Cap. III

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Um mês depois a criança continuava nos hospital e nem sinal do suposto pai.

- Bom dia.  É mais uma vez a dra Juliette.   Preciso urgentemente de falar com o dr. Silva Marques.

- Ele está em reunião doutora.

- Pois diga-lhe que vou aí e ele que não ouse não me receber.

- Um momento que eu vou transmitir a sua mensagem ao doutor Miller que é o braço direito do doutor Silva Marques.

Juliette esperou, bufando por todos os lados.

Alguns minutos depois

- Doutora, o doutor Miller diz que vai agora mesmo aí ao hospital inteirar-se da situação.

- Não é a mesma coisa, mas pelo menos alguém tomará conhecimento do assunto.  Obrigada.   Ele que pergunte por mim.  Estarei no berçário.

Juliette alimentava a  criança como vinha fazendo desde o primeiro dia.
Uma enfermeira conduziu o doutor até ao berçário e pediu-lhe que esperasse.

Ele ficou a observar através da janela de vidro os vários berços devidamente alinhados.  A um canto reparou numa moça amamentando uma das crianças.
Pela indumentária pareceu-lhe ser médica, mas ficou na dúvida.

A enfermeira que o acompanhou chegou perto dela e pela expressão parece que a doutora pediu para eu esperar.

Eu fiquei ali a apreciar a cena, tentando perceber coisa nenhuma.
De seguida ela levantou-se da cadeira depois de compor a roupa e veio colocar o bébé no berço mais próximo da janela onde eu estava.

Trocámos olhares e no momento seguinte ela aparecia junto a mim.

- Bom dia.  Sou Juliette,  a obstetra deste hospital.

- Muito gosto, Rodolffo Miller.

- Vamos para o meu gabinete.  Lá conversaremos mais à vontade.

Rodolffo seguiu lado a lado com Juliette.  A sua atenção estava nos longos cabelos dela mas essencialmente no cheiro que dela emanava.

- Sente-se  por favor.  Porque é que o Dr. Silva Marques decidiu ignorar-me?  Este é um assunto muito importante.   Está em causa a  vida de uma pessoa.

- Ele é muito ocupado.

- Não esteve ocupado quando fez o filho!

- Filho?  Que filho? 

- Você conheceu a Eugénia?

- Sim.  Eles tiveram uma relação,  mas há muito que terminaram.
Ele disse que o término tinha partido dela e não mais os vi juntos.

- Pois, mas dessa relação nasceu uma menina que precisa do pai pois a mãe acabou por falecer no parto.

- Lamento pela Eugénia.   Pareceu-me boa moça.

- Um tanto perdida no mundo.  Já era toxicodependente nessa época em que eles se relacionavam?

- Que eu tivesse conhecimento,  não.

- Pois agora era.  Por isso a criança precisou ficar aqui este tempo todo.  Diga ao seu chefe que é necessário que ele resolva, caso contrário precisamos accionar as entidades de apoio à criança.

- Eu posso ver a bébé?

- Pode.  Venha comigo que eu mostro-lhe a menina mais linda do berçário.   Tem os olhos claros da mãe.

- A Eugénia tinha os olhos bonitos mesmo.

Rodolffo acompanhou-a ao berçário e chegando em frente do berço ele ficou sem entender nada.

Deixa-me cantar à LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora