- Não tenho boas notícias, doutora. O pai não quer nem ouvir falar da criança.
- Era o que eu pensava. Era meu dever tentar e foi o que fiz. Agora o caso será entregue à comissão de protecção de menores.
- Eu posso assumir a paternidade?
- O quê?
- Se for possível eu quero ser o pai dessa criança.
- Tem a certeza? Não está a agir por impulso?
- Tenho absoluta certeza. Só preciso de alguns dias para me organizar lá em casa.
- Quem faz parte do seu agregado familiar? Não deveria consultá-los?
- Apenas eu e minha mãe, dona Elsa Perroni. Meu pai já faleceu. De certeza que terei o apoio dela.
- Eu penso que não vai haver problemas em assumir a paternidade uma vez que nem temos a certeza absoluta de que o seu chefe era o pai. Vou preparar o documento que lhe permita fazer o registo.
- Doutora, correndo o risco de ser indiscreto, mas porque estava a amamentar a menina?
- Porque estou produzindo leite. Eu fui mãe há um mês e tal, quase dois. Infelizmente o meu bébé não teve a sorte de sobreviver.
A bébé não aceitava a mamadeira e eu optei por alimentá-la naturalmente.- Desculpe a minha indiscrição e lamento a sua perca.
- Nós chamamos a menina de Valentina, mas como ainda não foi registada, pode alterar o nome.
- Eu gosto de Valentina.
- Eu pensei adoptá-la, mas os processos são demorados e não tenho garantia de que me escolhessem. Creio que neste caso é mais fácil para si uma vez que parece que ninguém a vai reclamar.
- Vou dar-lhe o registo do nascimento do hospital e o documento da morte da mãe para fazer o registo. Depois diga-me quando poderei dar alta à bébé.
- Obrigada, doutora. Vou tratar disso o mais depressa possível.
Rodolffo saiu. Ligou para o trabalho a pedir dispensa do dia. Entrou no seu carro e respirou fundo. Duas lágrimas teimavam em cair ao pensar no passo que ia dar. Há muito tinha o sonho de ser pai e embora nunca tivesse pensado adoptar uma criança, muito menos lhe passou pela cabeça assumir um filho de alguém conhecido.
A admiração que sempre teve pelo seu chefe tinha-se esfumado nestes últimos dias. Era um bom profissional, óptimo como amigo, mas esta faceta desprezível fez tudo ir àgua abaixo. Nem sequer se deu ao trabalho de saber se a filha era realmente dele e foi logo rejeitá-la.
Rodolffo sabia que apesar de casado, Abel Silva Marques, sempre viveu rodeado de mulheres e Eugénia foi só mais uma. Não sabe o que aconteceu para ela cair no mundo da droga.
Deu partida no carro, mas no momento seguinte, desligou a viatura, saiu e dirigiu-se de novo ao gabinete da médica.

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Deixa-me cantar à Lua
FanfictionA lua. Sempre ela. Grande, linda, sempre lá no alto acolhendo tanto is enamorados, como os tristes solitários. Por isso eu canto para ela.