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Sofia Clark

North Hills, Califórnia

O som suave da máquina de monitoramento cardíaco preenchia o quarto enquanto eu tentava me concentrar no livro que estava em minhas mãos. As palavras dançavam na página, mas minha mente estava longe dali. Cada batida do meu coração parecia um lembrete cruel de que algo estava errado. O que antes era automático, natural, agora soava como um alarme constante.

Eu sabia que deveria me acostumar com a ideia, mas como se acostumar com a possibilidade de que meu coração, literalmente, poderia falhar a qualquer momento? A cardiomiopatia não era apenas uma palavra, era uma sentença que eu não sabia como cumprir. Não era como um resfriado que você toma alguns remédios e melhora; era uma sombra que me seguia, uma lembrança de que a vida é frágil e passageira.

Tentei afastar esses pensamentos, focar no livro, mas era inútil. A imagem de Lucas sorrindo sempre se infiltrava em minha mente, trazendo consigo um turbilhão de emoções. Eu não conseguia parar de pensar nele, na maneira como seus olhos brilhavam quando falava sobre algo que o empolgava, na forma como ele ria, como se o mundo ainda tivesse alguma beleza para oferecer, apesar de tudo. Mas, ao mesmo tempo, havia uma culpa que corroía meu peito. Eu ainda não tinha contado a ele sobre minha condição, e isso me pesava mais do que qualquer outra coisa.

Desisti do livro e olhei pela janela, observando o movimento das árvores ao vento. O céu estava nublado, as nuvens pesadas e cinzentas, como se refletissem meu estado de espírito. As pessoas lá fora seguiam com suas vidas, alheias à minha tempestade interna. O mundo continuava girando, mas para mim, parecia que tudo estava em suspenso.

Lembrei-me da mensagem que Lucas havia me enviado: "Precisamos conversar".

Essas palavras ecoavam na minha cabeça, repetidas vezes, como um mantra sombrio. O que ele queria dizer com isso? Será que ele sentiu que eu estava escondendo algo? Ou talvez fosse algo completamente diferente, algo relacionado à sua doença? A incerteza era torturante.

Apertei o botão do controle que chamava a enfermeira. Eu precisava sair dali, nem que fosse por alguns minutos. Não queria continuar presa em meus próprios pensamentos, nas paredes brancas e estéreis que pareciam se fechar sobre mim. Quando a enfermeira entrou, eu pedi para dar uma volta pelos corredores. Ela hesitou por um momento, mas, vendo minha determinação, concordou.

Caminhar pelos corredores era a única coisa que me fazia sentir um pouco de normalidade. Era estranho pensar que, há pouco tempo, esses passeios não significavam nada para mim. Agora, eles eram um luxo, um momento de fuga, mesmo que temporário. Os corredores do hospital eram silenciosos, quase serenos, mas havia uma melancolia ali, uma tristeza latente que parecia impregnar o ar.

À medida que caminhava, minha mente vagava, tentando processar tudo o que estava acontecendo. Como contar a Lucas sobre minha condição? Como explicar a ele que, enquanto ele lutava contra o câncer, eu também estava travando minha própria batalha silenciosa? Eu queria ser forte por ele, mas, ao mesmo tempo, sentia que estava desmoronando por dentro.

Sentei-me em um banco perto da ala pediátrica, observando as crianças que passavam. Algumas estavam carecas, outras usavam máscaras, mas todas tinham algo em comum: uma resiliência que eu não conseguia entender. Como podiam ser tão fortes, tão cheias de vida, quando o mundo parecia tão injusto com elas?

Fechei os olhos por um momento, tentando absorver essa força, tentando encontrar dentro de mim a coragem para enfrentar o que estava por vir. Eu sabia que não poderia continuar adiando essa conversa com Lucas, mas, ao mesmo tempo, o medo de perdê-lo era esmagador. E se ele decidisse que não queria se envolver com alguém tão quebrada quanto eu? E se ele decidisse que não podia lidar com mais essa dor em sua vida?

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