35.🍷

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Gabriel Barbosa

- Vocês terminaram?- meu pai se alterou assim que eu cruzei a porta do escritório dele.

- Bom dia pai, estou bem e você?- ironizei e senti o olhar frio e ameaçador dele pra mim. 

- Não estou afim de aturar os seus deboches, Gabriel!- desbloqueou o celular e me mostrou a conversa com a Ester - Vai me explicar isso ou não?

Peguei o celular e li as conversas dos dois, a Ester estava falando para ele que tínhamos brigado e eu a ameacei de terminar. Respirei fundo pra não perder a paciência que eu já não tinha e me segurei pra não perder a cabeça. 

- Sim, terminamos.- entreguei - Mais o que você quer saber?- ele me olhou como se a minha reação diante da situação o surpreendesse, pela primeira vez eu o vi me olhar assim. 

- Isso pra você não é nada?- apontou - Já imaginou se essa garota resolve abrir a boca e soltar essa na mídia? Já imaginou o problema que você tá se metendo?

- Problema maior é continuar com aquela louca.- o interrompi - A Ester perdeu a cabeça de vez, ficou louca de ciúmes e acha mesmo que eu vou continuar suportando essa infantilidade dela?

- O único infantil da relação é você, Gabriel!- apontou pra mim e se aproximou - Você não toca na garota, evita beijar, não a trata como sua namorada! Você nem ao menos demostra sentimentos por ela!

- Como você quer que eu demonstre sentimentos por alguém que eu não sinto nada?- me exaltei - Eu estou nesse relacionamento por sua causa, estou suportando isso por todos esses meses por sua culpa!- me aproximei dele também - Perco minha paz com aquela garota e me prendo a um relacionamento ridículo pra satisfazer a sua vontade e a sua cobiça! 

- Garoto abusado, tá ficando louco de falar assim comigo?- gritou - Eu estou te dando a oportunidade de se relacionar com uma mulher de verdade, você deveria ser menos egoísta e ver todo meu cuidado com você.

- Cuidado pai? Tem certeza que tudo isso é por mero cuidado?- ri irônico - Isso nunca se tratou sobre mim e sim sobre você!- engoli minha vontade de chorar, por mais que isso me doa, ele não tem o direito de saber que tem a capacidade de me machucar - Você faz isso porque quer a todo custo entrar naquela família de loucos, você tem tudo pai mas nunca se contenta. 

- Eu tenho tudo porque eu lutei pra chegar aqui, não vai ser você que vai estragar com isso!

- Não, você tem tudo porque eu ralei pra te dar tudo!- o corrigi - Eu me desgracei por inteiro, suporto o inferno pra garantir que você tenha todos esse luxos. Não seja burro ao ponto de achar que tem o que tem por conta própria.- encostei o indicador no meio do peito dele - Se eu te tirar da minha assessoria e cortar o dinheiro que te dou, você vai falir! Não seja egoísta, seja grato papai. 

Eu olhava nos olhos dele e sentia a raiva e o desgosto, ele estava surpreso pela minha reação, por conseguir enfrenta-lo mas o que ele mal sabe é que isso me dói, me destrói. Eu não consigo ser ingrato ao ponto de me perguntar "como nós seríamos sem todo esse dinheiro?" porque na realidade, eu sei que estaríamos morrendo de fome. Mas, ao invés disso eu me pergunto em como nós estaríamos caso meu pai não fosse como é.

Saí daquela sala com tanta raiva, angústia e rancor no meu coração que morrer não era mais uma má ideia, não é uma vontade de morrer pra acabar com tudo, mas uma vontade de não querer sentir isso. Me sinto estúpido e frágil ao sentir algo que ele nem ao menos se importa de causar em mim. 

- Irmão, tá tudo bem?- a Dhio chamou minha atenção ao ultrapassar a porta de entrada da casa. 

Me dei conta de que com ela, meu cunhado e a Kitra também entrou. Meu olhar foi direto nela que ao contrário de mim, fingiu nem perceber a minha presença. 

- Deve estar, amor.- Victor a respondeu e se aproximou me dando um abraço, retribui e ele falou para que eu apenas ouvisse - Finja agora mas depois me conta o que aconteceu. 

- Valeu.- o respondi e nos afastamos. Assim que me soltei percebi a Kitra olhar fixamente pra mim, como se só agora tivesse reparado a minha presença e quando nossos olhares se cruzaram, as bochechas dela ficaram vermelhas - Oi Kitra, tudo bem?

- Tudo bem, Gabriel.- incrível como ela não teve uma reação sequer, não sorriu, nem ao menos se moveu. 

- Mamãe chegou?- minha irmã falou ao me tirar do transe.

- Ainda não, só nosso pai chegou. Porém não recomendo que você vá o ver agora.- ela balançou a cabeça já entendendo o que eu quis dizer. 

Fomos em direção a sala principal e sentamos nos sofás, começamos a conversar sobre algumas coisa que aconteceram ultimamente, só que ao invés de prestar atenção na conversa, eu passei a prestar atenção na Kitra e em como ela continuava linda. 

Faz tanto tempo que não nos vemos que eu tinha esquecido do quanto a voz dela é suave e me trazia a sensação de paz, tá ai uma coisa que eu odeio nela. A Kitra me traz paz, me traz a falsa sensação de estar confortável e seguro. Eu odeio me sentir tão vulnerável com ela.

- Achei que a Ester já estaria aqui.- minha irmão falou e só assim eu voltei a prestar atenção.

- Ela não vem hoje.- a respondi e senti o olhar dela se manter permanente em mim.

- O que aconteceu?-saiu do lado do namorado e veio se sentar ao meu lado.

- Não foi nada, depois a gente conversa.- tentei cortar o assunto mas o clima não ficou um dos melhores. A Dhio encarou o Victor e o Victor encarou a Kitra, quando me dei conta todos eles estavam se entreolhando espantados e com certeza, com questões na cabeça. 

Sagrado Profano🍷• Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora