Cap. II

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- Quem é a moça? - questionei a equipe que aguardava.

- Foi trazida e largada  à porta do hospital.  Não tem identificação e está desacordada.  Numa primeira avaliação parece tratar-se de uma toxicodependente.

Juliette observou a moça.  Estava grávida e a julgar pela barriga, devia estar em fim de tempo.

- Coloquem a moça a soro.  A criança está posicionada para nascer.

Juliette observava o rosto e braços da jovem.  Ela começou a despertar.
Nos braços eram visíveis as marcas causadas pelas agulhas com que se injectava.

- Como se chama?  Quem podemos avisar?

- A jovem abriu os olhos.  E que olhos!  Azuis esverdeados, brilhavam como cristais.

- Chamo-me Eugénia.  Por favor tira esta coisa de dentro de mim.

- Esta coisa é o seu filho.  Vou fazê-lo nascer de imediato.

- Não me interessa.  O pai que tome conta dele.  Eu  não o quero, nunca quis.

- Não diga isso.  Um filho é uma bênção.   Quem é o pai?

- Um ricaço metido a besta.  Por causa dele eu estou assim.  Deixou-me e ainda por cima buchuda.

- Ainda não me disse o nome dele.  Quem fez estes cortes na sua barriga?

- Eu.  Ontem à noite, depois de me drogar.  Fiquei doidona.  Queria tirar dela tudo o que me lembrasse o Banqueiro  Silva Marques.

- É ele o pai?

- Ela assentiu com a cabeça e gritou no momento seguinte depois de uma contracção.

Minutos depois nascia uma criança do sexo feminino e Eugénia após uma hemorragia intensa acabou por morrer.

Por ser filha de toxicodependente, a bébé precisou efectuar os mais diversos exames e teria que permanecer internada.

Mandei a minha enfermeira assistente procurar o número de telefone do banco onde o suposto pai trabalha.

- Bom dia.  Peço desculpas o doutor Silva Marques está ausente a trabalho.  Regressa dentro de 15 dias.

- Posso deixar um pedido para que me contacte logo que possa.

- Com certeza.  Vou anotar.

Juliette deixou recado e voltou ao berçário.  A bébé já tinha sido sujeita a vários exames e agora preparavam-se para lhe dar a mamadeira.

- Deixe que eu dou. - disse Juliette segurando a bébé.  Ela colocou o bico da mamadeira na boca da criança, trocaram vários bicos e nada.  Ela não pegava em nenhum.

- Precisas de comer, bébé.  Vá lá, ao menos um pouco.

Nada a fazia pegar na mamadeira e nesta altura já começava a chorar.

Juliette olhou ao redor.  A responsável do berçário estava bastante distante e ela direccionou a criança para o seu peito.  Foi como magia, ela sentiu o mamilo e de imediato abocanhou-o, começando a sugar.

Juliette estava emocionada e apesar de saber que não era correcto, agora só precisava de alimentar a criança.

Foi surpreendida pela responsável do berçário que viu a cena, mas não teve coragem de dizer nada.

Deixa-me cantar à LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora