Rodolffo olhava alternadamente para a doutora e para a criança. Alguma coisa não batia certo. Porque é que ela a estava amamentando mais cedo?
Quis perguntar, mas teve receio da resposta. A criança era mesmo linda. Uns caracolinhos negros e uns olhos claros em conjunto com a pele morena, ela parecia uma boneca. Rodolffo fez uma festinha a mão dela que logo lhe agarrou o dedo com força.
- Como está a saúde dela? Não ficou afectada pela vida que a mãe levou?
- Saúde de ferro. Fale com o pai. Eu preciso dar alta à criança e ainda nem um nome tem.
Em último caso será encaminhada para adopção.
- Prometo trazer-lhe notícias em breve doutora. Tenha um bom dia.
Rodolffo saiu dali sem palavras. Não entendia como podiam existir crianças nestas condições. Ia ter uma conversa muito séria com o chefe, mas não esperava muito. Silva Marques pelo que ele tinha consciência detestava crianças. Por uma ou outra vez as funcionárias levavam os seus filhos para o trabalho e ele exigia distancia.
- Dr., a Eugénia faleceu.
- Como soubeste?
- O assunto que a Dra. Juliette quer falar consigo é sobre a Eugénia e a filha.
- A Eugénia não tinha filhos que eu soubesse.
- Teve uma e consigo. Vi-a hoje quando fui ao hospital.
- Comigo? Eu não tenho filhos. Deve ser mentira dela.
- Ela faleceu ao dar à luz. Disse o seu nome quando fecou os olhos e afirmou que era o pai.
- Em todo o caso eu não quero filhos. Irá para adopção.
- Vai ao menos dar-lhe um nome?
- Não. Não quero contactos nenhuns.
Rodolffo estava indignado com tamanha insensibilidade da parte do chefe.
- Nesse caso amanhã comunicarei ao hospital que podem avançar com a adopção. Não sei se terá que assinar algum documento.
- Trate você disso. Tenho mais que fazer.
Rodolffo não conseguiu dormir nessa noite. A todo o momento tinha a imagem da menina abandonada no hospital. Abandonada não totalmente porque pelo menos, do que ele pode observar, tinha o amor da médica. Agora, porque é que ela a amamentava? Seria porque ela era mãe também e tivera uma criança recente?
Acordou cedo e depois de tomar café dirigiu-se ao hospital.
A doutora Juliette ainda não tinha chegado e ele ficou a aguardá-la na sala de espera.
Aos poucos iam chegando grávidas acompanhadas dos respectivos companheiros, mas muitas vinham sózinhas. Rodolffo ouvia as mais variadas conversas entre elas. As dúvidas, os enjoos, os desejos. Era bizarra toda a transformação durante a gravidez.
Alguns homens lamentavam o trabalho que a companheira dava, mas a maioria sentia-se bem a participar de tudo.
A doutora Juliette entrou na sala de espera, deu bom dia a todo o mundo e chamou Rodolffo para o gabinete.
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Deixa-me cantar à Lua
Fiksi PenggemarA lua. Sempre ela. Grande, linda, sempre lá no alto acolhendo tanto is enamorados, como os tristes solitários. Por isso eu canto para ela.
