Gabriel Barbosa
Consegui identificar um cabelo cacheado bem preto com algumas mechas claras de longe, aqueles ali eu reconheço em qualquer lugar, é a Kitra. Ela estava sentada na praça sozinha, mexendo no celular... pelo menos era o que eu pensava, minutos depois um homem alto se aproximou dela.
Ele tem cara de ser novo, diria até que talvez tenha a mesma idade que a dela. Ele se sentou com uma badeja cheia de doces e imaginei que ela estivesse nervosa já que ele colocou todas na sua frente. Normalmente quando a Kitra está nervosa, gosta de comer doces e segundo ela isso a reconforta. Tentei não dar atenção aos dois, mas isso era impossível já que eles ficavam de risadinha e gargalhadas parecendo um casal.
Respirei fundo tentando controlar minha agonia ao ver aquela cena mas ficou ainda mais difícil quando eu o vi dando comida na boca dela. Que ridículo, como se ela não tivesse mão para se servir sozinha.
Peguei meu celular do bolso e enviei uma mensagem pra Ester pedindo para que ela adiantasse para irmos logo, ver essa ceninha patética já estava me deixando enjoado e sem paciência.
- Desculpa a demora, tive que esperar o professor passar a lista.- me abraçou.
- Na próxima me fala que eu chego no horário exato.- retribui o abraço mas não de forma tão intensa quanto o dela.
- Para de ser rabugento, só foram alguns minutos.
- Cada minuto meu é precioso.- ela se afastou um pouco do abraço, segurou meu rosto com uma das mãos e selou nosso lábios com um selinho um pouco demorado. Confesso que fiquei um pouco surpreso pela ação repentina dela mas retribui.
- A gente já pode ir?- perguntei pouco paciente e ela assentiu, pegou na minha mão e entrelaçou nossos dedos.
Não gosto muito de andar de mãos dadas ainda mais com alguém que eu mal faço questão, muito toque e troca de afeto em público não é minha praia, mas sei que a Ester consegue ser muito mais chata quando eu nego então por um momento só eu me deixei levar pelo momento.
Ela começou a conversar comigo enquanto contava as milhares de coisa que já tinha acontecido no dia dela e eu fico surpreso já que o dia mal começou e ela já fez tanta coisa. Ao passar pela mesa onde a Kitra estava sentada percebi ela de risinho com o garoto, por poucos segundos nossos olhos se cruzaram e por mais que tenha sido por um mísero instante eu consegui fitar bem a forma como o garoto a olhava, ele nem ao menos consegue disfarçar.
Virei o rosto e tentei ignorar a encarada que ela deu para nossas mãos entrelaçadas, quando não senti mais o olhar dela sobre mim, arranjei uma desculpa e soltei minha mão das da Ester.
- O que foi, aconteceu alguma coisa?- ela perguntou já que eu soltei tão rapidamente.
- Não é nada, só vou pegar meu celular e avisar pro meu pai que já estamos indo.- ela balançou a cabeça assentindo e fomos rumo ao estacionamento da faculdade.
Meu motivo de estar com a Ester de forma tão repentina claramente foi por conta do meu pai, ele insistiu para que ela fosse lá em casa já que ele não a vê a tanto tempo e é óbvio que pra ela isso soa como uma talvez reconciliação e uma possível volta de nós dois. Eu detesto ter que fazer a vontade do meu pai mas infelizmente eu ainda sou submetido a aceitar as decisões dele.
Ao chegarmos na casa dos meus pais deu pra ver de longe a cara desanimada da minha mãe e a cara de pouco caso da minha irmã, na verdade o único que estava radiante ali era o meu pai. É claro, ele segue achando que isso é o "melhor pra mim". No fundo eu sei que isso não passa de interesse da parte dele.
- Ester, como é bom te ver!- ele falou ao se aproximar e dar um abraço nela.
- Seu Valdemir, eu digo o mesmo.- retribuiu e quando se afastou foi cumprimentar minha mãe e minha irmã. Minha mãe pelo menos tentou, já a Dhio estendeu a mão antes que ela fosse a abraçar. A Ester ficou um pouco sem graça mas ela nunca desiste de tentar ser algo pra a minha irmã, então apenas sorriu e apertou sua mão.
- Meus pais pedem desculpas por não conseguir vir hoje, eles ainda não chegaram de viagem mas pediram para que marquem o próximo encontro o mais rápido possível!
- Com certeza vamos marcar.- meu pai sorriu - Vamos tomar um vinho, escolhi um que tenho certeza que você vai adorar!
É um vinho tinto chileno, uma das categorias premium e justo o que a Kitra adora. Naquele dia do filme na casa dela, eu vi pelo menos umas três garrafas secas dele no balcão, então alguns dias depois eu comprei um cesta e pedi para que entregassem na casa dela. Eu detesto até o cheiro, o vinho é seco e afrutado, fico extremamente enjoado só de imaginar mas eu conseguia suportar isso por ela.
Eu sei que esse não é um dos vinhos preferidos da Ester, na verdade é o que ela menos gosta. Porém, mesmo assim ela suporta porque não quer desagradar o meu pai, pelo menos nisso a gente se parece.
Fomos para o jardim de inverno e ficamos tomando algumas taças de vinho enquanto a cozinheira servia alguns petiscos de entrada antes de irmos almoçar, minha irmã tentou dar duas desculpas pra sair dali mas nem eu nem minha mãe queríamos ficar sozinhos nessa loucura, então a barramos e ela teve que ficar mesmo contra vontade.
Pouco tempo depois ouvimos a campainha tocar, pouco tempo depois meu cunhado apareceu e se espantou ao nos ver aqui.
- Victor, quanto tempo!- meu pai se levantou indo o cumprimentar. Se tem alguém que goste mais do Victor do que eu e minha irmã, esse alguém é meu pai. A maior felicidade dele foi o Victor pedir permissão pra namorar a Dhio.
- É bom te ver, sogro.- sorriu e o abraçou ainda com um olhar assustado. Depois foi cumprimentar os outros e na minha vez sussurrou no meu ouvido - Que porra tá acontecendo aqui?
- Depois eu te explico.- fiz o mesmo e nos soltamos.
- Desculpa atrapalhar vocês, mas eu tinha combinado de levar a Dhio pro estágio.
- Caramba, é verdade!- ela olhou o horário um pouco desesperada, se levantou e foi as pressas pro quarto.
- Ela vai acabar enlouquecendo com esses horários.- minha mãe disse e eu concordei.
- Eu ainda a aconselhei mas vocês sabem o quanto é difícil fazer ela mudar de ideia.- meu cunhado respondeu - Bom, vou lá em cima tentar ajudar ela. Mais uma vez, desculpa pelo incômodo.
- Você nunca incomoda.- minha mãe sorriu. Ele terminou de se despedir e subiu para o quarto da minha irmã.
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Sagrado Profano🍷• Gabriel Barbosa
FanfictionEntre taças de vinho, Gabriel e Kitra exploram os limites entre o sagrado e o profano. Ele, acostumado ao brilho dos estádios e à pressão dos fãs, descobre na calmaria de Kitra uma nova forma de se expressar. Ela, por sua vez, enfrenta a imensidão...