13.🍷

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Kitra

- Ah fala sério, não acredito nem um pouco em você.- falei já um pouco alterada, na verdade, eu estou até melhor do que mais cedo.

- Eu tô te falando, quando eu vi o cara vindo na minha direção com o punho fechado eu sabia que ele ia me bater, por isso agi antes que ele.- tentou se justificar pela milésima vez.

- Tava claro nas gravações que ele só ia conversar com você, Gabriel!

- O cara estava literalmente na minha frente e você vai acreditar em gravação?- eu assenti com se fosse o obvio - Fica na sua garota.

Já eram quase seis da manhã, vimos o dia amanhecer no jardim daqui de casa, foi realmente uma vista linda. Bebemos a madrugada inteira, quando passou a clarear decidimos dar uma pausa pra não perder o controle de vez.

- Caramba, já tá tarde.- ele falou ao conferir o horário no relógio- Preciso acordar a Dhiovanna.

- Acordar quem?- ouvimos a voz dela se aproximando de nós - Vocês passaram a noite aqui?

- Só fizemos o que erámos pra fazer desde o início.- Gabriel falou se levantando.

- Quando chegou aqui e por que não me acordou? eu acordaria pra ficar com vocês.

- Cheguei tarde, na verdade só queríamos beber o meu vinho mas nos empolgamos.- ele respirou fundo conferindo o celular - Vamos, pego o voo as dez e ainda quero descansar um pouco antes de ir.

- Tá bom então né.- falou ainda desconfiada - Vou acordar o Victor e pegar minhas coisas, me espera rapidinho.

O Gabriel concordou e observamos ela dar de ombros e entrar na casa novamente. Ele veio até onde estávamos, me ajudou a recolher as coisas e a colocar tudo na cozinha. 

- Me dá isso daqui, pode deixar que eu limpo.- falei ao pegar os pratos das mãos dele.

- Não, pode deixar.

- Não vamos brigar por isso novamente, não é?- franzi o cenho e dessa vez, ele se deixou levar.

- Tá bom, mas na próxima eu ajudo.- apontou e eu fingi aceitar - Obrigada pela madrugada bastante proveitosa, precisava disso depois do atormento que foi aquele jantar.

- Eu que agradeço, até que você consegue ser um bom ouvinte.- sorri pra ele que pareceu hesitar um pouco antes de me retribuir com outro.

- Pronto, já peguei minhas coisas. - Dhio falou ao aparecer na porta com a bolsa que tinha trago - Cunhada, depois tenta acordar o Victor. Fui me despedir e ele jogou o travesseiro na minha cara.

- Não deixa ele perder o horário por favor, precisamos dele em campo e sem punição, dessa vez.- Gabriel brincou e eu rir. Acabei rindo tanto e tão alto que a Dhiovanna me olhou confusa e mais desconfiada- Bom, já vamos!

Pela primeira vez o Gabriel se despediu antes de ir embora, normalmente ele apenas vira as costas e vai, sem ao menos abrir a boca pra dizer tchau. Confesso que por não me acostumar, não iria responder, mas como ele não deu sequer um passo, me dei conta de que ele estava esperando a minha resposta.

- Mais uma vez, obrigada por hoje.- disse - Boa viagem.

Ele sorriu, deu de ombros e foi. Já a Dhio ainda ficou me olhando por alguns poucos segundos antes de fazer o mesmo que ele.

{...}

- Não quero que vá.- falei ao abraçar meu irmão.

- É necessário princesa, prometo estar de volta daqui a um mês.- beijou o topo da minha cabeça.

- Mãe, fala pra ele não ir.- a olhei e como de costume, ela já estava com os olhos marejados.

- Não posso filha, mas logo logo ele volta.- o abraçou - Vai com Deus filho, não se esqueça de me manter informada, por favor!

Meu irmão não é do tipo de gostar de despedidas, pelo contrário, as vezes ele preferia viajar na madrugada só para não ter que se despedir de ninguém. Mas depois do acidente, ele passou a dar valor até aos momentos que ele não gostava. 

Na realidade, parece que a vida de todos nós tiveram grandes mudanças. É como se nossa vida fosse separada por antes e depois do ocorrido.

Victor pegou suas coisas e foi. Respirei fundo e só agora pude sentir o sono começar a tomar conta de mim.

- Está com cara de cansaço, não dormiu?- minha mãe me perguntou enquanto me oferecia café.

- Passei a noite em claro com o Gabriel.- a respondi negando o café.

- Então todas aquelas garrafas de vinho foram de vocês dois?- me perguntou incrédula - Quando passou a beber tanto e ainda mais aquele vinho?

- Tínhamos que comemorar o último dia das férias e assim fizemos.- rir pela expressão dela - E sobre o vinho, digamos que ele me ensinou um novo jeito de apreciar o gosto.

- Bom, que bom então, o vinho é realmente gostoso.- disse- Não quer ir descansar? Daqui a pouco você tem aula, não seria bom chegar cansada logo no primeiro dia. Deixa que eu limpo aqui.

- Você faria isso por mim?- ela assentiu me dando um beijo na bochecha - Obrigada mãe.

- Não agradeça. Agora vá! Quando estiver no horário eu te acordo.

Dei outro beijo nela em forma de agradecimento e subi pro meu quarto. Estava um pouco frio, então deixei a temperatura da água esquentando enquanto separava uma roupa confortável pra dormir. 

Fazia muito tempo que eu realmente não passava uma noite inteira só conversando e me divertindo com alguém como hoje, pensando assim é até estranho eu ter ficado tanto tempo com o Gabriel. Ou ele realmente estava desesperado, necessitando de algo que o fizesses dispensar o jantar que tinha passado ou ele só queria curtir e aproveitar o último dia de férias.

Aliás, em relação ao jantar, como que a família do próprio namorado não sabe do que ele gosta, ou pior, como que a namorada não sabe do que o namorado gosta? O Gabriel detesta carne de porco, é quase que um crime oferecer isso a ele e nem precisa ser tão próximo pra saber disso, basta pesquisar um pouquinho.

Isso me faz ter a noção de que nem nisso eles tiveram a preocupação, estão tão desesperados para que ele e a Ester voltem que nem ao menos se importam com o conforto dele.

Por que eu tô pensando nisso agora? Não é da minha conta!

Repreendi meus pensamentos, preciso descansar e tenho poucas horas, é nisso que eu devo focar.

Sagrado Profano🍷• Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora