28.🍷

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Kitra

- Entra logo, Kitra.- Gabriel falou já dentro do carro. Continuei fora, com os braços cruzados e me negando a entrar - Não me faça ir ai e te colocar a força.

Revirei meus olhos e mesmo relutando, entrei e bati a porta com força.

- Quebra a porta e leva pra você.- reclamou.

- Me leva pra casa.- falei sem olhar pra ele.

- Vamos pra minha, você tá muito bêbada pra ficar em casa sozinha.- começou a dirigir. 

Não quis responder ele, era bem capaz de ao menos conseguir formular uma palavra sequer sem embolar ou gaguejar, por esse motivo apenas desisti.

Depois que eu sai daquela sala com ele, pensei se eu teria feito a coisa certa em negar ficar com ele. Então voltei novamente pra lá, mas ele já não estava. Quando voltei, ao passar em meio a multidão eu vi ele com outra mulher, ela estava nitidamente beijando o pescoço dele enquanto dançavam juntos. Pensei em ignorar o que vi, mas quando tornei a olhar, eles já estavam se beijando. 

Fiquei chateada, claro. Em uma hora ele me chama por apelidos fofos e me dá a opção de vir com ele, em outra me ignora e finge que não me conhece. Em um hora me puxa pra me afastar de um garoto, ameaça bater nele e em outra está beijando outra como se o momento passado nunca tivesse existido. 

Antes, (o que eu falava sobre ter momentos bons com o Gabriel), acredito que eu tenha me equivocado. Eu corrigiria dizendo que é bom os momentos bons que ele me proporciona quando estamos distantes de outras pessoas. E claramente se eu contasse para alguém, sairia como a mentirosa da situação. 

Eu sou o segredinho do Gabriel mas ele não quer que eu o trate da mesma forma, isso me estressa porque infelizmente eu não consigo não fazer o que ele quer que eu faça.

Quando me dei conta, já estávamos parados em frente ao estacionamento da casa dele, ele não me olhava e nem se atrevia a ao menos se mover. Então eu tive a iniciativa, retirei o cinto e abri a porta do carro saindo de lá. 

Digitei a senha da casa dele e adentrei. Estranho, né? Ter acesso a coisas tão intimas e ao mesmo tempo ter uma mera estranha na vida dele.

Subi pros quartos e fui em direção ao quarto da Dhio, por mais que eu esteja aqui, não quero ter que compartilhar do mesmo ambiente que ele até pra dormir. Por minha sorte estava aberto, sei que ela não se importaria se eu ficasse aqui, então fechei a porta atrás de mim, peguei uma toalha no armário e fui direto pro banho. 

Por mais incrível que pareça, o Gabriel não veio atrás e nem se deu o trabalho de tentar explicar nada. Mas ouvi o barulho da porta do quarto dele, então certamente ele já deve ter entrado também. Tomei meu banho, peguei uma roupa emprestada da Dhio e me deitei, mesmo sem sono e sem conseguir ficar com os olhos fechados por muito tempo, eu me forcei até que consegui dormir um pouco. 

Mas foi só pouco mesmo, já era tarde quando saímos da festa, então não demorou muito pra amanhecer. Foi como em um piscar de olhos. Me levantei, me troquei com uma roupa minha que estava aqui e desci. 

O Gabriel estava na mesa, tomando café e um prato já estava posto e preparado, pra mim. Como ele consegue ser tão cínico nesse nível?

- Bom dia, Linda.- falou ao colocar o celular de lado - Senta pra comer. 

Não falei nada, só me aproximei e sentei ao lado dele. Ele apontou pro lado onde tinha alguns comprimidos e um copo de água. 

- Toma, por mais que não tenha aula hoje, vai precisar.- pegou e me estendeu.

Peguei da mão dele e tomei, após isso continuei tomando café e quando terminei, me levantei pegando a louça pra colocar na pia. Ainda sem falar nada, diferente dele que tentava embarcar em algum assunto, mas nunca rendia já que ele falava sozinho. 

- Me desculpa por ontem.- falou girando meu corpo para ficar de frente pra ele - Não agi certo em falar com você daquele jeito

Sério mesmo que ele acha que o maior problema foi ter falado grosso comigo? Ter me ignorado a noite toda e ficar com outra depois de exigir prioridade comigo foi o que pra ele? Nada?

Eu poderia ter falado isso, jogado cada coisa de ontem na cara dele e sair dali o mais rápido possível, mas ao invés disso eu disse:

- Tudo bem, não foi nada demais.- sorri sem mostrar os dentes.

Já ele, sorriu largo, segurou meu rosto e aproximou nossos lábios juntando em um beijo. Que raiva, era como se isso fosse o suficiente pra ele. 

Me sinto uma idiota, uma burra e incompetente por não conseguir negar a ele, como se eu dependesse inteiramente dele. 

- Vamos passar o dia juntos, não tenho treino hoje, podemos assistir um filme e tentar fazer algumas receitas que você disse que queria aprender, o que acha?- sugeriu ainda com as mãos no meu rosto. 

- Gostei da ideia.- falei.

A forma como ele passou a me olhar parecia mais um jeito manipulador de conseguir fazer com que eu me renda ainda mais pra ele, se é que isso ainda consegue ser possível. Me sinto uma estúpida por não conseguir dizer o que eu penso, é como se eu estivesse me auto sabotando o tempo todo, ou fazendo o que ele exatamente quer que eu faça.

Ou talvez eu só esteja me precipitando, ele errou hoje, pode ter sido exagero da minha parte.

- Vou ir pegando os ingredientes pra fazer o pão de queijo, é bom que a gente come ele quentinho.- me deu um último selinho antes de se afastar e ir pra dispensa.

Sagrado Profano🍷• Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora