28 | a fada madrinha

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MARCELA LEONE SEMPRE soube que os Levi eram uma família com dinheiro. Era uma cidade pequena. Um colégio menor ainda. As pessoas ricas não passavam despercebidas, porque chamavam muita atenção.

Ela sabia que os Levi eram ricos, não entenda mal.

O que ela não fazia ideia era do quanto.

Na semana seguinte, a garota caminhou com Jonas depois da escola rumo ao que o garoto tinha descrito como sua humilde morada. Marcela tinha dado uma desculpa para a madrasta, dizendo que precisaria cumprir uma detenção. A despeito da bronca que levou – como se a madrasta realmente se importasse com o desempenho acadêmico de Marcela –, tinha valido a pena.

Era importante que a escolha do vestido já estivesse em seu cronograma. Não apenas porque a festa se aproximava e a garota ainda não sabia o que vestiria, mas também porque precisava se lembrar do objetivo que devia ser cumprido. Precisava retomar o foco o quanto antes, para que fosse capaz de desempenhar o próprio papel.

Sua memória estava mesmo precisando ser refrescada. Suas últimas interações com Jonas não tinham relação com o Príncipe Encantado, e isso a tinha confundido um pouco.

Uma coisa era uma amizade por conveniência, que gira em torno de um propósito. Outra totalmente diferente era o que estava acontecendo entre os dois.

Passeios na cidade, idas ao cinema, comida... tudo isso se parecia demais com... bem... com o que pessoas que estão interessadas umas nas outras fazem. Até para uma garota sem tantas referências nesse departamento como Marcela Leone, isso era óbvio.

Jonas era um garoto bonito demais, educado demais, inteligente e presente. Era normal que ela se sentisse...

Ela não sabia exatamente como se sentia. Não tinha dedicado tempo o bastante para pensar a respeito.

Na verdade, não dedicara tempo algum para pensar a respeito. Toda vez que pensava em Jonas, com seus olhos verde-amarelados penetrantes, sua postura impecável a despeito de sua altura, suas roupas bonitas e seu perfume amadeirado, no modo como eles vinham se tocando com mais frequência – dedos roçando quando ele lhe passava um copo de café, ou os encontrões que ela dava em seu ombro quando estava tirando sarro dele –, a garota tratava de empurrar tais pensamentos para bem longe.

Ao passar pelos portões pretos de ferro da mansão em que Jonas vivia com a família, tais pensamentos desapareceram, e foram substituídos pelo fluxo de consciência equivalente à interjeição "Oh!".

Era uma casa construída no estilo vitoriano moderno, com paredes externas pintadas de creme, telhado preto e janelas imensas com varadas em todo o segundo andar. O jardim que circundava a mansão não tinha flores, apenas arbustos bem cortados e muito verdes. Marcela pensou que era o mais próximo que já tinha visto de um castelo.

Os dois passaram pelo pátio e pela porta da frente, que dava para um imenso átrio com piso de mármore e esculturas extravagantes, iluminadas de baixo para cima. Era como um museu.

Jonas, provavelmente notando que ela estava boquiaberta, coçou a parte de trás da cabeça e comentou:

— Mamãe gosta de arte — e Marcela respondeu com um aceno de cabeça, porque aquilo era evidente.

— Então, essa é a nossa bela donzela — uma voz feminina profunda veio de algum do topo das escadas, onde Giorgia Levi estava apoiada, bebericando o conteúdo alaranjado de uma taça de champanhe e usando um roupão de seda branca que a cobria completamente e destacava a perfeição de sua pele negra. Seus cabelos estavam puxados em um coque baixo e elegante.

Marcela se perguntou se Giorgia estava usando maquiagem, ou se aquele era seu rosto fresco. Não era à toa que a irmã de Jonas já estivesse sendo procurada por agências de modelo. Era linda sem esforço.

Cinderela às avessasOnde histórias criam vida. Descubra agora