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Sofia Clark

North Hills, Califórnia

A noite no hospital estava particularmente silenciosa. A luz fraca das lâmpadas dos corredores criava um ambiente de tranquilidade que eu apreciava profundamente. Estava fora do meu quarto, aproveitando a calma e o frescor noturno do hospital, e me dirigia lentamente ao terraço. O que deveria ser um breve momento de contemplação se estendeu, e eu estava perdida em pensamentos sobre Lucas, sobre o que ele poderia estar planejando e sobre o que o futuro nos reservava.

A sensação de liberdade era boa, mas havia um sentimento persistente de apreensão que eu não conseguia ignorar. O beijo de Lucas, embora breve, tinha sido um lembrete reconfortante da profundidade dos nossos sentimentos. No entanto, eu ainda não sabia ao certo o que ele estava planejando. As pistas que ele havia dado me faziam pensar que algo grande estava prestes a acontecer, e essa expectativa estava me consumindo.

Eu me sentei em um banco perto da janela que dava para o terraço e observei as luzes da cidade à distância. O céu estava claro, e o brilho das estrelas parecia quase irreal. Fechei os olhos por um momento, tentando capturar a paz que aquele ambiente me proporcionava, quando um som inesperado interrompeu minha serenidade.

A porta do corredor se abriu com um rangido baixo, e eu ouvi passos apressados. Antes que pudesse reagir, uma figura familiar apareceu diante de mim, e eu logo reconheci o Dr. Sloan. Seu olhar estava carregado de preocupação, e ele não parecia nada feliz ao me encontrar ali, fora do quarto e sem o soro conectado.

- Sofia! - Sua voz tinha um tom firme e autoritário. - O que você está fazendo aqui fora? Você não pode simplesmente sair andando pelo hospital sem supervisão!

Eu me levantei rapidamente, tentando parecer menos culpada do que me sentia. Mas o olhar de Dr. Sloan me fez perceber que eu não tinha como escapar da situação. O que eu pensava ser um momento de tranquilidade estava se transformando em uma conversa séria.

- Dr. Sloan, eu... - Comecei a explicar, mas ele levantou a mão para me interromper.

- Não importa. O que importa é que você está se colocando em perigo. Você não pode ficar andando por aí sem o monitoramento adequado. Seu quadro clínico exige cuidados constantes, e eu não posso deixar você ignorar isso.

A reprimenda foi um golpe duro, e eu me senti mal por desobedecer as instruções. Ele continuou, seu tom de voz mais suave, mas ainda carregado de preocupação.

- Sofia, eu preciso que você entenda a gravidade da sua situação. Seu estado é crítico, e você está na fila para um transplante. Na verdade, você é uma das primeiras da lista de espera. A situação é séria, e qualquer esforço físico ou estresse pode piorar sua condição.

Eu estremei com as palavras dele. Estava ciente da gravidade da minha situação, mas ouvir isso de forma tão direta e clara me atingiu com força. A sensação de vulnerabilidade que eu estava tentando ignorar voltou com força total.

- Eu... eu só precisava de um momento para mim, Dr. Sloan. - Tentei explicar, minha voz trêmula. - Não estava tentando desrespeitar suas ordens. Apenas queria aproveitar um pouco de tempo fora do quarto.

- Eu entendo que você queira um pouco de normalidade, Sofia, mas você precisa ser cautelosa. Seu corpo já está frágil, e qualquer esforço pode ser prejudicial. Prometa-me que vai se manter no quarto e seguir as orientações.

Eu assenti, sentindo uma mistura de vergonha e frustração. Ele tinha razão, e eu sabia disso. O desejo de escapar da realidade por um momento não justificava os riscos que estava correndo.

- Prometo - respondi, com sinceridade.

Dr. Sloan parecia um pouco mais calmo, mas a preocupação ainda estava evidente em seus olhos. Ele me acompanhou de volta ao quarto, e eu me senti desanimada. A jornada estava se tornando mais difícil do que eu imaginava, e o que antes parecia uma pequena fuga para um momento de paz estava se transformando em uma lembrança dolorosa da minha condição.

Quando chegamos ao quarto, Dr. Sloan fez um breve exame para garantir que eu estava em condições adequadas para retornar ao meu espaço. Enquanto ele verificava o equipamento e fazia anotações, eu me sentei na cama, sentindo o peso da responsabilidade que carregava.

A palavra "transplante" ecoava em minha mente. Era uma realidade que eu estava tentando evitar, mas que agora estava clara e presente. As prioridades se reorganizavam à medida que eu me via cada vez mais próxima da necessidade de um transplante. O medo e a ansiedade que haviam sido apenas sombras agora se tornavam uma parte intrínseca da minha vida.

Quando Dr. Sloan finalmente terminou e se preparava para sair, ele me lançou um último olhar de advertência.

- Não se esqueça, Sofia. Sua saúde deve ser a prioridade. E, por favor, siga as instruções. Nós estamos aqui para ajudá-la, mas você também precisa colaborar.

Eu o observei sair do quarto, e o silêncio que se seguiu foi quase opressor. A realidade de minha situação estava mais clara do que nunca, e o desejo de normalidade que eu havia buscado parecia distante. O medo do desconhecido e a incerteza sobre o futuro eram esmagadores, mas eu sabia que precisava encontrar a força para enfrentar o que estava por vir.

Sentei-me na cama, sentindo um nó na garganta. A preocupação com o que Lucas poderia estar planejando misturava-se com a preocupação sobre o meu estado de saúde. Eu queria estar presente e participar de tudo, mas a realidade me lembrava constantemente das limitações impostas pela minha condição.

A noite avançava, e eu estava presa entre a necessidade de aceitar o que estava acontecendo e o desejo de escapar dessa realidade.

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