22.🍷

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Gabriel

Tempo antes...

Estacionei o carro na garagem da casa dos meus pais, desci e busquei pela minha mãe na sala.

- Oi meu amor, achei que não iria vir hoje.- me abraçou ao me ver.

- E não ia vir, mas passei pra ver como a Dhio está.- a abracei também.

- Ela tá lá no quarto deitada desde que chegou da faculdade.- nos soltamos- Mas e você, tá bem?

- Sempre estou.- sorri- Vou lá ver como ela tá.- dei as costas.

- Gabriel!- tornou a me chamar e me virei pra ela- Tem certeza que você tá bem?

- Tenho mãe, fica tranquila.- tornei a me virar de costas e fui pro quarto da minha irmã.

Quando eu morava aqui, meu quarto era o em frente ao dela, na verdade ele só era esse porque quando o Victor vinha pra cá ele dormia no meu e pra ficarem por mais tempo juntos ela me fez me mudar de quarto só pra ficar o mais próximo ao dela.

Bati na porta e pouco tempo depois ela abriu a porta, os olhos estavam fundos, estava enrolada com o roupão e com a toalha na cabeça.

- Ainda tá viva?- empurrei ela e entrei no quarto.

- Quase deixei minha alma no banho.- falou com a voz rouca e se sentou na cadeira da penteadeira.

Ela estendeu o pente pra mim e eu revirei os olhos antes de tirar a toalha da cabeça dela.

- Por que não me ligou pra te buscar?- comecei a desembaraçar o cabelo dela.

-  Você estava ocupado no treino, não queria te atrapalhar.- abriu o creme, estendi minha mão e ela colocou um pouco nela.

Ela começou a falar sem parar, a Dhiovanna quando está nos seus dias mais empolgados faz questão de falar pelos cotovelos. Esperei ela ficar quieta para que finalmente eu falasse.

- O quanto você se importaria se eu ficasse com alguma das suas amigas?- separei uma mecha começando a trançar.

- Eu não iria me surpreender, elas são loucas pra ficar contigo.- balançou os ombros- Menos a Kitra, ela é a única que não daria uma chance pra você.

Eu rir tão de uma forma tão espontânea que nem me dei conta de que ela também tinha escutado, foi como se eu não tivesse controle do meu corpo, eu até tentei me segurar mas não consegui.

- Você ficou com ela, não foi?- se virou pra mim com o semblante fechado.

- Foi.- falei ainda tentando controlar minha risada.

- E você acha que isso é engraçado?- se levantou emburrada - Não tem vergonha na cara? Eu te falei pra não ficar com a Kitra e você me prometeu que não iria ficar com ela.

- Nunca te prometi nada, só faço promessas que sei que vou cumprir.

- Mas ontem na sua casa, você me falou que não tinha interesse nela.- apontou.

- Para com isso Dhiovanna, eu nem te respondi.- não conseguia parar de rir, é muito engraçado pensar em toda essa situação.

- Você é um idiota mesmo.- desmanchou a trança que eu tinha feito - Sai do meu quarto.

- Vai fechar a cara e me ignorar como sempre faz?- cruzei os braços a encarando - Para com isso.

- Eu te pedi Gabriel, foi a única coisa que eu te pedi!

- Você me pede muitas coisas.- me sentei na cama- Por que ficar com a Kitra seria tão ruim pra você?

- Porque ela estaria agindo igual a Ester.- falou como se fosse óbvio.

- Que comparação ridícula.- neguei com a cabeça - Não foi só porque a Ester se aproximou de você pra ficar comigo que a Kitra vá fazer o mesmo.

- Você não sabe prever isso.- jogou o pente na penteadeira - Daqui a pouco vocês estão juntos e ela me deixa de canto, como todas as meninas que se aproximam de mim.

- Qual o problema de vocês de acharem que um beijo significa alguma coisa?- arqueei as sobrancelhas - Eu só fiquei com ela, não é um casamento e mesmo assim, a Kitra nunca seria igual a essas meninas que você chama de amiga. Tenho certeza que você tem noção disso.

- Eu sei mas é que...

- Você tem ciúmes de nós dois.- completei - Eu sei disso, mas não deve.- gesticulei - A Kitra te ama muito além do que você possa imaginar, mesmo ela sendo estressante e insuportável eu acho que ela seja a única amiga leal que você tem, não aja como se ela fosse igual as outras.

- Acha mesmo ela insuportável?- falou como se tivesse ignorado todo o resto.

- Mais do que você imagine.- fui sincero - Mas esse não é o ponto.- me aproximei dela - Não imponha nos outros algo que não é de sua conta e nem de seu interesse, a vida e minha e dela, ficar com alguém não é algo tão controlável quanto você imagina.- segurei em seus ombros - Eu amo você, tu é a única pessoa importante pra mim mas isso não significa que deve mandar na minha vida, tá bom?

- Desculpa.- suspirou.

- Vou aceitar suas desculpas se entender o lado da Kitra e não ficar brava quando ela for te contar.- ela assentiu e me abraçou deitando a cabeça no meu peito.

Posso até ser bruto com o mundo e carinhoso com a Dhiovanna, mas isso não dá a ela a liberdade de mandar e desmandar na minha vida, não gosto disso e me sinto preso e sufocado. Já não basta eu ser assim com meu pai, não quero me sentir assim com ela também.

- Senta logo na cadeira pra eu terminar seu cabelo.- empurrei ela do abraço - Vamos jantar lá na casa da tia.- ela assentiu e puxou a cadeira se sentando.

Tempo depois...

- Fez o certo em contar pra ela.- Victor falou enquanto prestava atenção no jogo - Achei que seria pior.

- E seria, mas foi eu que falei, então não foi.- fiz o mesmo que ele.

Ouvi meu celular tocar na cama dele, não dei muita atenção e continuei jogando mas tempo passou e ela não parava de tocar, foi quando eu desistir de ignorar e me levantei o pegando. 

Era meu pai, respirei fundo e balancei a cabeça enquanto ia na sacada do quarto dele.

- Fala pai.- atendi.

- É assim que fala comigo?- fez seu típico drama.

- Para de cena e fala logo.- falei já sem paciência.

- Passe no meu escritório quando vier trazer a Dhiovanna, temos que resolver umas coisas.

- Sobre o que?

- Quando vier vai saber.- ouvi a chamada finalizar e quando olhei o celular, ele já tinha desligado.

Sagrado Profano🍷• Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora