Capítulo 29

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Sophia

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Sophia

Estava sentada no sofá, envolta em lenços de papel, assistindo a "Um Amor para Recordar", o filme favorito de minha mãe. Assim como a protagonista, que foi levada pelo câncer, eu me sentia cercada de lembranças dolorosas. Joana, sempre amorosa, fez pipoca para mim.

— Querida, trouxe mais pipoca para você.

— Obrigada, Joana. Você realmente não quer que eu ajude você?

— De maneira alguma, querida. Você já trabalhou demais nesta casa ontem; seu corpo precisa descansar.

— Mas, com a Frida agora, ela pode ser soberba, e eu não quero que ela te faça fazer muitos serviços pesados.

— Agradeço pela preocupação, mas com a Frida eu me viro. Eu conheço a peça. — Acabei dando uma meia risada. — Estou preparando biscoitos de Natal, você vai querer que eu traga daqui a pouco?

— Hum... eu adoro esses biscoitos com aquelas decorações...

— Estou fazendo seus favoritos. — Sorri animada, mas fomos interrompidas por Frida.

— Aí estão vocês. Já imaginava que a preguiçosa iria aprontar. — Frida me olhou de cima a baixo.

— Ela realmente está em clima natalino. Será que o Papai Noel vai dar algum presente para você neste ano, Frida?

— Olha para minha cara e vê se eu tenho idade para acreditar em tolices.

— Eu acho que os fantasmas do Natal têm que aparecer para você neste ano, porque tá difícil. — Peguei algumas pipocas para comer. Vi Frida cruzar os braços.

— Acho melhor parar de fazer piadinhas, menina intrometida. A polícia está na sala e quer falar com você.

— Polícia? — Olhei para Joana, confusa. Pelo que me lembrava, não levei nenhuma infração por dirigir quando o senhor Johnson me empresta o carro para fazer compras no mercado, nem cometi algum crime. Vi Frida dar um sorriso debochado.

— Melhor ir logo, antes que seja presa. — Joana saiu, fechando a porta, e eu me levantei.

— E agora, Joana?

— Melhor você ir ver o que os policiais querem, querida. — Joana beijou minha testa.

— Só vou escovar os dentes, tá bom?

— Só não demora. Enquanto isso, vou oferecer biscoitos e chá para os policiais.

— Faça isso...

...

Entrei na sala de visitas e vi dois policiais e um homem de terno e gravata.

— Srta. Sophia, bom dia. — Disse um homem de aproximadamente quarenta anos.

— Bom dia. — Respondi, apertando a mão de cada um. Vi Joana em um canto da sala, assim como Frida, que não perderia a oportunidade de fofocar para o senhor Johnson.

— Este é o senhor Adam, advogado de Amanda Thompson.

— Da minha amiga? — Perguntei surpresa. Amanda, mesmo sendo a madrasta de Ethan e um pouco mais velha que eu, sempre foi gentil e amável comigo, e nunca se importou com minha classe social.

— Como vai, Sophia? — Ele me indagou, fazendo um leve aceno. Minha atenção voltou ao policial.

— Senhorita Sophia, vou precisar que me acompanhe até o hospital. A senhora Amanda Thompson faleceu nesta manhã em um acidente rodoviário com seu marido, e a única sobrevivente foi a menor Luna Thompson. — Naquele momento, me ajoelhei e comecei a chorar, gritando de dor.

— Nãããão!

— Senhorita Sophia, sinto muito em dar essa notícia. — A voz do policial soava distante. Joana se aproximou de mim, ajoelhando-se para me abraçar. Ela sabia da minha ligação com Amanda, minha única amiga. Ainda sem raciocinar direito, comecei a juntar as peças. O acidente que vi na televisão mais cedo... eram eles? Joana enxugou minhas lágrimas enquanto aquele homem de terno e gravata falava, olhando para mim.

