Cap. XXII

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Por um motivo que ele não conseguia explicar, Rodolffo não gostava de Helena. 
Podia ser cisma dele, mas algo nela não lhe agradava.

- É impressão tua, amor.  Ela é dedicada, atenciosa.  Pergunta à tua mãe.   Ela está satisfeita e ela é que convive mais com ela.

- Ok.  Pode ser, mas fico atento.

Algum tempo depois, num outro lugar, à noite.

- Já estás lá há tanto tempo, dava para fazeres muito mais.

- Não vou fazer isso.  Eu gosto deles, tratam-me bem, tenho um óptimo salário.  Gosto de lá.

- Sabes o que te pode acontecer se não fizeres o que eu quero?

- Por favor, isso já faz tanto tempo.  Esquece esse assunto.

- Não esqueço, Helena.  Eu quero que essa família sofra.  Fui humilhada por aquela doutora, não vai ficar sem resposta.

- Mas eu não consigo.  Amanhã mesmo vou despedir-me.

- E eu entrego o vídeo à polícia.  Aquele homem morreu por tua culpa.  Tu é que o agrediste e abandonaste o corpo na lixeira.

- Com a tua ajuda.

- Prova que eu ajudei.  Foi na tua casa que ele morreu.

- Porque me agrediu, mas estava vivo quando o deixámos.  Depois voltaste para verificar e confirmaste a morte.

- Estava bem morto.  Agora vê se fazes o que pedi.  Quero aquela menina fora daquela casa.

- O que vais fazer com a bébé.

- Vendê-la.   Tenho até um comprador em vista.  Vem ao Brasil dentro de 15 dias.   É esse o tempo que tens para fazeres o trabalhinho.

- Não.   Não vou fazer.  Não vou cometer outro crime.  Não quero passar o resto da vida na prisão.

- E para onde pensas que vais se eu entregar o video?  É um homicídio.
Já arranjei um lugar onde a criança e o comprador vão ficar dois dias depois da transacção.   A seguir tão  escondido como veio, regressarão aos Estados Unidos.

- Vão ser apanhados no aeroporto.

- Não te preocupes.  O dinheiro paga um jatinho particular.

- Desiste, Marta.

Conheci a Marta há dois anos.  Ambas frequentavamos um certo tipo de bares.  Chegámos a morar juntas durante uns meses em que o dinheiro não abundava e então decidimos partilhar a casa que eu alugara.

Numa dessas noites permiti que um cliente me acompanhasse a casa.  Era um homem meio grosseiro.  Nunca o tinha feito e ainda não entendi porque o fiz naquela noite.  Eu era iniciante nessa vida e estava por fora de certos perigos apesar da Marta já me ter alertado.

Ela era esperta.  Mulher estudada, sempre seleccionava os bons clientes para ela.

Nessa noite em casa, o homem tomou umas bebidas e quis sexo.  Eu neguei por ele estar bastante alcoolizado e fui logo agredida com um murro no rosto.
Caí junto à lareira da casa e peguei num dos acessórios da mesma desferido um golpe nele que caiu redondo.   Nem vi onde acertei.  Entrei em pânico assim que vi bastante sangue junto dele.

Marta chegou  junto a mim naquele momento, mas a verdade é que ela já havia chegado antes, presenciado e gravado tudo.

Ajudou-me a levar o homem até uma lixeira distante.   Deixámos o homem ali, voltámos para casa, eu limpei tudo e no dia seguinte ela saiu de minha casa para ir morar sózinha.

Agora diz que eu devo sequestrar uma criança,  mas eu não quero fazer isso.

Deixa-me cantar à LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora