Alguns dias depois, eu colhia flores para fazer buques com minha avó, usava luvas e um lenço na cabeça. Estar em contato com a natureza sempre me trouxe paz, mas não naquele momento, naquele momento eu tinha um conflito interno entre ficar com essa criança e desistir de tudo que eu quero, ou dar ela para um lar de adoção onde pais realmente preparados assumiriam a responsabilidade."Hyunjin. Saudade. Nosso alfa. Família"
Meu lobo assim como eu também estava tenso, só que umas cem vezes pior, ele não sabia ser racional por ser um ômega. Seus instintos são apenas maternos e familiares. E agora, ele enxerga família quando envolve Hyunjin, isso me assusta um pouco.
— Querido, está tudo bem? — Vovó questionou, limpando um pouco do suor da testa.
— E-está, por que? — Encarei ela um pouco preocupado, e a ômega sorriu.
— Você está fazendo um buque com capim santo e cebolinhas, é algum tipo de inovação ou está distraído?
Olhei para minhas mãos constatando meu erro e corei. Vovó sorriu e me entregou flores reais para montar um buque.
— Talvez eu esteja distraído, são as provas sabe, estão me matando! — Ri nervoso — Talvez não só as provas.
— Entendo. Bom, uma vez, sua bisavó Lorelay, se apaixonou por um belo ômega do nosso vilarejo, a décadas atrás esse lugar era mais natureza que pessoas, então era comum os casais que se formavam permanecerem aqui, e a sociedade da época era muito mais tradicional nesse quesito. Então um dia, por medo de perder ele para outra, ela se declarou, em meio a um lindo campo de girassóis. E por achar que ele a aceitaria, ela forjou um anel de prata para dar a seu companheiro. Aquele anel custou tudo o que ela tinha e um pouco mais. O ômega se surpreendeu, afinal, a família do seu avô era uma das melhores daqui, mas ele não a aceitou.
— O quê? Por que? Ele já tinha alguém? — Uni algumas flores, margaridas junto de girassóis.
— Ele tinha objetivos maiores que viver para sempre num campo cuidando de filhos, animais, flores e frutos. Ele queria um alfa que pudesse leva-lo para longe desse lugar, e não para prende-lo aqui — Respirou fundo — Mas o tempo passou, e de fato ele foi embora, ouvi dizer que se casou com um alfa bem rico, viajava para vários países, comprava roupas de marca e vivia bem. E sua bisavó, continuou aqui e também foi feliz por um tempo.
— Então ela encontrou alguém que queria o mesmo que ela?
— Sim. Mas algo que ninguém previu era que o alfa de Lorelay havia se conectado ao primeiro ômega, uma conexão de almas, tão forte que adoeceu ela pela rejeição. Apesar de ter se casado e tido um filho com outro parceiro, o corpo dela enfraquecia a cada ano, perdia sua força vital, sua essência. No final, ela já não era mais a mesma, definhou a ponto de não conseguir ficar em pé.
— Então quando há uma rejeição de fato, quem foi rejeitado definha até morrer? — Vovó assentiu tristemente — Mas e o ômega, ele soube do que aconteceu?
— Avisaram a ele, e ele voltou para aqui assim que soube que ela havia morrido. Seu avô me disse que o ômega se arrependeu de não ter ficado, de não ter tentado, eles se amavam mas os objetivos eram diferentes. O resultado disso foram dois corações partidos e a morte de Lorelay — Ela parou de mexer nas flores para me encarar seriamente — Felix, eu sei que algo está errado, e sei que tem haver com mais alguém.
— V-vovó eu...
— Eu sei querido, sou velha e reconheço de longe um olhar apaixonado. É o garoto rebelde não é? — Segurou minha mão e eu assenti, deixando lágrimas suaves correrem dos meus olhos — Não fuja de seus sentimentos.
— Nem se eu quisesse conseguiria, estou mais preso a ele do que nunca — Acariciei minha barriga com a outra mão e vovó sorriu.
