Gabriel
Senti um peso nos meus ombros e quando me virei a Kitra tinha adormecido, não dormimos bem a noite toda e hoje ainda tive treino mais cedo, foi uma correria.
Desde aquele dia, nós ficamos juntos. A mãe dela viajou e vai voltar amanhã, então nós quatro decidimos ficar a semana na minha casa como temos costume de fazer quando isso acontece.
Ajeitei ela no meu colo e com cuidado fui saindo e deixando ela deitada no sofá, peguei a coberta que tínhamos trago e a cobri até o pescoço. A Kitra sente muito frio a noite e o ar da casa tá ligado, se não cobrir ela é capaz de acordar no meio da madrugada.
Encarei o rosto dela tão delicado e sereno, ela parecia estar em um sono calmo. Passei delicadamente a ponta do meu indicador no rosto e ela sorriu leve.
Acho isso lindo na Kitra, sempre que a toco ou faço algum carinho enquanto está dormindo, ela sorri. Me dei conta de que involuntariamente eu também estava sorrindo, então tirei meus dedos do rosto dela e me levantei me recompondo.
- Vai ficar evitando isso até quando?- tomei um susto e quando me virei, o Victor estava atrás de mim com os braços cruzados.
- Caramba Victor, que susto!- coloquei a mão no peito.
- Não vai responder minha pergunta?- encostou na mureta - Por que não para de evitar esse sentimento?
- Quer minha resposta sincera mesmo?- ele assentiu - A Kitra não merece isso.
- Alguém gostar de você é tão ruim assim?
- É pior.- me aproximei - Isso vai ser confuso e ruim pra sua irmã, é melhor a gente não passar disso.
- E você acha que vão conseguir?- riu - Você é doido por ela e a Kitra é doida por você, não aguentam ficar distantes um do outro. Acha mesmo que ela já não gosta de você?
- Você mais do que ninguém sabe que isso vai se tornar um problema pra ela.
Ele ficou quieto por um tempo, achei até mesmo que a conversa tinha se encerrado ali mas foi pelo contrário. O Victor suspirou pesado e tomou coragem pra falar.
- Sendo bem sincero, se for pra você continuar desse jeito eu prefiro que não tenha mais nada com minha irmã.- disse me deixando sem palavras - Ela nitidamente está gostando de você e se isso for um problema, não quero que ela se magoe.
As palavras dele me trouxeram pra vida real, como se até o momento eu estivesse em uma ilusão somente minha. Não posso dizer que não entendo ele, a Kitra é sua irmã e por mais que ele me ame muito, é a ela que deve proteger.
- Minha irmã gosta muito de você, Gabriel. Torci muito por vocês mas ficar nesse rolo só vai fazer com que ela se invalide mais e não é isso que eu quero.
Eu poderia diacordar, acredito que era isso que ele esperava ouvir de mim mas no final as contas eu o entendo. O Victor está certo, a Kitra gostar de mim é um problema enorme e se ele acha melhor eu ficar longe pra não causar confusão pra ela, assim farei.
- Tudo bem.- falei e sorri de canto tentando disfarçar.
- O que?- perguntou desacreditado.
- Você está certo, a Kitra não merece isso.- me aproximei, dei dois tapinhas no ombro dele, o olhei por mais um tempo e saí dali.
Assim que cheguei no meu quarto, me joguei na cama com o rosto no travesseiro e uma sensação ruim tomou conta de mim como se eu estivesse feito a pior burrada da minha vida. Mas eu estou certo, a decisão que tomei não foi pensando em mim, caso o contrário eu teria continuado. Pensei na Kitra, ela é perfeitinha demais pra viver no meu mundo.
{...}
Acordei e senti um peso nos meus braços, quando virei o rosto vi que a Kitra estava deitada neles, toda encolhida no cantinho da cama e enrolada com o que restou da coberta. Ela deve ter passado muito frio.
Tirei meu braço com cuidado, aconcheguei a cabeça dela do travesseiro e a arrastei para o meio da cama, puxei a coberta para a enrolar e com cuidado fui saindo da cama.
Devo ter acabado dormindo aqui ontem e mal lembrei de buscar ela lá em baixo e colocar em um dos quartos.
Fui até a enorme janela do meu quarto e fechei tanto ela quanto a porta de vidro da sacada. Quando me virei, percebi que ela estava sorrindo enquanto dormia, como de costume.
Ela é muito perfeitinha, tem um mundinho só dela como se as outras pessoas fossem apenas figurantes do conto de fadas que ela vive. Eu tento preservar isso nela enquanto está comigo porque caso eu mostre a realidade, ela vai acabar se assustando e vai perder a fé e a ingenuidade que tem.
Diminui o ar, coloquei uma blusa, peguei algumas coisas minhas e quando saí do quarto, me bati de frente com minha irmã. A cara de sono nela era nítida, assim como os cabelos todos pra cima.
- Bom dia princesa.- dei um beijo na cabeça dela.
- Bom dia irmão.- fechou a porta atrás dela - Achei que há tinha ido, o Victor foi logo cedo.
- Hoje eu não vou, tenho umas coisas pra resolver aqui com meu pai.- fiz o mesmo que ela - Ainda tá muito cedo, por que acordou agora?
- Acordei com o barulho do Victor e não dormir mais.- bocejou.
- Entra e deita com a Kitra então, só não faz barulho porque ela não deve ter dormido bem.
Minha irmã sorriu e assentiu. Dei espaço para que ela entrasse e antes que ela batesse a porta, se virou pra mim e ainda sorrindo disse.
- Vocês deveriam se dar uma chance.- balancei a cabeça em negação - Já ama ela, não é?
- Amor é uma palavra muito forte.
- Mas gosta?- fiz o que ela nem esperava e assenti.
- Muito.- admiti e o sorriso dela se estendeu mais - Mas isso não vai pra frente, então não adianta muito eu sentir isso agora.- o sorriso da minha irmã se fechou, ela ficou séria e incrédula - Agora vai dormir antes que fique sem sono.
Dei de ombros e tornei a tomar um rumo para outro quarto.
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Sagrado Profano🍷• Gabriel Barbosa
FanfictionEntre taças de vinho, Gabriel e Kitra exploram os limites entre o sagrado e o profano. Ele, acostumado ao brilho dos estádios e à pressão dos fãs, descobre na calmaria de Kitra uma nova forma de se expressar. Ela, por sua vez, enfrenta a imensidão...