30

6 2 1
                                    

Lucas Evans

North Hills, Califórnia.

A dor no peito me consumia, mas a raiva era maior. O medo que sempre me rondava, desde o diagnóstico de câncer, estava ali, pulsando dentro de mim, alimentado pela traição de Sofia. Eu sempre achei que estávamos juntos nisso, que podíamos enfrentar tudo. O câncer era um monstro à parte, mas nós éramos uma equipe, ou pelo menos eu pensava assim.

Mas agora, ao vê-la ali, frágil, deitada naquela cama de hospital, tudo que eu conseguia sentir era o peso da decepção. Cada batida do meu coração parecia ecoar com a pergunta: "Como ela pôde me esconder isso?"

Quando entrei no quarto, as palavras saíram antes que eu pudesse processá-las. Eu não me importava com o quão frágil ela parecia. Eu não queria sentir pena. Só queria respostas.

Sofia, como você pôde me esconder isso?

Gritei, minha voz transbordando a fúria que eu vinha acumulando. O rosto dela estava pálido, suas mãos tremiam levemente, mas naquele momento, nada disso importava.

Ela piscou, surpresa, e seu olhar desesperado me atingiu como um soco.

— Lucas, eu...

— NÃO!— interrompi, a raiva crescendo a cada segundo.

Você tem cardiomiopatia e não achou importante me contar?

— O que você estava pensando?

Minha voz ecoava no quarto vazio, cada palavra soava como uma acusação. E talvez fosse isso mesmo. Eu me sentia traído, como se tudo entre nós fosse uma mentira.

Ela respirou fundo, tentando conter as lágrimas que já ameaçavam transbordar.

— Eu não queria te preocupar! — sua voz falhou um pouco, mas ela continuou, mais firme.

— Você já está lidando com o câncer, Lucas! Eu não queria ser mais um peso para você.

Aquelas palavras me atingiram com força. "Um peso." Eu nunca a veria assim.

— Um peso? — gritei de volta, sentindo uma mistura de dor e raiva.

— Você acha que esconder isso de mim é melhor? Você acha que eu não merecia saber? Somos namorados, Sofia! Eu tinha o direito de saber!

Ela soluçou, as lágrimas finalmente caindo livremente.

— Eu estava com medo... medo de te perder... Sua voz soava pequena agora, quase inaudível.

— Medo de me perder? — repeti, incrédulo. A ironia me atingiu em cheio. Ela tinha se afastado exatamente por isso, por medo. Mas ao esconder isso de mim, ela não percebia que estava nos separando mais do que qualquer doença jamais poderia?

Minha voz tremeu quando respondi, tentando controlar o turbilhão de emoções.

— Você acha que esconder isso é proteger? Isso é afastar, Sofia. Isso é me excluir.

Ela olhou para mim, seus olhos cheios de arrependimento, mas eu estava perdido em meus próprios sentimentos. Como ela podia ter guardado algo tão importante? O medo de me perder não justificava esse tipo de segredo. Eu achava que éramos parceiros, que enfrentávamos tudo juntos. Mas agora parecia que havia uma parede invisível entre nós.

— Eu só... eu só não queria te sobrecarregar... — sua voz soava quebrada, e as lágrimas escorriam pelo rosto pálido.

Meu peito doía mais do que nunca, não só fisicamente, mas emocionalmente.

— Sofia, você deveria ter confiado em mim. Nós estamos nisso juntos. Você sabia de tudo sobre mim, sobre cada luta que eu enfrentei com o câncer. Eu te confiei tudo, e você me deixou de fora. Como posso confiar em você agora?

Ela chorava de verdade agora, as lágrimas escorrendo sem controle, e embora eu odiasse vê-la assim, não conseguia afastar a raiva e a dor.

— Eu preciso de um tempo, Sofia, — soltei as palavras com dificuldade. Não queria dizer aquilo, mas não havia mais nada a ser feito. Eu precisava de espaço para pensar, para processar. Eu me virei para sair, e foi então que tudo desabou.

A dor no meu peito, que eu vinha ignorando durante a discussão, explodiu com força total. Era uma dor aguda, como se algo estivesse me perfurando por dentro. Soltei um gemido, minhas pernas falharam, e o chão pareceu desaparecer sob meus pés.

Caí de joelhos, minhas mãos indo automaticamente ao peito, tentando conter a dor que se espalhava como fogo. Minha visão começou a escurecer, e ouvi Sofia gritar.

— LUCAS!

Sua voz parecia distante, como se viesse de outro lugar, de outro mundo. Tudo ao meu redor se tornava borrado, confuso. O peso da discussão, da raiva, do medo... tudo se misturava com a dor física que agora tomava conta de mim.

O último pensamento que tive antes de tudo se apagar foi o de que, de algum jeito, eu estava falhando com ela, assim como ela tinha falhado comigo.

Sofia Clark

Eu nunca o tinha visto assim. A fúria no olhar de Lucas me atingiu com mais força do que qualquer palavra que ele pudesse dizer.

Eu sabia que o momento em que Lucas descobrisse sobre minha condição chegaria. A tensão no ar quando ele entrou no quarto era palpável. Sua expressão era de uma fúria que eu nunca tinha visto antes, e isso me fez sentir um frio na espinha.

— Sofia, como você pôde me esconder isso? — ele gritou, sua voz tremendo com a raiva e a dor.

Eu tentei encontrar palavras para me explicar, mas a culpa me paralisava. Cada tentativa de formar uma resposta parecia inadequada. Eu sentia que, apesar das minhas intenções, nada poderia justificar minha omissão.

— Lucas, eu... — minha voz falhou, e as lágrimas começaram a escorregar pelo meu rosto.

Ele não me deu a chance de terminar. — Você tem cardiomiopatia e não achou importante me contar? O que você estava pensando?

Cada palavra dele era como um soco no estômago. Eu sabia que o que eu tinha feito era errado, mas o peso das minhas decisões parecia esmagador.

— Eu não queria te sobrecarregar! — tentei dizer, minha voz quase um sussurro. — Você já está lutando contra o câncer, Lucas. Eu não queria ser um fardo a mais.

Minha tentativa de explicar parecia não fazer diferença. Ele parecia não conseguir entender por que eu havia escolhido o silêncio em vez da honestidade. Eu vi o desgosto em seus olhos, e isso foi o mais doloroso.

— Um peso? — ele repetiu, sua voz carregada de dor. — Você acha que esconder isso é melhor? Somos namorados, Sofia. Eu tinha o direito de saber.

Eu vi a frustração e a decepção crescerem nele, e isso me destruiu. Eu só queria que ele soubesse que eu não agi por mal, mas, de alguma forma, isso não era suficiente para corrigir o erro.

— Eu estava com medo... medo de te perder. — As palavras saíram entre soluços, a dor de saber que havia causado sofrimento a alguém que eu amava era insuportável.

Quando ele se afastou, eu vi a mudança repentina em sua expressão. Ele parecia fraquejar, como se o peso das palavras e da dor fosse demais para suportar. E então, ele caiu de joelhos, sua respiração ofegante e seu rosto distorcido pela dor.

— LUCAS! — gritei, correndo até ele, mas a sensação de impotência era esmagadora. Eu não sabia o que fazer, a dor no meu peito era tão intensa quanto a dele.

Se eu soubesse que aquele momento seria a última vez que o veria, eu teria agido de maneira diferente...

O arrependimento era doloroso, e a consciência de que o tempo havia se esgotado me consumia.

Coração em Colapso Onde histórias criam vida. Descubra agora