— Não o deixe escapar querido — Me puxou para um abraço — Eu vivi o melhor casamento da minha vida com seu avô, eu me permiti vivenciar o que ele podia me proporcionar de melhor. E veja onde isso me levou; mais longe do que qualquer passagem para outro país, mais rica que qualquer fortuna e mais amada que qualquer coisa.
Aquele abraço acompanhado de palavras sabias, me deram a coragem necessária para me abrir sobre o que estava acontecendo. Minha avó prometeu me ajudar a contar para meu pai, o que seria de fato impossível de prever era como ele reagiria. Mas independente disso eu não poderia mais esperar, eu dizendo ou não, ele iria saber, pois meu cheiro acabava de ganhar notas suaves de pêssego, impossíveis de ignorar.
(...)
— Doar meu sobrinho? Ah não, ele quer que eu voe naquele cabelo loiro dele? — Yeji resmungou e eu sorri por sua braveza.
— Eu jamais vou permitir isso — Papai interviu surgindo na porta do meu quarto com os braços cruzados.
— P-pai? Você, quanto v-você ouviu? — Senti um frio na barriga, e entrei em alerta, as íris do meu pai estavam levemente avermelhadas.
— Hyunjin, em primeiro lugar, você jamais desistiria da musica se não fosse por uma boa razão, é sua paixão desde que você ouviu o Guns N Roses pela primeira vez, e você tinha quatro anos — Andou a passos lentos em minha direção — Em segundo lugar, você comprou um estoque de doces desnecessário e escondeu na despensa. Seu paladar é mais para salgado que doce, sou seu pai e sei disso, o que só torna mais obvio que aquelas caixas de bala de cereja eram para outra pessoa — Engoli em seco quando meu pai sentou do meu lado na cama — E terceiro, procurar um emprego? Ainda mais no exercito? Isso nunca foi uma prioridade, eu imaginaria isso vindo mais da Yeji do que de você, pelo seu medo de sangue. Então dito tudo isso, quem você engravidou, e porque não me disse nada?
Meu queixo quase caiu pela tamanha analise dos meus passos feita pelo meu pai. Era obvio que eu estava encurralado, e nem mesmo o maior dos desastres naturais iria impedir meu pai de ter suas perguntas respondidas.
— F-felix — Ele deu um tapa na minha nuca automaticamente e eu esfreguei o local atingido.
— Ótimo, estou prestes a me casar e o presente do amor da minha vida vai ser receber o título honorário de vovô, boa filho.
— Pai essas coisas acontecem — Lee Know encarou Yeji com sangue nos olhos — Eu não estou dizendo que sou a favor, mas sabe, já rolou, o que podemos fazer agora é garantir que Hyunjin se responsabilize por seus atos.
— Ah mas ele vai, vou garantir isso — Apoiei as duas mãos no rosto, frustrado.
— Acredite, eu voltaria no tempo se pudesse, mas não posso. Então por favor, pula a parte chata de ser pai e me diz o que fazer — Murmurei abafado e ganhei mais um tapa na cabeça.
— Primeiramente, vamos conversar com seu sogro. Vai assumir isso de cabeça erguida, depois vamos ver como ajudar da melhor forma Felix em sua gestação, e depois disso — Concordei lentamente e ele deu dois tapinhas nas minhas costas — Não estou aqui para encobrir seus erros, mas para ensinar a lidar com eles. E você vai ser um bom pai, assim como eu fui, estamos entendidos?
— Estamos, pai — Ele me puxou para um abraço e Yeji se juntou a nós, assim como Shinyu.
— Já imaginou se forem gêmeos como nós? Poderíamos vestir eles com roupas iguais como fazíamos quando éramos-
— YEJI! — Todos gritamos em uníssono.
Continua... 🍒
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Little Country Boy {Hyunlix}
FanfictionLee Felix é um garoto de apenas 16 anos que vive com sua avó e seu pai Han Jisung, em uma casinha no interior, Lee sempre foi um bom garoto, estudioso e organizado em tudo na sua vida, mas seu pequeno mundinho perfeito vira de cabeça pra baixo depoi...