Sagrado Profano🍷• Gabriel Barbosa

25.🍷

Gabriel 

Ficar com a Kitra é como ter um momento de paz em meio ao caos, mas ao mesmo tempo é bom não ter a responsabilidade de ter que suprir as expectativas de alguém o tempo todo. É bom ter e não ter ela ao mesmo tempo, mas sinto que essa minha paz vai virar um caos se ela não souber dividir ou diferenciar as coisas.

Por esse motivo eu evito de todas as maneiras ter algum tipo de relação com ela, sei que isso, querendo ou não acaba influenciando demais nos sentimentos. A Kitra é nova, e já vemos como foi a reação dos outros quando uma mera foto, que até então não significava nada foi vazada, imagino só se fosse algo realmente certo.

- Gabriel?- ouvi a Dhio me chamar e me dei conta de que ela ainda estava ali.

- Vai me levar na faculdade ou não?- a olhei direito e ela já estava arrumada e com a mochila nos ombros.

- Vamos.- me levantei e peguei a chave do bolso - A Kitra também vai?

- Ela já tá lá, foi mais cedo hoje por conta do trabalho que vai fazer mais tarde.- entrou no carro e passou o cinto em volta.

- Me tira uma dúvida?- ela assentiu me olhando - Esse garoto com quem ela vai fazer o trabalho, eles já ficaram?

- As vezes parece que você não conhece a Kitra.- riu irônica - Ela não é igual a essas mulheres que você é acostumado a ficar, ela é diferente. 

- Não mude de assunto, vá direto ao ponto.- respirei fundo.

- Não Gabriel, ela nunca ficou com ele.- suspirei de alivio- Mas não foi por falta de querer dele, o pobre coitado tenta a todo custo mas ou ela não percebe ou ela finge que não sabe.

- Idiota.- rir e quando me dei conta ela estava me encarando confusa - O que foi?

- Não prenda a Kitra.- falou e eu revirei os olhos.

- Não começa, Dhiovanna.

- Você nunca se relacionou com nenhuma mulher tão nova quanto ela, a Kitra é genuína e as vezes ingênua, não use isso pra prender ela enquanto você fica com uma e outra. 

- Eu sei disso.- tentei concordar pra ver se ela parava logo.

- Não, não sabe.- apontou- Ontem ela me falou do quanto gosta de ficar um tempo com você.

- Ué, isso é algo bom!- afirmei fazendo uma cara óbvia.

- Pra você!- deu um tapa no meu braço e eu descontei com outro - Ela tá começando a gostar de ter momentos contigo, isso significa que não vai demorar pra gostar de você!

- Para de loucura, a Kitra me conhece muito bem pra saber que não é isso que eu quero agora.- falei imediatamente. Se minha irmã estiver realmente certa dessa loucura, eu prefiro terminar o que ao menos começamos, antes mesmo que ela se perca na minha confusão.

- É nisso que você está enganado, ela conhece a sua falsa versão, a que a trata com carinho longe das pessoas.- me corrigiu - Você tá dando esperanças a ela, Gabriel.

- Não, não estou.- neguei.

- Você está, sabe que está.- se virou novamente pra frente - Decida o que você quer com a Kitra e espero que não a machuque. 

- Você não deveria se importar comigo também?- a questionei - Eu sou seu irmão.

- E me importo, mas está obvio que você é muito mais profano do que ela nesses assuntos.

- Profano?- me virei totalmente pra ela indignado. Que garotinha abusada!

- É Gabriel.- fez o mesmo - Você sabe o que é malicia, é muito mais impuro do que ela. Já a Kitra é tão pura que me dá raiva, ela consegue ver as coisas boas em pessoas que só faltam pisar nela, ela não tem malicia em nada!- gesticulou -  Vocês são claramente o inverso um do outro, o significado do sagrado e profano.

- Independente.- apontei pra ela - Não me chame mais de profano.

- Você é patético.- suspirou ao se jogar no banco - Adianta, tenho que chegar no horário hoje.

Minha irmã não estava totalmente errada, mas a Kitra não era tão ingénua quanto ela imagina que seja, talvez, no meio dessa confusão de passarmos tanto tempo juntos, eu acabei conhecendo uma parte dela que ninguém mais tenha visto, deve ser por isso que pra mim, imaginar a Kitra em algumas situações seja mais fácil do que para outras pessoas.

Fico com ela pela pessoa que ela é, mas sinceramente, não sei se teria coragem de dar a ela o que provavelmente deseja de mim. E de verdade, eu prefiro largar tudo de mão do que correr o risco de ferrar com a vida dela.

- Quando estiver saindo me fala que eu te busco.- falei assim que ela abriu a porta.

- Tudo bem, mas vou sair um pouco mais tarde hoje então quando vir, já vem pronto pra ir pro ct.- sugeriu e eu concordei. 

A Dhiovanna saiu e as palavras dela automaticamente tomaram conta dos meus pensamentos. 

Gosto de ficar com a Kitra mas gostar dela é meu maior medo, gosto das coisas que vivemos juntos mas pensar em seguir isso pra frente e de uma forma séria me faz querer desistir, não quero prender ela mas só de imaginar ela com outro meu sangue ferve. 

Ela me deixa indeciso e em uma corda bamba, isso me dá raiva.

- Você não deveria ser tão complicada.- falei comigo mesmo ao ver ela se encontrando com minha irmã ainda na porta da faculdade - Que droga, Kitra!- observei ainda dentro do carro, ela das as costas e entrar, o vestido longo colado no corpo dela, desenhava cada curva mínima, não deixando nenhuma passar ilesa.

Que ódio desejar tanto e não poder, ainda mais sendo a única pessoa que ela quer.

Respirei fundo e joguei minha cabeça contra o banco, abri o porta luvas e tirei um cigarro já bolado. Deveria fumar justo quando falta poucas horas pra ir pro ct? Não! Mas isso é só mais uma pequena loucura comparada a grande besteira que eu já estou fazendo.