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Sofia Clark

North Hills,Califórnia

A manhã parecia me esmagar com seu silêncio, como se o mundo lá fora tivesse parado de girar. Eu me sentia presa dentro do meu próprio corpo, tão fraco e exausto que até respirar exigia mais esforço do que deveria. Cada movimento parecia um lembrete cruel de que meu corpo estava desistindo.

Há semanas, eu já sabia que o tratamento não estava mais funcionando. As doses de medicamentos aumentavam, mas a esperança diminuía na mesma proporção. Meu corpo simplesmente havia parado de responder. Era como se meu coração tivesse resolvido que não queria mais lutar, e eu estava à mercê dessa decisão. Meus batimentos eram irregulares, e, cada vez que o monitor apitava, sentia uma onda de desespero passar pelo quarto.

Os médicos tentaram de tudo: diferentes combinações de remédios, ajustes no tratamento, mas nada parecia adiantar. E agora, a única solução que restava era o transplante. O problema era que a lista de espera parecia infinita, e eu... bom, eu sabia que o tempo não estava do meu lado.

Olhei para minhas mãos trêmulas, agora quase sem força até para segurar um simples copo de água. Meus dedos, antes ágeis, agora pareciam frágeis, quase transparentes. Eu não tinha mais o controle sobre o que acontecia comigo. Era como se o corpo estivesse definindo meu destino antes que eu pudesse.

Deitada ali, envolta pelos lençóis que nunca pareciam quentes o suficiente, meu pensamento sempre voltava para Lucas. Ele ainda não sabia a gravidade da minha situação, e eu não queria ser a pessoa que traria mais dor para ele. Ele já tinha tanto com o que se preocupar. Mas havia algo dentro de mim que gritava para contar a verdade. Eu sabia que não tinha muito tempo, e a ideia de deixá-lo sem nem ao menos uma despedida correta me apavorava.

— Senhorita Clark? — A voz calma do Dr. Sloan interrompeu meus pensamentos.

Ele entrou no quarto com seu típico semblante sereno, mas a gravidade em seus olhos não passou despercebida. Eu já sabia o que ele ia dizer, mas isso não tornava mais fácil ouvir.

— O tratamento realmente não está surtindo mais efeito — ele começou, e eu senti um aperto no peito. — Sofia, você precisa entender que sua única chance agora é o transplante. Não temos outra alternativa.

Eu apenas assenti, sem forças para falar. O medo que eu vinha tentando controlar agora parecia uma fera pronta para me devorar. O tempo estava correndo, e eu não sabia se ainda teria alguma chance de receber um novo coração.

— Eu estou na lista — murmurei, tentando convencer a mim mesma de que isso bastaria. — Estou tentando ser forte.

Dr. Sloan sorriu, mas era aquele tipo de sorriso que não alcança os olhos. Ele sabia tanto quanto eu que o tempo não era nosso aliado.

— Fique forte, Sofia. Estamos fazendo tudo o que podemos — ele disse, antes de se retirar, deixando o peso de suas palavras suspenso no ar.

Sozinha novamente, respirei fundo, tentando encontrar uma faísca de esperança, mas a verdade era que essa faísca estava apagando rapidamente.

Mas, o que me atingia com maior força era o desespero crescente de Lucas.

Ele entrou no quarto com uma expressão de preocupação que eu conhecia bem. Nos últimos dias, ele vinha se aproximando mais, tentando entender o que estava acontecendo, tentando me forçar a falar. E, como sempre, eu resistia.

— Sofia, precisamos conversar — ele começou, sua voz carregada de urgência e frustração.

Eu fechei os olhos, tentando reunir forças para enfrentar mais uma conversa que eu sabia que seria dolorosa. Não tinha mais paciência para joguinhos. O que eu queria era um pouco de paz, mas Lucas não parecia entender isso.

— Sobre o quê, Lucas? — minha voz saiu mais áspera do que eu pretendia.

— Sobre como eu estou morrendo e você não pode fazer nada para mudar isso?

Ele se aproximou da cama, a frustração em seus olhos se misturava com uma tristeza profunda.

— Não é assim que eu vejo as coisas. Eu quero saber o que está acontecendo, Sofia. Você está se afastando de mim, e isso me machuca.

— E o que você acha que vai conseguir sabendo? — perguntei, a irritação escorrendo de cada palavra.

— A verdade é que nada que você diga vai mudar o fato de que eu preciso de um transplante e que a lista de espera é interminável. Estou lutando, mas estou cansada.

A tensão no ar era palpável. Eu sentia uma raiva contida, uma raiva que se transformou em uma forma de proteção, uma maneira de enfrentar a impotência que eu sentia diante da minha condição.

— Eu estou tentando estar aqui para você! — Lucas respondeu, a voz tremendo de emoção.

— Não é justo que você me exclua disso, que me mantenha no escuro!

— Justo? — Eu ri sem humor. — Justo seria se eu não tivesse que enfrentar isso sozinha! Se eu não tivesse que fingir que está tudo bem quando a verdade é que estou morrendo. Se você realmente quisesse ser justo, me deixaria em paz!

O silêncio se seguiu, denso e pesado. Eu estava enfurecida, e ele estava claramente magoado. Mas eu não tinha mais energia para suavizar minhas palavras. A dor e o medo eram maiores do que qualquer consideração pela sensibilidade de Lucas.

O Dr. Sloan entrou no quarto novamente naquele momento, interrompendo a tensão entre nós. Eu o vi se aproximar, e a frustração que eu sentia parecia explodir em novas ondas de desespero. Lucas se virou para ele, claramente esperando alguma palavra de consolo ou uma solução, mas eu sabia que nada mudaria a realidade.

— Dr. Sloan, precisamos conversar — Lucas disse, o desespero em sua voz.

Dr. Sloan, com sua usual calma, se aproximou de Lucas e começou a explicar a situação do transplante, detalhando a dificuldade da situação. Eu, no entanto, estava cansada demais para ouvir.

— Lucas, por favor, saia do quarto — eu pedi, minha voz quebrada, mas firme.

Ele olhou para mim, e eu vi a dor em seus olhos. Ele queria protestar, mas sabia que não havia mais nada a dizer. Com um suspiro resignado, ele se levantou e saiu, deixando-me sozinha com Dr. Sloan.

Assim que ele se foi, eu fechei os olhos e me deixei cair sobre o travesseiro. A solidão que me envolveu era opressiva, mas era uma solidão que eu estava começando a aceitar. A verdade era que, apesar de todo o amor e apoio ao meu redor, eu estava enfrentando essa batalha sozinha. E, em muitos aspectos, isso era uma batalha que eu não sabia se conseguiria vencer.

Dr. Sloan se aproximou e me olhou com uma expressão que misturava compaixão e preocupação.

— Sofia, a situação é crítica — ele disse suavemente. — Você precisa estar preparada para o que vem a seguir.

Eu assenti, tentando manter a compostura. Mas, dentro de mim, a tempestade estava apenas começando.

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