9.🍷

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Kitra

Levantei tomando um banho gelado como de costume, já tínhamos tomado café, meu irmão tinha ido se arrumar para receber a namorada e minha mãe saiu a fim de comprar alguns ingredientes que faltavam pra fazer o mouse que ela tanto gosta.

Ao terminar, fui até o closet e percebi que algumas coisas estavam mais organizadas que o normal, o que me deu a quase certeza de que a dona Fátima já tinha passado por cá. Ela era a moça que nos ajudava na limpeza e organização da casa, desde que somos pequenos, então a consideramos como parte de nós. Separei minha roupa e peguei a bolsa com algumas coisas da Dhio que ainda estavam perdidas por aqui.

Ao pegar tudo, tranquei o quarto e desci. Por mera coincidência ela já tenha chegado e minha mãe também.

- Por um minuto achei que teria que subir pra te chamar.- ela falou jogando uma almofada em mim.

- Demorei porque fiquei com preguiça de levantar.- joguei a almofada de volta - O cinema de mais tarde está de pé?

- Com certeza, estávamos te esperando pra decidirmos o que íamos comprar.

- Acho que só falta os petisco e o vinho.- a respondi.

- Comprem apenas o vinho que vocês gostam de tomar, passei por lá mais cedo e vi o vinho branco que a Dhio e o Gabriel gostam, aproveitei e trouxe.- minha mãe apareceu da porta.

- A senhora é um anjo.- Gabriel a respondeu mandando um beijo.

- Um anjo não, ela é minha sogra mesmo.- minha amiga se levantou indo até ela - Obrigada minha linda.

- Eu gostava de quando a senhora lembrava de mim e do minha irmã.- a olhou de braços cruzados.

- Não faça pressão psicológica, não temos culpa de sermos tão amados.- Gabriel brincou.

- Então que os amados vá ao mercado comprar as coisas, eu não levanto daqui!- Victor fez birra.

- Para com isso amor, vamos logo.- foi até ele o puxando pelo braço - Gabi, fica aqui e ajuda a Kitra a fazer o bolo, pode ser?

- Mas eu nem sei cozinhar.- levantou os braços em rendição.

- Aprende, sei lá, abre os potes quando ela for usar, ajude em alguma coisa!

O jeito autoritário dela nos fazia rir, realmente pra ela não tinha tempo ruim. Meu irmão sabia que não tinha outra opção a não ser levantar e ir com ela, então foi isso que ele fez.

- Vou subir pra deixar a cozinha livre pra vocês, se precisarem de mim, me chame.- minha mãe disse passando por nós.

- Obrigada mais uma vez pelo vinho.- ela sorriu em troca e subiu - Por onde começamos?

- Pela massa, meu irmão não gosta de massa pronta então vou fazer do zero.- me levantei e ele fez o mesmo.

- Precisa mesmo agradar a todo mundo?- questionou vindo atrás.

- Tá se referindo ao bolo ou a mim?- tirei o pote que precisaria do armário estendo pra ele.

- Os dois.- pegou-o da minha mão.

- Do que adianta fazer um bolo pra nosso cinema sendo que nem todos vão comer?- estendi outro pra ele - E eu gosto de agradar quem eu amo, não custa nada.

- As vezes seu jeitinho meigo e doce me enjoa.- colocou- os no balcão.

- Tenho culpa de você ser tão amargo?- fui até o outro armário pegar os ingredientes.

Não escutei mais a voz dele e o Gabriel quieto chega a ser aterrorizante. Quando me virei o vi concentrado em abrir os potes que tinham o cacau em pó, a farinha de trigo e o açúcar. Olhando ele assim, tão focado em fazer tudo certo dava até uma sensação de alivio, ele parecia apenas um menino comparado ao homem que era.

- Precisa do quê, primeiro?- disse levantando o olhar.

- Da farinha.- ele me entregou, medi na xícara e coloquei na vasilha maior aonde iria misturar tudo - Açúcar e leite.

Ele foi me entregando os ingredientes enquanto olhava atentamente cada movimento que eu fazia, como se não quisesse perder nenhum passo.

- Por que está tão quieto hoje?- perguntei enquanto mexia tudo.

- Como assim?- puxou o banco grande do balcão sentando nele.

- Você tá quieto, aparenta estar triste.- levantei o olhar pra ele.

- É fim de férias, chega a ser triste voltar pra tudo de novo.

- Achei que gostasse do que faz.

- E gosto, amo!- me repreendeu - Mas vou sentir saudades da Dhio e da minha mãe.

- E do seu pai, né?- o lembrei.

- É, dele também.- sorriu tanto falso.

Dhiovanna me falava do jeito rude do seu Valdemir de lidar com o Gabriel, as vezes tenho em mente de que ele não aceita que o filho já é adulto, ou talvez só tenha medo de perder tudo que o Gabriel o proporcionou.

- Pronto, agora é só colocar no forno.- falei ao passar a massa pra assadeira. 

- Deixa que eu coloco.- a pegou levando até o forno.

Abri a porta pra ele e esperei com que colocasse a assadeira dentro para fechar e me certificar de que a temperatura estava ideal. Fui até o balcão pegando tudo que tinha sujado e coloquei na pia, o Gabriel foi até lá e começou a separar para lavar.

- Pode deixar aí, se minha mãe descer e ver que estou deixando você fazer alguma coisa é capaz dela me matar.- peguei a bucha da mão dele.

- E a minha me mataria se soubesse que sujei e não lavei.- tomou novamente de mim.

- Mas a minha está mais próxima.- tentei pegar mas ele a mudou de mão.

- Se a minha sonhar, vai ser pior.- ligou a água - E se tentar me interromper eu dou na sua cabeça com essa panela.

Levantei as mãos em rendição e peguei o pano de prato esperando para enxugar.

- Não vai conseguir vir pro filme?- o perguntei.

- Não sei se consigo chegar a tempo do início, mas vou tentar vir ao menos pra ficar um pouco aqui.- disse - É a primeira vez que fazemos isso depois que Nic...enfim, é importante pro nosso grupo.

- Seria importante você vir.-peguei a louça da mão dele que me olhou de imediato - Era um dos melhores amigos do meu irmão. Ele ficaria feliz.

Sagrado Profano🍷• Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora