8.🍷

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Gabriel

- Que horas você vai pra casa da Ester?- meu pai perguntou assim que a cozinheira serviu o prato.

Estávamos tomando café, é o último dia das férias, amanhã a correria iria retornar mas de certa forma eu agradeço. Qualquer coisa é melhor do que ter que ficar ouvindo meu pai o dia inteiro.

- Não vou.- o respondi.

- Como assim não vai?- colocou o talher no prato virando o olhar pra mim - A família dela está fazendo questão de ter você lá. Você vai!

- Já disse que não vou.- insisti.

- Você vai!- fechou o semblante - Não é a hora de você querer bancar de criança imatura.

- Eu acho que já passou da hora de você parar de me tratar como uma.- falei firme - Sou adulto, tomo minhas próprias decisões, para de querer se intrometer na minha vida.

- E eu sou seu pai e seu assessor, tenho que cuidar de você duas vezes. Então faça o que estou mandando, para o seu próprio bem. 

-Tem como tomarmos café igual uma família normal?- minha irmã interrompeu antes que eu falasse algo - Pelo amor de Deus!

- Você vai pra esse jantar hoje, depois pode decidir o que faz com sua vida.- retornou a falar.

- Não escutou a Dhiovanna, Valdemir?- minha mãe o encarou.

Respirei fundo o vendo finalmente calar a boca, bebi um pouco do café e deixei a xícara em cima do pires. E mesmo sem apetite algum, me forcei a comer.

Eu odiava a sensação de me sentir um inútil perto do meu pai, ele me traz a sensação de ser incapaz, de não conseguir tomar as próprias decisões. Era como se ele tivesse o controle da minha vida, como se mandasse e desmandasse dela como bem entendesse.

- Vou pra casa do Victor, não volto pro almoço.- minha irmã se levantou arrastando a cadeira para debaixo da mesa.

- Volte para antes do almoço, pedi que fizessem panquecas portuguesas pra você.- meu pai tornou a falar.

- Coma sozinho. - ela disse firme o olhando - Na vida do Gabriel você pode mandar o quanto quiser, na minha não!- como sempre, ele não contestou - Irmão, me leva por favor?

- Se quiser...- tentou falar mas foi interrompido.

- Gabriel!- deu ênfase - Estou te esperando no estacionamento.

Ela passou por nós sem se despedir, conseguia admirar completamente a forma como minha irmã conseguia encarar meu pai, se bem que ela ser igual a ele dá essa facilidade, mas ainda assim consegue ser bem corajosa.

- Filho, por favor.- eu odiava como ele me chamava de filho, sempre era pra pedir algo.

Me levantei também, fui até a geladeira pegando uma garrafa de água, passei por eles e fui até o estacionamento onde minha irmã já se encontrava dentro do carro. Entrei e ao bater a porta ela guardou o celular e olhou pra frente.

- Quando que você vai dar limites ao nosso pai?- disse.

- Não é bem assim, Dhio.- passei o cinto em volta de mim.

- É exatamente assim, dê limites a ele antes que você tenha que parar sua vida para o agradar!

- Gostando ou não, ainda devo respeito a ele.

- E ele não deve o mesmo a você?- se virou para mim - Eu achava que respeito era algo recíproco.

- Deveria ser.- suspirei - Deixa isso pra lá, não te afetando eu consigo levar as coisas.

Girei a chave ligando o carro, o tirando da garagem. Fomos o caminho todo em silêncio, eu sabia que se caso conversássemos ela daria um jeito de voltar no assunto e não acabaria bem. Querendo ou não, ele ainda é meu pai, sei a forma como ele me vê é diferente como eu o vejo mas tento colocar na minha cabeça que isso é apenas o jeito dele. A vida o fez assim e consequentemente estou tendo o mesmo destino.

- Vai mesmo no jantar?- me perguntou quando paramos em frente a casa do Victor.

- É necessário.- desliguei o carro encostando minhas costas no banco.

Novamente ela não falou nada, ficou um pouco de tempo ali, olhando pra frente e em completo silêncio. Depois, abriu a porta e saiu. Ela estava chateada, sei que detesta a Ester é ir hoje no jantar significaria que voltaríamos. 

Namorei com a Ester por quase três anos, terminamos porque nada era mais a mesma coisa. Ela tinha se tornado uma pessoa obsessiva, queria me monitorar e saber a cada passo que eu dava, odiava me ver com qualquer outra mulher e parecia me perseguir. 

Meu pai gostava dela, diferente da Dhiovanna e da minha mãe, as duas ao menos faziam questão de a querer por perto. Por mais que fosse um relacionamento nada saudável, era bem visto na mídia. Um jogador de futebol e a filha de um dos empresários mais ricos do país, nem eu sei como tinha chegado até lá. 

No inicio, eu realmente tinha me apaixonado por ela, como ela me olhava, falava ou se referia a mim. Depois disso, se tornou tudo tão frio que as palavras ditas tinham se tonado obrigação e eu posso até saber pouco sobre o amor mas se eu tenho certeza de uma coisa, essa é que nada vindo de coração deve ser obrigado.

Respirei fundo também saindo do carro e vi que a Dhio tinha deixado a porta aberta para que eu entrasse. Estava magoada e mesmo assim conseguiu se lembrar de mim. Talvez isso deva ser amor.

Sagrado Profano🍷• Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora