Cap. V

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- Não tenho boas notícias,  doutora.  O pai não quer nem ouvir falar da criança.

- Era o que eu pensava.  Era meu dever tentar e foi o que fiz.  Agora o caso será entregue à comissão de protecção de menores.

- Eu posso assumir a paternidade?

- O quê?

- Se for possível eu quero ser o pai dessa criança.

- Tem a certeza?  Não está a agir por impulso?

- Tenho absoluta certeza.  Só preciso de alguns dias para me organizar lá em casa.

- Quem faz parte do seu agregado familiar? Não deveria consultá-los?

- Apenas eu e minha mãe,  dona Elsa Perroni.  Meu pai já faleceu.  De certeza que terei o apoio dela.

- Eu penso que não vai haver problemas em assumir a paternidade uma vez que nem temos a certeza absoluta de que o seu chefe era o pai.  Vou preparar o documento que lhe permita fazer o registo.

- Doutora, correndo o risco de ser indiscreto, mas porque estava a amamentar a menina?

- Porque estou produzindo leite.  Eu fui mãe há um mês e tal, quase dois.  Infelizmente o meu bébé não teve a sorte de sobreviver.
A bébé não aceitava a mamadeira e eu optei por alimentá-la naturalmente.

- Desculpe a minha indiscrição e lamento a sua perca.

- Nós chamamos a menina de Valentina, mas como ainda não foi registada, pode alterar o nome.

- Eu gosto de Valentina. 

- Eu pensei adoptá-la, mas os processos são demorados e não tenho garantia de que me escolhessem.   Creio que neste caso é mais fácil para si uma vez que parece que ninguém a vai reclamar.

- Vou dar-lhe o registo do nascimento do hospital e o documento da morte da mãe para fazer o registo.  Depois diga-me quando poderei dar alta à bébé.

- Obrigada, doutora.  Vou tratar disso o mais depressa possível.

Rodolffo saiu.  Ligou para o trabalho a pedir dispensa do dia.  Entrou no seu carro e respirou fundo.   Duas lágrimas teimavam em cair ao pensar no passo que ia dar.  Há muito tinha o sonho de ser pai e embora nunca tivesse pensado adoptar uma criança, muito menos lhe passou pela cabeça assumir um filho de alguém conhecido.

A admiração que sempre teve pelo seu chefe tinha-se esfumado nestes últimos dias.  Era um bom profissional, óptimo como amigo, mas esta faceta desprezível fez tudo ir àgua abaixo.  Nem sequer se deu ao trabalho de saber se a filha era realmente dele e foi logo rejeitá-la.

Rodolffo sabia que  apesar de casado, Abel Silva Marques,  sempre viveu rodeado de mulheres e Eugénia foi só mais uma.  Não sabe o que aconteceu para ela cair no mundo da droga.

Deu partida no carro, mas no momento seguinte, desligou a viatura, saiu e dirigiu-se de novo ao gabinete da médica.

Deixa-me cantar à LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora