16.🍷

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Gabriel

- Vocês foram bons hoje, se jogarem da mesma forma que estão treinando a nossa vitória está garantida.- ouvi o treinador enquanto jogava alguns copos de água pra nós.

- E parece que Deus ouviu as preces de vocês.- um dos homens da diretoria falou ao abrir a porta- Voltaremos para o Rio após o jogo de amanhã, nossa programação por lá vai continuar a mesma. 

- Finalmente.- ouvi o Bruno falar do outro lado da sala.

- Que inferno.- resmunguei baixo mas é obvio que meu cunhado iria escutar- Hoje mesmo ligo pra organizarem minha casa, me nego a ter que ficar no mesmo ambiente que meu pai.

- Ainda mais agora que você voltou com a Ester.- ele disse enquanto secava o cabelo.

- Não voltei com ela, já te disse.- o corrigi.

- Não é isso que ela pensa.- pegou a blusa colocando no ombro- Você foi naquele jantar e até vai viajar com ela no aniversário.

- Liguei pra ela mais cedo explicando tudo e deixando claro que não iriamos voltar.- respirei fundo - Ela tá surtando me mandando mensagem mas acredito que quem esteja pior é o meu pai. Com certeza ela já falou pra ele.

- Você já sabe o que eu penso sobre isso, então não vou comentar mais nada.- colocou a toalha no cabideiro - Vou ligar pra Kitra e avisar que chegaremos mais cedo, deveria fazer o mesmo com sua irmã.

- Eu faria se ela ao menos fosse me atender.- resmunguei mas ele não deu importância, conhece bem a namorada que tem pra saber que a Dhio estava chateada comigo.

Mais cedo, quando chegamos em casa eu a expliquei sobre toda a situação em relação a Ester, era de se esperar que ela fosse ficar brava, minha irmã sempre quer o melhor pra mim e com certeza esse melhor não é voltar com ela.

Levantei, fui até meu armário e peguei meu celular. Tinha inúmeras mensagens perdidas do meu pai e da Ester, mas algo conseguiu me chamar mais atenção, uma notificação quase esquecida no meio das outras, era da Kitra.

Ela tinha me seguido no instagram, fiquei intrigado em como nos conhecemos a anos e ela ao menos me seguia. Porém nem posso reclamar, não sigo ninguém além de mim mesmo. Curti a última foto dela que por sinal, era com o Victor e a mãe.

Sai do instagram e liguei direto pra Dhio, depois que três tentativas alguém finalmente atendeu.

- Se for ficar brava comigo me fala ao menos quando isso vai acabar, eu tento manter distância de você.- ironizei ao atender.

- Então tá explicado o motivo dela não querer falar com você.- ouvi a voz da Kitra ao invés da dela.

- Cadê minha irmã? Ela mandou você atender?

- Acha mesmo que a Dhiovanna faria isso?- brincou e eu ri- Ela saiu do quarto estressada e como eu não estava suportando mais o celular tocando, decidi atender.

- Peça pra ela falar comigo, por favor.

- Acho que nem se você aparecesse aqui de surpresa ela voltaria a falar contigo, dessa vez a situação tá séria.

Respirei fundo e pedi paciência pra Deus. Dhiovanna tem uma personalidade fortíssima, quando ela colocava alguma coisa na cabeça, dificilmente tirava.

- Tudo bem, eu dou um jeito depois.- me dei por vencido.

- Ela só tá chateada, dá um tempo.- disse calma- Como estão as coisas por aí?

- Tudo tranquilo.- encostei no muro que dividia os armários do vestiário- E como foi seu primeiro dia?

- Intenso, eu diria.-riu nervosa- Aliás, não sabia que sua namorada era veterana em Psicologia, fiquei surpresa.

- A Ester é uma caixinha de surpresas.- ironizei.

- E como é.- fez o mesmo- Acho melhor eu ir, se sua irmã chegar aqui e ver que eu atendi sua ligação, é capaz de matar nós dois.

- Não desliga, quero deixar ela irritada pra aprender a não me ignorar mais.

- Então dê um jeito de fazer isso sozinho, você está longe, eu estou aqui do ladinho dela então vai sobrar pra mim.- debochou, que garotinha atrevida- Bom resto de dia pra você.

Afastei o telefone da orelha e percebi que ela ainda não tinha desligado a ligação, pensei se a responderia. Ou melhor, por que eu responderia? Desliguei a ligação e tornei a dar atenção pra algumas coisas que faltavam pegar no armário.

Ouvi meu celular tocar novamente e dessa vez era um número desconhecido, não tenho costume de atender quem eu não tenho o número salvo só que por algum motivo, esse eu atendi.

- Fala.- falei ao atender.

- Fala? Quem você acha que é pra desligar na minha cara?- ouvi novamente a voz da Kitra - Eu te desejei um bom dia e você desligou na minha cara.

- Sério que me ligou só porque não te respondi?

- Sério!- falou irritada- Eu te desejei um bom dia!

- Não, você me desejou um bom resto de dia!- a corrigi.

- Você é um mal educado mesmo viu.- percebi que ela iria desligar, então fui rápido.

- Bom resto de dia pra você também, Kitra.- falei.

Ouvi a respiração dela no fundo e senti meu corpo arrepiar. Eu sei que ela não tinha ficado "brava" por eu não ter respondido, ela faz isso pra me irritar mesmo. Mas de alguma forma, o jeito como ela me provoca me deixava sem reação.

Kitra brinca comigo quando bem quer, ela decide quando quer agir como uma criança de cinco anos ou como uma adulta cheia de experiências da vida. Ela mexe muito comigo.

Antes mesmo que ela desligasse eu fui e desliguei.

Não é porque ela mexe comigo que deve saber disso. Kitra pode até achar que me conhece, mas meu coração é terra que ninguém pisa, seja em relacionamentos, seja de forma amigável.

Sagrado Profano🍷• Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora