é a irmã do meu melhor amigo, é loucura acharem alguma coisa de nós dois ainda mais naquela época.- Gabriel a repreendeu, o tom de voz arrogante dele me deu calafrios. 

- Ué, mas hoje em dia vocês dois não estão juntos?- cruzou o braço.

- Ficar com alguém é algo demais?- a respondeu ríspido - Achei que não significasse nada.

Tanto a Dhio quanto eu ficamos quietas, não estávamos esperando por uma resposta como essa, mas ao mesmo tempo, isso me acordou do conto de fadas que eu achava que estava vivendo. Na minha cabeça, ficar com ele significava algo sim, porque não era como se só trocássemos beijos e pronto. 

Ele me tratava com prioridade, me olhava com desejo, me tocava como se eu fosse única e tinha um cuidado extraordinário comigo.

Cair na real foi como um balde de água gelada, me senti uma estúpida por ter criado tanta expectativa em um sentimento tão raso. Fui uma tola, ingênua. 

- Acho que já vou pra casa, tenho algumas coisas pra arrumar antes que minha mãe chegue.- me levantei. 

Enquanto eu arrastava a cadeira percebi o olhar da Dhiovanna no irmão, como se estivesse tentando o impulsionar a ir atrás de mim ou tentar me impedir. Porém, como eu já imaginava ele fez pouco caso e continuou tomando café. 

A realidade é que o Gabriel é bem cruel quando quer, você pode estar nitidamente na frente dele e ele pode ignorar a sua existência e fingir que você nem existe. 

Fui até o quarto, peguei minhas coisas que estavam lá e desci novamente. Me despedi da Dhio e pedi um carro no aplicativo para ir pra casa. 

Assim que cheguei, corri pro meu quarto onde eu claramente me sinto segura e inusitadamente comecei a chorar. Pra ser sincera nem eu mesma sabia que estava tão magoada com a situação, não tinha noção do quanto as palavras e as atitudes dele tinham me machucado. Chorar foi um ato desesperado mas me aliviou, como se eu tivesse guardado isso desde cedo. 

Ouvi o toque do meu celular na ponta da cama, ele vibrava e tocava ao mesmo tempo. Enxuguei as lágrimas que caiam sem que eu ao menos pudesse controlar e peguei o celular, o Gabriel tinha me ligado e tinham algumas mensagens dele, inclusive um áudio com poucos minutos. 

" Kitra...me desculpa pela forma como agi com você, é...eu não sabia que estava sendo tão ríspido contigo...a Dhio conversou comigo e abriu meus olhos em relação a minhas atitudes...sei que você vai me entender, você me conhece, sabe como eu sou... mas... acho melhor não continuarmos isso, estamos indo longe demais, tá na hora de colocarmos os pés no chão..."

Sagrado Profano🍷• Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora