JONAS: ME DESCULPE por ontem.
Jonas: Eu não tinha o direito de te confundir desse jeito.
Jonas: Por favor, me responde.
Jonas: Eu realmente gosto de você, Marcela.
Jonas: Nunca faria nada para arruinar a nossa amizade.
Marcela acreditava nele, pensou, enquanto examinava as mensagens que o garoto disparava em seu celular. Já estava na hora de levantar da cama e preparar o café da manhã da madrasta, embora fosse domingo e a garota duvidasse que a Andrea fosse se levantar antes das dez. Não depois de um grande evento como a festa de aniversário de Giorgia Levi.
Mas o dia de descanso da madrasta não significava que Marcela também teria um. Suas obrigações estavam lá, esperando por ela, como tinham estado no dia anterior, e no anterior, e em todos os dias desde que seu pai tinha falecido.
As palavras de Jonas se embaralhavam diante de seus olhos. Se misturavam às recordações de seus lábios sobre os dela, do beijo inesperado que ele lhe tinha roubado. Ela ainda conseguia sentir a pressão, o calor de sua boca como uma memória muscular.
Uma palavra em particular se destacava das outras.
Amizade.
Jonas: Me desculpe.
Jonas: Eu estava meio bêbado.
Jonas: Não tenho o costume de beber, e tomei duas taças de champanhe.
Jonas: Eu não sei o que deu em mim.
Jonas: Quando você fugiu, eu entrei em pânico. Por isso não fui atrás de você.
Jonas: Por favor, me perdoe.
Então, ela saiu correndo em direção aos portões, mochila às costas. É claro. Era a única reação que poderia ter em uma situação como aquela. Seus sentimentos estavam a milhão, duelando pelo maior espaço em seu coração.
Estava confusa com seus sentimentos por Jonas. Rejeitada por Theo. Imersa em luto, por se lembrar de seu pai. E, principalmente: só.
A solidão era um sentimento tão familiar para Marcela, que a garota não fazia alarde por estar se sentindo sozinha. Tinha se acostumado. Mas então, Jonas apareceu, e a beijou, e aquilo tinha sido demais para ela. O beijo, no caso.
Porque, por mais que ela tivesse saído do chão quando Jonas a beijou, uma sensação ainda mais antiga que a própria solidão a acometeu. E era o sentimento que ela mais detestava: o de que era o objeto da pena de alguém.
Teria Jonas lhe dado um beijo para compensar o fato de que Theo não teria aparecido? Teria o garoto sido acometido por uma onda de compaixão, como da primeira vez em que conversaram e ele tinha decidido ajudá-la? Era típico dele. Já tinha acontecido antes. Era um dos traços mais bonitos de sua personalidade, a sua sufocante compaixão.
E agora, lá estava ele, como esperado, pedindo mil desculpas e implorando para não perder sua amizade.
Amizade.
Marcela não tinha certeza se sabia mais o que isso significava. Então, hesitante, passeou com os dedos por sua lista de contatos, clicando naquele nome que, até poucas semanas antes, era o que ela associava com a palavra amigo.
Ella: Preciso falar com você.
Era cedo. Ele poderia não responder por conta do horário. Ou, ainda, poderia não responder por tê-la deixado plantada no corredor com o relógio sem explicações.
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Cinderela às avessas
Fiksi RemajaPalácios, vestidos brilhantes e sapatinhos de cristal não fazem parte da realidade de Marcela Leone. Órfã de mãe desde bebê e de pai pela metade de sua vida, a garota foi obrigada a convencer seu coração sonhador de que não há fadas madrinhas ou prí...