Gabriel
Ajeitei a barra minha camisa social, respirei fundo enquanto esperava alguém abrir a porta, nesse momento, nem eu acredito no que estou fazendo. De tanto que meu pai insistiu, eu vim. Pareço estar vivendo o pesadelo todo novamente.
- Senhor Gabriel, que bom te ver aqui.- uma moça alta que trabalhava na casa abriu a porta, me cumprimentando- A senhorita Ester está te esperando na sala de estar, pode entrar, te acompanho.
- Obrigado.- sorri amigável me deixando ser conduzido por ela, como se eu já não conhecesse essa casa com a palma da minha mão.
Assim que chegamos na sala, os pais dela me viram e de imediato levantaram do sofá, abriram um sorriso imenso no rosto e me cumprimentaram.
- Que bom que você veio, seja bem vindo de volta!- Karine, a mãe da Ester veio até mim me dando dois beijinhos e um abraço.
- Na verdade eu já sabia que ele viria, é nosso genro favorito, como que ele não iria vir?- dessa vez quem falou foi Fabio, o homem mais rude e direto que existe, pai da Ester. Ele estendeu a mão e eu a apertei.
A Ester estava do outro lado da sala, onde antes eles estavam sentados, ao me ver ela sorriu como se tivesse ganhado a bolsa mais cara do mundo. Veio até mim, me abraçou e por assim ficou por um tempo.
- Fiquei receosa de você não vir, mas que bom que aceitou nosso convite.- se afastou- Estava com saudades.
- Eu que agradeço por vocês sempre lembrarem de mim.- sorri falso. Só queria que eles me esquecessem de vez.
- E tem como esquecer de você?- ela disse sorrindo - Venha, vamos sentar.
Fui até o sofá que ficava de frente para o que os pais dela estavam sentados, apenas uma mesa de centro separava um lado do outro. Em cima dela estavam alguns copos, um balde de vidro de gelo e o whisky logo ao lado.
- Pedi para que preparassem aquele prato que você adorava comer.- a mãe dela falou e a única coisa que eu pedi, ou melhor, implorei para que não seja carne de porco.
Eu consigo odiar com todas as minhas forças, mas, como antes eu vivia para agradar a família dela e para não ser mal educado, eu comia e elogiava como se fosse a coisa mais gostosa do mundo.
- Tenho certeza que vou gostar, a senhora sempre tenta preparar o melhor pra mim. Eu agradeço.- sorri.
Daí em diante as coisas foram assim, sorrindo e tentando agradar ao máximo os pais dela. Eu sabia que vir pra cá significaria estar de volta pra família, por isso tentei relutar ao máximo que conseguir pra não vir.
A família da Ester, por mais interesseira que seja, pelo menos comigo, sempre a apoiou porque ama mimar e fazer as vontades da filha. Por ser a única herdeira, eles a tratam como uma rainha, faz o que ela pedir e não importa se isso significasse derrubar ou pisar nos outros.
Minha mãe não gosta deles, minha irmã muito menos, mas por outro lado e completamente o contrário delas tem o meu pai, que quase idolatra a família da Ester e posso dizer que até mesmo a família dela também o coloca no pedestal.
Depois de um tempo conversando e fingindo rir das besteiras mais idiotas que um ser humano pode falar, fomos para a sala de jantar, onde já estava tudo posto. Senti o cheiro de carne de porco de longe e já comecei a rezar para que fosse algo da minha cabeça.
- Espero que goste, minha mãe teve o maior cuidado pra escolher a carne.- Ester falou ao se sentar ao meu lado.
- Muito obrigado, mais uma vez.- sorri falso.
Começamos a comer, eu olhava com nojo pra aquele pedaço de carne enorme que tinham posto no meu prato e tentei ao máximo transparecer que eu estava bem e adorando o jantar.
- Então Gabriel, como está as coisas no time? fiquei sabendo que amanhã vocês já vão pra São Paulo.
- Tudo indo bem, estou com saudades de jogar mas ainda queria ter o sossego das férias.
- Imagino como deve estar seus pais e sua irmã.- Karine falou.
- Ainda mais pro Valdemir, você é o xodó dele.- riu.
- Ah, com certeza eu sou.- sussurrei apenas pra mim enquanto servia o vinho.
- Falando em viajem, por quê não o convidamos agora?- Karine tornou a falar, deu uma olhada pra Ester que colocou a taça na mesa e se virou sorrindo pra mim.
- Meu aniversário está chegando e meus pais tiveram a ideia de fazermos uma comemoração em Las Vegas.
- Mas você não faz aniversário só no final do ano?- a questionei.
- Eu sei que parece longe mas daqui a pouco já é outubro, é necessário que haja organização.- gesticulou - E sem contar que eu quero que nós possamos ter uma comemoração particular só nossa, como temos costume.
Entendi o que ela está fazendo, tentando me prender a ela a qualquer custo. Me convidar e elaborar essa ideia de "comemoração particular" ainda mais na frente dos pais dela, é só mais um golpe baixo pra fazer com que estejamos juntos até lá.
- Podemos ir pensando nisso.- tentei fugir da situação.
- Não bebê, vamos organizar isso o mais rápido possível, você sabe que eu odeio fazer as coisas em cima da hora.- me olhou como se estivesse implorando, como não falei nada ela levou como um sim- Ótimo, amanhã mesmo eu já compro nossas passagens.
Eu iria abrir a boca para contradizer mas quando me dei conta, eles já estavam conversando e dando ideia do que poderíamos fazer lá.
Enchi a taça de vinho e o virei todo de uma vez, eles não perceberam, estavam ocupados demais idealizando a fatídica viagem. Senti o amargor do vinho descer na minha garganta e só conseguia pedir a Deus para que ele me tirasse daqui o mais rápido possível, ou me levasse...me levar seria uma ótima ideia.
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Sagrado Profano🍷• Gabriel Barbosa
FanfictionEntre taças de vinho, Gabriel e Kitra exploram os limites entre o sagrado e o profano. Ele, acostumado ao brilho dos estádios e à pressão dos fãs, descobre na calmaria de Kitra uma nova forma de se expressar. Ela, por sua vez, enfrenta a imensidão...