Cap. XXVIII

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Oito meses depois

Hoje foi lida a sentença do julgamento de Marta. Por ter ficado provado que foi ela que matou o homem que Helena agrediu e ainda o crime de sequestro e tráfico de crianças,  foi condenada a 35 anos de reclusão.

Ficou provado que após deixarem o homem na lixeira, Marta voltou atrás e cravou-lhe uma faca no peito. Foi ingénua ao deixar as suas impressões digitais na faca.
O advogado prometeu apresentar recurso, mas ela não aceitou.  Disse que estava exausta com o julgamento e não passaria por outro.

Helena foi condenada a pagar uma quantia a uma qualquer instituição de solidariedade pelo crime de abandono de pessoa ferida.  Apesar de tudo estava satisfeita.

O comprador da criança por ser pessoa rica, conseguiu escapar da prisão preventiva e até hoje desconhecesse o seu paradeiro.  Foi julgado à revelia e condenado a sete anos de prisão.

Fez-se justiça, concluíram os demais interessados.

...

Muitos anos passaram e os nossos personagens hoje vivem uma vida totalmente diferente.

Valentina fazia a ronda pelos doentes quando um nome despertou a sua atenção.   Abel Silva Marques.

Desde que completou dez anos a mãe e pai contaram-lhe a história do seu nascimento.  Foi em mais um dos seus questionamentos sobre a cor da pele dela ser diferente dos irmãos.
Já havia perguntado outras vezes, mas desta vez acharam que eram horas de contar.  A princípio fez algumas perguntas, mas depressa deixou o assunto morrer.

Agora ao ver o nome na lista dos seus pacientes sentiu uma certa curiosidade.  Juntamente com a enfermeira foi junto à cama onde estava o tal senhor.

- Bom dia.  Como se sente?

Ele não respondeu.  Quando olhou para ela abriu os olhos o máximo que pode.

- Que se passa, senhor Abel?  Sente-se bem?

- Faz-me lembrar uma pessoa que conheci  há muito tempo.  Tem tantos traços dela.

- A Eugénia?  Sou parecida com ela?

- Sim.  Conheceu-a?

- Não.   Nem poderia, já que ela faleceu quando me teve.

- É a filha da Eugénia?

- Sim.  Fui gerada por ela mas cresci com uns pais maravilhosos.

Abel estava de lágrimas nos olhos.  Havia dois anos que tinha regressado da Alemanha.  Estava sózinho e doente.

- Doutora, eu sou o seu progenitor.   Tenho pena de tudo aquilo em que me tornei.  Sei que de pouco adianta mas queria pedir perdão por não ter sido um pai para si.

- Não se esforce agora.  Está doente e o que está feito, está feito.  Felizmente apareceu papai Miller que me deu muito amor.

- Miller?  Rodolffo Miller?

- Sim.  Foi esse homem que me educou e me fez ser o que sou hoje. A ele a a mamãe eu devo tudo o que sou hoje.

- Posso pedir-lhe um único favor?

- Se for possível atender.

- Peça ao Miller que venha ver-me, por favor.

- Vou dizer-lhe.  Se ele vem ou não,  não sei.
Agora vou deixá-lo.  Tenho outros pacientes para ver.

Valentina saiu dali e realmente aquele homem não lhe dizia nada.  Era mais um paciente e iria tratá-lo como tal.

Deixa-me cantar à LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora