Kitra
- Quer mais um pouco de vinho?- Felipe estendeu a garrafa do vinho, era o mesmo que eu tinha costume de beber com o Gabriel mas o contrário dele, o Fê bebe completamente puro, sem nenhum acompanhamento, coisa que eu ainda não me acostumei a tomar.
- Não, muito obrigada.- sorri de canto sem jeito - Acredito que o frango já esteja bom.
- Quer ajuda pra tirar do forno?- se levantou junto comigo.
- Não precisa!- neguei e ele tornou a sentar - Vai ser rapidinho, eu já volto.
Ele balançou a cabeça assentindo e tornou a dar atenção para o celular. Fui até a cozinha e abri o forno com cuidado, mas diferente do que eu imaginava o frango ainda não estava no ponto, então preferir sentar um pouco e esperar.
Na verdade, minha cabeça está tão cheia que sair um pouco de perto do Felipe foi uma estratégia para que ele não me pergunte o que está acontecendo. A vinda inesperada do Gabriel me deixou mais confusa do que talvez ele esperasse, ele sequer disse alguma coisa e isso me deixa com diversos questionamentos.
O que ele veio fazer aqui? Por que não disse nada e foi embora tão de repente?
Talvez ele tenha vindo pegar algo pra a Dhio e como viu o Fê aqui, se assustou e preferiu ir embora. Ou talvez a Dhio tenha saído de casa e ele tenha vindo ver se ela estava aqui. Ou talvez ele só tenha confundido a casa.
Todas essas "respostas" rondam a minha cabeça, me deixando ansiosa e desesperada com uma possível possibilidade. Mas o pior de tudo é saber que nenhuma delas fazem sentindo. Nenhuma!
O Gabriel ama a Dhio mas do jeito que estamos, ele nunca iria vir pegar algo pra ela aqui em casa e ainda mais sozinho. Hoje é aniversário da tia Linda, a Dhio jamais sairia de casa e mesmo se saísse, o Gabriel não iria vir atrás dela. Por fim, o Gabriel conhece cada centímetro dessa casa, ele jamais confundiria.
Enfim, de qualquer forma não é como se ele estivesse preocupado com alguma coisa, talvez tenha sido só algo involuntário e que talvez ele não tenha tido noção do que estivesse fazendo. Algo inexplicável. É isso! Agora só preciso parar de me importar com algo tão bobo.
- Kitra!- ouvi o grito do Felipe me chamando e quando me dei conta a cozinha inteira estava cheia de fumaça e com cheiro de queimado.
Ele foi até o forno, o abriu e com a luva tirou a assadeira de dentro e colocou na pia jogando água por cima. Eu fiquei imóvel, não tinha percebido que tudo estava da forma que estava e pra falar a verdade só agora eu consegui lembrar do frango.
- Meu Deus.- foi a única coisa que eu consegui dizer, enquanto o olhava tentando controlar a fumaça.
- Você não ia tirar o frango do forno? O que estava fazendo?- me olhou confuso e ao mesmo tempo também assustado.
- Eu...- tentei procurar palavras mas não conseguia - Eu não vi.
- Deu pra perceber.- disse como se fosse óbvio e deu as costas pra mim.
Ele está estressado? Mas por que? Eu não tinha visto...
Peguei um pano que estava pendurado perto do balcão e me levantei indo até ele, o semblante fechado e a respiração ofegante dele era possível de se perceber de longe. Fui para seu lado e com o pano fui pegar a assadeira na tentativa de colocar ela no balcão, mas mesmo com o pano me ajudando a manusear, ela estava muito quente o que me fez queimar um pouco a mão.
- Caralho!- soltei-a imediatamente ainda na pia.
- Porra Kitra, presta atenção!- puxou minha mão com uma certa força e a olhou.
Levantei meu olhar pra ele e posso jurar que o Felipe está completamente diferente, talvez seja pela preocupação da situação. Ele deve ter ficado desesperado, deve ser isso.
- Não aperta assim, tá me machucando.- pedi e quando ele me olhou e percebeu o que estava fazendo, soltou minha mão com cuidado.
- Desculpa.- disse ao se afastar.
- Tudo bem.- tentei passar confiança pra ele.
- Eu fiquei nervoso, com medo de você ter se machucado e...
- Fê, tá tudo bem!- o olhei fixamente - Vamos só sair daqui, tá bom?
{...}
- Ele o quê?- Dhiovanna gritou do outro lado da linha o que me fez afastar o celular da orelha.
- Amiga foi sem querer, a situação foi bem mais complicada do que você imagina.- expliquei mas eu tenho quase certeza de que ela mal me escutou.
- O garoto gritou com você e depois apertou o seu pulso, espera que ele faça mais o quê? Te bata?- ironizou.
- Pelo amor de Deus, como você é exagerada, se eu soubesse que reagiria assim eu não teria te contado.- resmunguei - De certa forma ele está certo, eu não tomei atenção, poderia ter sido um acidente maior.
- Independente, Kitra. Ele gritou com você!
- Porque estava assustado!- dei ênfase - Não acho que tenha sido de propósito, ele ficou bem mal depois.- insisti - É sério amiga, tudo que aconteceu hoje foi bem estranho e eu tenho certeza que ele não fez por mal porque o olhar dele foi de muita preocupação.
- Você tem certeza disso?- perguntou ainda desconfiada.
- Tenho!- disse por fim e ela finalmente pareceu compreender o que eu tinha falado - Aproveitando que você me ligou...- pensei se realmente valia a pena perguntar isso a ela - O Gabriel apareceu aqui mais cedo mas não disse nada, sabe o que pode ter acontecido?
Ela ficou quieta por um tempo, só escutei a respiração ofegante dela do outro lado da linha. Eu conheço a Dhiovanna e ela pode até ser a minha melhor amiga e me amar muito, mas quando se trata do Gabriel eu duvido muito que ela vá dizer alguma coisa.
- Por que não tenta conversar com ele pra saber o que ele queria?- disse ainda sem jeito.
- Não acho que seu irmão esteja de bom humor comigo depois de me ver com o Felipe.- fui sincera - Além do mais, porque eu que deveria ir atrás dele? Eu já fui demais.
- Vocês são dois orgulhosos.- disse por fim e mesmo sem entender eu preferi que mudemos de assunto.
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Sagrado Profano🍷• Gabriel Barbosa
Fiksi PenggemarEntre taças de vinho, Gabriel e Kitra exploram os limites entre o sagrado e o profano. Ele, acostumado ao brilho dos estádios e à pressão dos fãs, descobre na calmaria de Kitra uma nova forma de se expressar. Ela, por sua vez, enfrenta a imensidão...