Kitra
É sábado, minha mãe viajou novamente a trabalho e meu irmão decidiu passar o aniversário de namoro em Pernambuco com minha cunhada. Fico feliz por eles terem esse momento juntos, no meio da loucura da vida de ambos, é muito complicado eles terem esses dias só deles.
Confesso que a casa é tranquila demais quando ninguém está aqui e por mais que eu ame o sossego e o silêncio, eu já tinha me acostumado com o barulho e a correria. Fechei o terceiro livro que eu acabei e o joguei longe, a única coisa que eu fiz durante o dia inteiro foi ler e ler.
Encarei o vidro da janela e já estava escurecendo, o dia nunca demorou tanto pra passar.
Peguei no celular e respondi algumas mensagens da minha mãe, abri o grupo que eu tinha com minha cunhada, meu irmão e o Gabriel e vi que eles estavam conversando. Imaginei que fosse bobeira já que o Gabriel nunca responde as mensagens, ele é como um fantasma.
Sem ao menos perceber, eu fui na aba de mídias do grupo e quando desci um pouco as mensagens vi algumas fotos que a Dhio gostava de tirar enquanto eu e o Gabriel estávamos distraídos. Segundo ela, eram momentos raros então era bom tirar foto pra recordar. Eu fingia não gostar e sempre brigava com ela mas a verdade é que eu sempre achei isso muito fofo.
Hoje é meio estranho olhar essas fotos, parece que esses momentos não passaram de loucuras da minha cabeça. E e até plausível pensar assim, até porque ver uma foto onde estamos dormindo juntos no sofá e saber que hoje em dia nem nos olhamos mais, parece ser bem irreal.
Quando percebi que estava pensando mais, fechei todas as fotos e tornei a prestar atenção nas conversas, respondi até onde eu pude acompanhar e novamente desliguei o celular. Pensei em tomar um banho e ir dormir, mas assim que me levantei escutei meu celular tocar e de forma inusitada o nome do Gabriel apareceu no visor.
Esfreguei meus olhos por um tempo e tornei a encarar. Não é um sonho.
Esperei mais um pouco para ter a certeza de que ele não tinha ligado errado e depois de quase a ligação cair, atendi imediatamente.
- Abre a porta.- escutei sua voz abafada e um poco ofegante dele do outro lado da linha.
Quando eu ia responder, ouvi a ligação sendo encerrada. Tornei a encarar a tela do celular e ainda sem entender o que tinha acabado de acontecer, calcei uma pantufa que estava jogada no canto da sala e ao abrir a porta, vi o Gabriel dentro do carro. Ele acenou me chamando e fui até ele.
- Por que não colocou um casaco? Tá muito frio aqui fora.- se esticou até o banco de trás e me estendeu um moletom.
- Você não me deu tempo pra pensar.- peguei da mão dele e vesti.
Ele ligou o aquecedor do carro quando se deu conta do quanto eu estava arrepiada e ficou quieto em silêncio total. As vezes o jeito impulsivo dele me espanta.
- Bom, eu posso saber porque veio até aqui?- o olhei.
- Seu irmão falou que você estaria sozinha em casa, imaginei que estivesse entediada.
Que droga, como ele consegue me conhecer tão bem?
- Mas eu não estava, coloquei meus livros em dia, foi muito bom.- cruzei os braços.
- Você deve ter se cansado, sei que não gosta de ler tantos livros em um dia.
- Afinal, já não tirou suas conclusões?- disse já irritada - Então não sei o que está fazendo aqui.- abri a porta do carro.
- Você não queria saber o que eu vim falar com você naquele dia?- falou me fazendo parar, tornei a fechar a porta do carro e me acomodei no banco.
- Diga.- falei firme.
- Não se force pra parecer que me odeia, você não sabe fazer isso bem.- me olhou e eu evitei o olhar - Enfim, vim me desculpar com você.- disse rápido como se estivesse com medo de se arrepender - Naquele dia...a Ester te colocou em um assunto que não te envolvia.
- Acha mesmo que foi isso que me chateou?- o indaguei ainda sem o olhar.
- Sei que não, mas de qualquer forma eu sei que o que ela disse também te magoou.- respirou fundo - Porém, eu não disse aquilo como se eu não quisesse a sua presença ali, eu só queria que a Ester calasse a boca de uma vez e acabei usando as palavras erradas.
- Tudo bem, eu entendo que sua namorada consegue ser bem irritante.- balancei a cabeça tentando cortar o assunto de uma vez por todas, eu sei muito bem que se isso se intensificar ou eu vou sair magoada(como das últimas vezes), ou vou acabar falando o que não devo.
- Ela não é mais minha namorada.- falou sem jeito, o olhei de imediato já que fiquei surpresa com sua resposta - Terminei com ela naquele dia.
- Caramba.- acabei soltando sem com que eu percebesse, mas quando percebi me reparei - É uma pena, vocês eram lindos juntos.
- Você não mente bem.- riu e jogou a cabeça no banco.
Novamente ficou um silêncio, o Gabriel continuou do jeito que estava e eu ainda não consegui digerir tanta informação em tanto pouco tempo. Me virei pra frente novamente e encostei as costas no banco, meus olhos seguiam arregalados e provavelmente minha expressão era a mais óbvia possível.
- Queria ter te falado isso antes pra não causar tudo que causou, mas não quis atrapalhar seu momento com aquele cara.- o olhei e ele continuava do mesmo jeito - Você pareceu estar feliz naquele dia, não quis me intrometer.
- Ele não é meu namorado.- o corrigi.
- Mas vocês se gostam, dá pra perceber.- sorriu de canto como se estivesse nervoso - Ele te olha e te toca de um jeito tão... enfim, espero que ele te trate bem.
- Ele é uma boa pessoa, mas talvez você esteja se equivocando.
- Você sabe que não estou.- virou o rosto me olhando - Eu vi vocês naquele dia da faculdade, vi o jeito como ele olha pra você e te faz sorrir. Você fica boba do lado dele.
- Não fico boba, ele só me deixa sem jeito.- o corrigi - E eu também vi você naquele dia, com a Ester... pareciam estar felizes.
- Obrigado, eu sei atuar muito bem.- sorriu sem mostrar os dentes e tornou a virar a cabeça - Ele parece te entender...que bom.
- Não fala como se estivesse gostando da situação.- o interrompi.
- Não estou odiando.- respondeu no mesmo tom.
De repente tudo ficou no silêncio, na verdade eu acho que o silêncio é um refúgio nosso de não saber o que falar. Eu não sabia o que responder nessa situação porque pela primeira vez, eu de verdade não sei diferenciar sua expressão, ele só parece não estar se importando com tudo. Uma parte de mim diz que isso é só mais uma forma dele de lidar com tudo, já a outra me dá a certeza de que ele só não quer que ficássemos distantes.
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Sagrado Profano🍷• Gabriel Barbosa
FanfictionEntre taças de vinho, Gabriel e Kitra exploram os limites entre o sagrado e o profano. Ele, acostumado ao brilho dos estádios e à pressão dos fãs, descobre na calmaria de Kitra uma nova forma de se expressar. Ela, por sua vez, enfrenta a imensidão...