— Eu sinto muito, senhorita Sophia. Eu também estou sofrendo com a morte da minha cliente, mas ela fez um documento em cartório, com sua assinatura, para que, caso algo acontecesse com ela, você fosse a responsável pela menina. — Suas palavras me fizeram recordar de uma manhã de verão em Westler, quando Amanda tinha acabado de adotar Luna. Estávamos em um piquenique, a garotinha brincando no parquinho, enquanto eu e Amanda estávamos sentadas em um lençol sobre a grama, com uma cesta cheia de coisas gostosas.

**Flashback**

— Senhora Amanda, muito obrigada por me chamar para o piquenique. — Disse, ajeitando meus óculos. Amanda sorriu. Ela tinha cabelos ruivos e era uma mulher muito atraente. Às vezes, eu me perguntava o que ela viu no pai de Ethan, que era tão ranzinza e preconceituoso. Mas a diferença era que Amanda conseguia desarmar o marido e fazia todas as vontades dele, inclusive convencendo-o a ceder meu dia de trabalho naquela sexta para que eu pudesse passar o dia com ela.

— Quantas vezes vou ter que lembrar que somos amigas?

— Desculpa, é a força do hábito. — Olhei para Luna, que parecia se divertir. — Ela é uma criança incrível, Amanda. — Disse, acertando. Amanda encostou a cabeça em meu ombro.

— Eu não posso ser mãe, Sophia. Fiz uns exames em Londres e descobri que sou estéril. Então, resolvi visitar um orfanato em Londres depois do diagnóstico. A primeira garotinha que vi, sozinha e cabisbaixa, no balanço, com um boné azul, um macacão jardineiro e tênis um pouco velhos, foi ela. Me apaixonei pela Luna na hora, era como se eu tivesse encontrado a filha que nunca gerei.

— Deus colocou vocês duas na hora certa, e ela parece gostar muito de você.

— E eu dela. Foi muito difícil convencer meu marido a adotar, pois ele já tem um filho adulto que está estudando medicina, que uma certa garota gosta muito... — Ela disse, dando uma balançada de leve, e eu ri. — Mas Luna está aqui agora, e eu finalmente consegui a guarda dela.

— Sim, seu marido aos poucos está desenvolvendo uma relação paternal com a Luna. Ela ainda está um pouco reclusa, mas eu tenho fé de que ele vai ser um ótimo pai e que serão uma família feliz.

— Eu vou torcer para isso.

— Mas, ao mesmo tempo, também fico preocupada com a Luna. Se algo acontecer comigo, conheço meu marido, e ele pode mandá-la para um orfanato novamente.

— Ei, isso não vai acontecer. — Falei, apoiando minha mão na dela. — Para de dizer essas coisas.

— Sophia, se eu me for antes do tempo, quero que seja a madrinha da Luna, que cuide dela. Vou deixar tudo pronto, caso algo aconteça. Você me promete ser a mãe da Luna?

— Amanda, não fala essas coisas... você ainda é jovem e tem um futuro lindo pela frente. — Sorri. — Promessa de dedinho, Sophia. Eu só confio em você.

**Fim do Flashback**

Lembrei-me de que, depois daquele piquenique, Amanda realmente me pediu para assinar um documento. Ela tinha medo de que algo acontecesse, mas eu achava injusto. Amanda era uma mulher tão incrível e doce. Peguei o documento assinado, também pela guarda de proteção a menores de idade.

— Alguém do conselho tutelar está no hospital por protocolo para entregar legalmente a menina a você, senhorita Sophia. — Disse o advogado.

— E agora? Como vou dizer isso ao senhor Johnson? — Perguntei baixinho a Joana.

— Não pense nisso agora. Siga as orientações dos policiais e do advogado.

— Sophia, precisamos que venha agora mesmo. — Disse o policial.

— Tudo bem, só vou pegar minha bolsa. — Virei de costas, ainda em lágrimas e triste. Ethan também havia perdido seu pai. Fui para o meu quarto, peguei minha bolsa e o sobretudo, sabendo que aquele seria um dia longo e triste.

DESTINO TRAÇADOOnde histórias criam vida. Descubra agora